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Capital

“Dói na alma”, dizem catadores que viram o sustento ser palco de tragédia

Paula Maciulevicius e Viviane Oliveira | 29/12/2011 17:16
Pelas informações levantadas até o momento, Maikon Correia de Andrade, viveu a tragédia onde ele e dezenas de crianças faziam de quintal. (Foto: João Garrigó)
Pelas informações levantadas até o momento, Maikon Correia de Andrade, viveu a tragédia onde ele e dezenas de crianças faziam de quintal. (Foto: João Garrigó)

Ninguém esperava. Ninguém queria encerrar o ano de 2011 com essa cena: o corpo de uma criança de 10 anos sendo depositado em uma urna depois de 20h de buscas. Pelas informações levantadas até o momento, Maikon Correia de Andrade, viveu a tragédia onde ele e dezenas de crianças faziam de quintal. Entre brincadeiras de meninos, a tragédia de um desmoronamento, anunciada ou não, trouxe à tona a realidade de quem tira dali o sustento.

Na idade ela é jovem, mas a experiência de vida passa os 19 anos de nascença de Débora Campos. A menina mulher mora na Cidade de Deus, com as duas filhas pequenas, de 2 anos e 9 meses.

No lixão ela ganha R$ 50 por dia, mas não quer ficar ali. “Quero parar para os meus filhos não terem que ir nesse caminho”, diz.

O pensamento já acompanhava a catadora e mãe antes de saber que o lixão foi palco do fim da vida de um menino. “Dói na alma o que aconteceu com essa criança. Por mais que não seja filho, nem parente meu, quando eu olho para as minhas, eu lembro disso”, desabafa.

Lembrança que vai acompanhar essa e tantas outras mães.

“Dói na alma o que aconteceu com essa criança. Quando olho para as minhas, eu lembro disso”. (Foto: João Garrigó)
“Dói na alma o que aconteceu com essa criança. Quando olho para as minhas, eu lembro disso”. (Foto: João Garrigó)

Mesmo com o dinheiro pago por dia, Débora é uma das exceções, não pretende ficar no lixão. “Se Deus quiser eu vou conseguir um emprego no terminal Aero Rancho, já entreguei currículo, uma amiga minha que trabalha lá vai me ajudar. Eu vou entrar e largar essa vida”, conta.

Questionada se o cenário não era triste, ela só respondeu “não, é perigoso. O sol, calor, combustão o tempo todo, isso incomoda muito. Meu desejo hoje é que meus filhos nunca trabalhem num lixão”.

Débora tem história que merece uma página inteira. E uma delas não é nada bonita de se contar. Segundo a catadora, desde que um supermercado de grande porte começou a jogar coisas no lixão, a criançada briga por comida.

“Eles jogam mortadela, presunto, carne, frango. Sai até briga entre as crianças por causa disso”.

Segundo ela, os frios são justamente o que atrai um número cada vez maior de meninos.

E são esses os alimentos que vão para a panela de Débora. Sem receio algum, meio catado em meio a toneladas de tudo quanto é tipo de lixo. “Eu fervo, eles não são estragados, só estão em cima do vencimento”.

Distante e ao mesmo tempo perto. Quem vive no lixão enxerga o drama de outro ângulo. (Foto: João Garrigó)
Distante e ao mesmo tempo perto. Quem vive no lixão enxerga o drama de outro ângulo. (Foto: João Garrigó)

Cristiane Caetano, 27 anos, é outra catadora que compartilha a mesma justificativa que Débora, para o aumento da criançada. Quem já chegou a tirar R$ 300 ao dia, trabalhando 24h de segunda a segunda.

Sobre o acontecido, ela diz “todo mundo sabia que a qualquer momento uma desgraça dessas ia acontecer. Quando eu fiquei sabendo, o sentimento foi de tristeza, porque é lugar que você trabalha, tira seu sustento”.

Com todo o episódio, durante esta quinta-feira, Paulo Henrique dos Santos Rui, 19 anos, continuava trabalhando. Sai do Tarumã até o lixão.

“Quanto maior o tempo que ficar trabalhando aqui, mais dinheiro você vai ganhar. Não tem o que dizer, infelizmente as pessoas que estão trabalhando hoje, não é que não estavam sentindo, mas é que este é o sustento deles”.

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