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Capital

Em balada gay, jovens desconhecem homofobia, mas temem violência

Paula Vitorino | 07/05/2011 12:20
Entrada de boate, em noites de quinta-feira. (Fotos: João Garrigó)
Entrada de boate, em noites de quinta-feira. (Fotos: João Garrigó)

Em Campo Grande, a violência gratuita e preconceituosa por conta da homofobia choca e coloca em foco esse tipo de problema.

Depois de um jovem ser espancado no dia 15 de abril, ao sair de uma boate na rua 15 de Novembro, a reportagem do Campo Grande News foi até algumas casas noturnas com festas voltadas para o público GLS para conversar com as pessoas que frequentam essas festas, e saber deles, se existe o preconceito muitas vezes acompanhado da violência, mas que não chega até as delegacias.

“Comigo nunca aconteceu nenhum tipo de agressão ou violência e também não conheço alguém que passou por isso. Até agora, acredito que este tenha sido um caso isolado”, disse o estudante Henrique A., de 18 anos.

A afirmação é feita pela maioria dos entrevistados, que ainda declararam acreditar que Campo Grande não seja uma Capital homofóbica, apesar de sentirem que existe, sim, o preconceito, mas de forma velada, que não chega a violência.

No entanto, apesar dos próprios homossexuais afirmarem não existir homofobia, apenas a minoria concordou em fornecer o nome completo e permitir foto para a reportagem, alegando querer evitar “escancarar a opção sexual”.

Violência - O jovem Paulo, de 27 anos, acredita que Campo Grande ainda seja uma cidade “pequena, onde o preconceito radical contra determinados grupos ainda não existe". Mas ele e os amigos se dizem preocupados com a possibilidade de agressões homofóbicas tornarem-se freqüentes na Capital.

“Até agora não é uma coisa que a gente tem sentido aqui, mas com o crescimento da cidade pode ser que aconteça. Até por sermos um Estado com a cultura do chucro, machista, a discriminação sexual não é tão grande como em outras capitais. A gente vê que cidades maiores essa radicalidade é maior”, diz.

Os homossexuais entrevistados ainda ressaltaram que a violência gratuita está crescendo na Capital, mas em todos os grupos e camadas sociais. “Essa violência está acontecendo não só com os gays, mas com todos, em todo o Estado”, declarou o turismólogo Walner Espíndola, de 40 anos.

Em seis anos, o Centhro (Centro de Referência de Homofobia) tem apenas 50 processos administrativos, abertos com base na Lei Estadual 3.157/05, sobre medidas de discriminação por conta da orientação sexual que aguardam julgamento.

Grupos - Para o projetista de móveis, de 25 anos, que não quis se identificar, “para ser gay hoje, você tem que respeitar certas normas”. Ele afirma que existem baladas e locais específicos para o público gay e outros para os heterossexuais, assim como comportamentos que culturalmente ainda não são aceitos.

Mas o projetista não acredita que essa separação seja uma forma de preconceito ou uma regra, mas sirva para atender melhor seu determinado público.

“Acho até bom que as coisas sejam separadas, porque aí você saí sabendo o que quer e o que vai encontrar lá. Não tem o problema de ir numa balada e sair descontente”, afirma.

No entanto, o jovem ressalta que nada impede de que um homossexual freqüente um bar ou uma casa noturna com a maioria hetero, mas é necessário que haja respeito mútuo entre os diferentes grupos.

“Também vou em outras baladas e nunca tive problemas. É claro que para cada ação existe uma reação, então se eu mexer com um rapaz que não tenha a mesma opção que eu de forma inconveniente corro o risco de arrumar confusão, mesmo”, diz.

Para o turismólogo Walner, algumas situações ainda não são aceitas na sociedade por uma questão cultural. “Ver dois homens se beijando ainda agridi, não é uma coisa normal. Mas dentro das próprias baladas gays existe um respeito, nós temos nossos preconceitos também”, diz.

O reconhecimento da união estável homoafetiva em todo o país, nesta quinta-feira (6), pelo STF (Supremo Tribunal Federal) também já é tida como mais uma conquista.

“Falta muito ainda, mas já foi uma conquista. Infelizmente ainda tem algumas pessoas que não aceitam, que são preconceituosas, mas isso tem em todo lugar”, disse o projetista.

A delegada que cuida do caso de agressão ao estudante de Artes Visuais, Daniella Kades, declarou na época que outros casos semelhantes até poderiam existir, mas não chegavam ao conhecimento da polícia, pois não são registrados por medo ou falta de conhecimento das vítimas.

A Polícia Civil ainda informou que outros casos de violência motivados pelo mesmo preconceito não foram registrados após o incidente.

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