Dívidas, falta de sede própria e até chuva nos ensaios afetam escolas
Agremiações do grupo de acesso que recebem menos verba contornam obstáculos para sobreviver
Se está cada vez mais difícil para as tradicionais escolas de samba de Campo Grande desfilarem na avenida, pela falta de apoio financeiro principalmente, para agremiações pequenas, que também recebem bem menos recursos, fazer bonito na passarela pode ser ainda mais desafiador.
É o caso da escola do grupo de acesso Unidos do Aero Rancho, que não conseguiu levantar recursos suficientes para bancar o Carnaval este ano. Somando o custo para confecção das fantasias, pagamento de pessoal como costureiras, contratação de guincho para transporte dos carros alegóricos, ônibus para levar integrantes aos ensaios e mesmo para a avenida Alfredo Scaff, nesta segunda-feira (27), a agremiação herdou uma dívida de mais de R$ 10 mil.
“Faltou dinheiro para pagar o serralheiro e ele não entregou um dos carros alegóricos para o desfile. Entramos na avenida com apenas dois carros e remodelamos as alas para tampar o 'buraco'. Fomos prejudicados pela falta de verba”, reclama Helena Regina Moraes de Souza, 46, diretora da Comissão Carnavalesca da agremiação.
O único recurso que as escolas de samba receberam neste ano veio do Governo do Estado, que repassou cerca de R$ 18 mil para cada uma das duas agremiações do grupo de acesso da Capital.
“Não foi o bastante. Também não tivemos condições, por exemplo, de comprar materiais, principalmente os que têm brilho, porque são mais caros. Tivemos de reaproveitar fantasias de carnavais passados”, conta.
A escola foi fundada em 1991 e possui 150 integrantes. Eventos sociais são promovidos durante o ano, mas não arrecadaram o suficiente para evitar o endividamento.
Falta de espaço e chuva - Orçamento apertado, falta de espaço para ensaios e até intempéries climáticas são alguns dos obstáculos enfrentados pelos pouco mais de 200 integrantes da Escola Unidos do São Francisco.
Fundada em 1990 por Ale Mahmud Tlaes, 63 – presidente da escola desde então – a agremiação do grupo de acesso não possui local próprio para reunir os componentes.
“Nossos ensaios sempre foram realizados pouco antes do Carnaval, numa área na rua 14 de julho quase esquina com a Euler de Azevedo. Eles aconteciam debaixo de um conhecido pé de manga da região, que secou e foi retirado há uns quatro anos. Agora, outros grupos culturais estão utilizando o espaço para realizar eventos praticamente toda semana e, quando isso acontece, ficamos sem ensaiar”, lamenta.
Quando não é o espaço sendo ocupado, é a chuva que atrapalha as reuniões. "Não temos cobertura e somos obrigados a cancelar os ensaios quando chove. Contornar tudo isso exige um grande esforço para que o nosso desempenho não seja prejudicado. O importante é que a comunidade é apaixonada e envolvida”, acrescenta, fazendo questão de dizer que a escola cumpre uma função social, oferecendo aulas de música e dança para crianças e jovens, tirando-os das ruas.
As fantasias são confeccionadas em um barracão da Avenida Tamandaré, de propriedade de Ale, mas os ensaios não acontecem lá devido à proximidade com um Seminário Diocesano.
Para levantar recursos, os dirigentes promovem pequenos eventos meses antes do Carnaval, sendo que a maior parcela da verba é oriunda do poder público. Conforme Ale, o custo médio do desfile gira em torno de R$ 30 mil.
A meta para 2017 é conseguir tendas para a chuva não mais interferir nos ensaios. “Aos poucos vamos melhorando. Queremos voltar para o grupo especial. Você viu o desfile ontem? Estava bonito, né? Será que a gente consegue?”, indaga otimista, durante a reportagem.