Depois de 5 anos, moradores do Mandela comemoram aviso sobre fim da favela
Prolongamento da Avenida Norte Sul irá ocupar espaço que, hoje, é da favela
“A gente já pode começar a desmontar os barracos?”. Sem ainda saber o destino, uma das crianças da Favela do Mandela não conseguiu tirar o sorriso do rosto ao saber que os moradores da comunidade serão reassentados em outro local. De acordo com a prefeitura de Campo Grande, o prolongamento da Avenida Norte Sul irá substituir as paredes improvisadas por asfalto.
Mãe de seis filhos, Franciele Gabriela Argilar não conseguia tirar as mãos do rosto ao pensar sobre a mudança. “Se eu pudesse, ia gritar, porque não tem como explicar. A gente vai ter uma moradia. Quero ter orgulho de pagar água, pagar luz. Ninguém merece morar num lugar desse aqui, ainda mais com criança”, diz.
Relembrando os últimos anos, Franciele conta que, há tempos, os moradores do Mandela esperam por boas notícias. “Ninguém gosta de morar aqui, mas não temos condição de sair e pagar um aluguel caro, todas as outras contas. Agora a gente vai ter oportunidade”.
Líder da favela, Greiciele Naiara Ferreira, de 26 anos, explica que já chegou a ir para o hospital devido à ansiedade com a possibilidade de deixar os barracos no passado. “Quando imaginei que isso pudesse acontecer, tive uma crise de ansiedade e precisaram me levar para o hospital. É um sonho. Aqui, a gente não tem casa de alvenaria, imagina ter isso?”, relata.
Morando na comunidade há quatro anos, ela destaca que viver por ali, tem sido manter o sonho de conseguir uma nova vida. “Quando vieram fazer o cadastro dos moradores e a gente falou que talvez tivesse essa chance de mudança, o povo começou a chorar. É uma alegria, porque é difícil morar aqui, ficamos por necessidade”.
A gente não tem saneamento básico, sempre tem queimada, não temos energia regularizada. Ninguém quer continuar aqui, vai ser um pouco mais difícil, mas vamos ter mais dignidade, Greiciele explica.
Emocionada, Sandra Micaela dos Reis Araújo, de 33 anos, relembrou que o filho aprendeu a andar nas ruas improvisadas da comunidade. “Ele tinha três meses, hoje tem cinco anos. Não tem coisa melhor do que pensar que eu vou ter uma casa minha, ainda mais com meus filhos”.
Pensando na saúde, ela explica que seus dois filhos têm problemas respiratórios e conviver com terra, frio e incêndios frequentes aumentam o desejo de sair da favela. “As pessoas perguntam o motivo da gente não sair daqui, é que a gente não consegue mesmo. Agora, a gente vai ter uma casa. É muito gratificante”, diz.
Até o momento, não há previsão de datas para a realocação das famílias, mas conforme informado pela Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários), todos os moradores da comunidade já foram cadastrados. Já a nova localização que será destinada ao reassentamento, não é divulgada por motivos de segurança.
Novos caminhos - Nesta segunda-feira (16), a prefeitura de Campo Grande divulgou que a favela se tornará um novo caminho. Ainda em 2021, serão licitadas as obras para o prolongamento da Avenida Norte Sul até o Bairro Nova Lima.
A obra de prolongamento será iniciada no cruzamento com a Rua Pintassilgo, no Morada Verde, e seguirá até a Marquês de Herval. Por isso, as famílias da Favela do Mandela serão retiradas do local e reassentadas.
Para as obras, há um investimento de R$ 20 milhões, assim será possível atravessar o centro da Capital e chegar até a Avenida Campestre, no Aero Rancho.