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Capital

Enquanto pedreiro reforma casa, filhos de Cira vivem em casebre com o avô

Família de mulher, morta em 2015, viveu em cárcere privado por 22 anos junto com os filhos

Bruna Kaspary | 19/09/2017 13:49
Acima: Casa do cárcere em reforma. Abaixo: Casa em que crianças moram.
Acima: Casa do cárcere em reforma. Abaixo: Casa em que crianças moram.

Depois de passarem a maior parte de suas vidas presos pelo pai dentro de casa junto com a mãe, três dos 4 filhos de Cira dos Santos, que morreu em 2015 vítima de um câncer, vivem em uma pequena casa, que pertence ao do avô materno, com outras seis pessoas, no bairro São Francisco. Do outro lado da cidade, no Aero Rancho, o pedreiro Angelo da Guarda Borges, de 60 anos, está reformando a residência onde a família viveu trancafiada.

A esperança do avô que vive com os herdeiros de Cira é melhorar a moradia com a ajuda da indenização que, dois anos depois da morte de Cira,  foi definida pela Justiça, pelos danos morais causados pelo pedreiro. O valor pedido pela Defensoria Pública na época, de R$ 100 mil, já foi aceito pelo juiz que avaliou o caso, mas a decisão ainda cabe recurso, de acordo com a defensora Graziele Carra Dias Ocáriz, que desde o início amparou Cira e sua família.

Mesmo ainda sem saber quando, ou até mesmo quanto, vai receber, Adão Sabino da Silva, avô das crianças e pai de Cira, já faz planos. "O dinheiro deles, para mim, não interessa. Quero, quando eu morrer, ver eles bem", afirma. Adão quer fazer uma reforma na casa onde mora com os netos. "Quero melhorar o ambiente que eles moram".

De acordo com a defensora Graziele, a família foi amparada de diversas formas durante esses anos. "Houve situação de nossa equipe multidisciplinar fazer reunião com todos os serviços que são prestados nos bairros onde eles moram e marcar consulta para cada um deles". Ela lembra que o trauma causado em todos foi muito grave. "As crianças lembram de todas as agressões. A Cira dizia que não enxergava de olho por conta de uma violência sofrida por ele".

Casa do cárcere em reforma. (Foto: Mariana Pacheco)
Casa do cárcere em reforma. (Foto: Mariana Pacheco)
Crianças moram em casa do avô (Foto: Bruna Kaspary)
Crianças moram em casa do avô (Foto: Bruna Kaspary)

Contradição - Enquanto as crianças estão em morando em uma casa pequena entre nove pessoas, o domicílio em que a família ficava durante o cárcere está passando por uma grande reforma. A equipe do Campo Grande News foi até o local e encontrou a residência vazia e em completa reforma.

De acordo com os vizinhos, Ângelo da Guarda Borges ainda é proprietário da casa, e assim que foi solto voltou à residência, mas atualmente ele está morando em outro lugar enquanto não termina a obra.

O Cárcere - Cira ficou presa dentro de casa por 22 anos, sendo que ela e os quatro filhos do casal não podiam sair e eram constantemente agredidos. Em 2013, através de uma denúncia anônima, a polícia descobriu o caso e resgatou a família.

Conforme depoimentos de vizinhos, não era possível saber que acontecia algo dentro da casa, já que não se ouvia barulhos de brigas ou choros. Alan Kardec Rodrigues, 60, é catador de recicláveis e lembra que sempre teve um bom relacionamento com o vizinho. "Ele até me ajudava com a reciclagem aqui. Quando ele bebia que ficava xarope mesmo, mas só com a família".

O aposentado Roberto Venturoso, 68, é vizinho de muro de Borges, e confirma que nunca escutou nada que pudesse considerar anormal. "A gente não ouvia nada, quem fazia barulho eram as crianças brincando". Ele também confirma que não havia uma intimidade entre os dois, mesmo sendo vizinhos. "Ele era muito fechado, não tinha amizade com ninguém. Não dava para saber o que acontecia lá dentro".

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