Epidemia continua avançando, mas combate à dengue é tímido na Capital
Sem programação de mutirões de combate à dengue em Campo Grande, o número de notificações da doença já chega a 262 novos casos por dia desde o início do ano. Em apenas 75 dias – entre 1º de janeiro e 15 de março – são 19.694 casos notificados.
Enquanto os números aumentam, as ações de combate diminuem. Desde o dia 25 de fevereiro a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) não divulga a realização de mutirões na Capital. No site da Prefeitura, a última ação de combate realizada aconteceu há 23 dias, no residencial José Maksoud e no bairro Nova Lima.
Um supervisor de combate à dengue, do CCEV (Coordenadoria de Controle de Endemias Vetoriais), ouvido pelo Campo Grande News, afirmou que os mutirões não acontecem mais. “O controle da dengue não acabou, mas também não é feito nada de diferente, extraordinário. A visitação de casa em casa feita pelos agentes continua. Mas ações especificas em áreas de grande infestação, como aconteceu no Guanandi, acabaram”, disse o responsável, que não terá o nome divulgado na reportagem.
Outro supervisor confirmou que cada agente, responsável entre 800 e 1 mil imóveis, atua apenas em sua própria área. “Esta normal, cada um no seu local de atuação mesmo. Não tem mutirão”.
Exército - Até mesmo a participação do Exército nas ações diminuiu. No dia 16 de fevereiro, quando começou um mutirão com apoio dos militares no Bairro Guanandi – que durou quatro dias – os soldados foram escalados para auxiliar no trabalho. Porém a ação foi a única com a participação do Exército, que continuam apenas a realizar a coleta de pneus.
“São oito equipes com 80 militares que trabalham na coleta de pneus em toda a cidade. Além disso, mantemos as tendas nas unidades de saúde do Universitário, Vila Almeida e Guanandi”, disse o tenente-coronel Humberto Bortoletto, que coordenou a participação do Exército no mutirão.
Nas três unidades de saúde foram instaladas cinco tendas, que atenderam 4 mil pessoas. Mas o convênio com o Exército está previsto para terminar no dia 30 de março, com isso o recolhimento dos pneus e o funcionamento das tendas deve terminar. “Vamos ter uma reunião nos próximos dias para definir se haverá necessidade de prorrogação por conta da epidemia”, afirmou Bortoletto.
Enquanto os responsáveis pela atuação direta no combate a proliferação do mosquito Aedes aegypti – que transmite dengue, zika e chikungunya – confirmam que as ações deixaram de acontecer a própria Sesau tem dificuldades em informar sobre os mutirões. A assessoria de imprensa do órgão, procurada pela reportagem, informou ter solicitado os dados para o CCEV há dez dias, mas continuava sem informações até esta sexta-feira (18).
Ações - Mas o titular da Sesau, Ivandro Corrêa Fonseca, afirma que as ações continuam. “Hoje (18) é feita blitz educativa na região do Serradinho. Ontem (17) foi na região da mata do Segrego, Vila Margaria, Educandário Getúlio Vargas e Autonomista”.
Porém no Serradinho, apenas uma blitz educativa foi realizada hoje (18) durante apenas uma hora e meia – das 8h às 9h30 – na Avenida Duque de Caxias, com a participação de aproximadamente 20 pessoas – entre servidores da UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família), agentes da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) e do Detran-MS (Departamento de Trânsito de Mato Grosso do Sul). Os agentes de trânsito auxiliaram no controle do tráfego e aproveitaram também para orientar os motoristas.
Keila Cristina da Silva, 37 anos, mora no Bairro Nova Campo Grande e passou pela blitz, ela disse aprovar a ação, mas aproveitou para criticar. “Moro em frente a praça e o mato está alto. Os moradores entram em contato com a prefeitura e nada é feito. As pessoas tem que fazer sua parte. Mas o Poder Público não está cumprindo a tarefa”.
O gestor da UBSF do Serradinho, Celso Chaia, afirmou a unidade atende moradores da Nova Campo Grande, Vila Eliane, Jardim Carioca e do Residencial Nelson Trad. “É uma região onde tem muita água natural e esteve no topo dos casos de dengue, por isso estamos fazendo a ação aqui”.
O agente de saúde Adriano Galeano, 26 anos, participou da ação vestido de mosquito da dengue e deu sua opinião sobre melhorias no trabalho de combate ao vetor. “Recebemos muitas reclamações da comunidade, pois estamos em contato direto com as pessoas. Quem sempre cuidou da casa continua cuidado, assim como quem não cuida, continua não fazendo. O processo para multar é muito demorado, se os agentes tivessem mais autoridade na hora de cobrar talvez as pessoas respeitariam”.
Os dados utilizados pela prefeitura para monitoramento dos bairros com maior índice de infestação do Aedes têm como base apenas as notificações e relatórios feitos pelos agentes, já que o último LIRA (Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti) foi divulgado em novembro e o próximo estudo previsto pra este mês, conforme cronograma do Ministério da Saúde, ainda não saiu.
Dados - Campo Grande registra este ano 19.694 notificações com 466 confirmações de dengue. O número é 36% superior do que o total de notificações durante todo o ano passado, quando foram registradas 14.450.
Já as notificações de zika vírus aumentaram 380%, passando de 56, na primeira semana de março, para 269 na segunda semana do mês. A Sesau acompanha 310 gestantes, das quais 50 estão positivas para zika, mas, não há novas gestantes em acompanhamento. Todos os casos são de 2015 e até fevereiro deste ano.
Os casos de febre chikungunya são 169 – 98 em janeiro, 59 em, fevereiro e 12 em março. No boletim anterior, eram 143 notificações.