Bairro dos ferros-velhos quer acabar com maus exemplos contra dengue
No Bairro Guanandi, em Campo Grande, região conhecida por abrigar aproximadamente 15 ferros-velhos, os donos tentam acabar com o título de “mau exemplo” e trabalham para combater os criadouros do mosquito Aedes aegypti – transmissor da dengue, zika e chukungunya.
Pelo menos um dos ferros-velhos já funciona de forma diferenciada. No Ferro-velho do Bola, 90% dos quatro terrenos do comércio é coberto, o que evita acúmulo de água da chuva e formação de possíveis criadouros do mosquito. Lá tudo é limpo, organizado e separado, e nada lembra alguns dos ferros-velhos do bairro, que mais parecem depósito de entulhos.
José Augusto Marcolino, 48 anos, proprietário do ferro-velho, está no ramo de venda de peças usadas – como prefere nomear a atividade – há 32 anos, e já teve dengue duas vezes e no mês passado foi diagnosticado com zika.
“Eu sempre cuidei do meu espaço. Tudo que chega aqui é limpo e separado. Por ter a maior parte da loja coberta não temos problemas de depósito de água da chuva, então os criadouros do mosquito não existem aqui. Cuidamos muito. Mesmo assim eu e minha esposa tivemos zika dias atrás”.
O comércio é bem cuidado, e em toda a extensão do terreno onde funciona não existe espaço para criadouros do mosquito da dengue. Todos os itens são organizados, o ambiente é limpo e livre de acúmulo de água, onde o mosquito da dengue se prolifera. “O bairro tem muito mosquito mesmo, é um problema gravíssimo. Todos temos que nos conscientizar, cada um tem que fazer sua parte. A maioria dos donos de ferro-velho estão se adequando”, afirmou Marcolino.
O presidente do Sindicato dos Proprietários de Ferros-velhos, Alberto Garcia Rocha, 43 anos, afirma que a maior preocupação agora é acabar com os maus exemplos. “Queremos que todos os ferros-velhos sejam cobertos, principalmente por causa do mosquito da dengue, que é um grande problema. O comércio agora é específico para desmontagem e comercialização de peças usadas, e não para sucada e entulho”.
Em toda a cidade são 42 ferros-velhos regularizados, com alvará e autorização de funcionamento. “Queremos que todos sejam legalizados, mas é preciso cumprir a lei”, disse Rocha.
O presidente da Associação de Moradores do Guanandi, Leondas Delmondes, afirma que bons exemplos de ferros-velhos existem, mas os que não contribuem também. “Desde que assumi a associação, há três anos, trabalho para organizar os ferros-velhos, alguns já estão dez. Sabemos que tem muito mosquito no bairro, mas não é culpa só disso. Os locais vão ser cobertos e vai ajudar a controlar a proliferação, mas todo mundo tem que fazer sua parte”.
Problema – Outro grande problema do bairro é o ferro-velho do Zé Carioca, que ensaiou o fechamento definitivo no dia 2 de março. Mas até hoje (15), duas semanas depois do início da operação encabeçada pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), a desativação do local ainda não aconteceu.
Vizinhos afirmam que a retirada dos materiais da área que ocupa dois terrenos, na Rua Jatobá – entre as ruas Caramuru e Túlio Alves Quito – durou apenas dois dias. “Tiraram uns pneus, ficaram dois dias e só. Continua tudo igual, cheio de entulho e mosquito”, afirmou Johny Mikolet, 30 anos, que mora com a família ao lado do local.
Na ocasião o proprietário do ferro-velho, José Ferreira da Silva, foi preso pela Decat (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Ambientais e de Proteção ao Turista) – acusado de crime ambiental –, mas liberado uma semana depois.
Duas mulheres, que moram no terreno onde funciona o ferro-velho falaram com a reportagem e disseram ser funcionárias de José. “Fomos contratadas para fazer a limpeza do ferro-velho. Moramos aqui porque foi combinado de dar moradia. Mas dois dias depois teve a ação para desativar e agora está tudo parado”, afirmou Dulcicléia Jara, 30 anos.
O coordenador da CCEV (Coordenadoria de Controle de Endemias Vetoriais), ligada à Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Alcides Ferreira, diz que a ação foi paralisada por questões jurídicas. “É preciso resolver a parte jurídica, tem que ser feito dentro da lei. Lá (no ferro-velho) tem materiais de valor, e não podemos chegar e jogar tudo no lixo”.
Ele informou ainda que o local é monitorado, porém a única coisa visível na área é uma faixa amarela da Vigilância Sanitária Estadual. “Essa faixa não impede a proliferação e nem prende os mosquitos apenas do lado de dentro do terreno”, disse Mikolet, que junto com a esposa e o filho de apenas 4 meses já teve dengue este ano.
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