Estação que já recebeu até visita do presidente é retrato do abandono
Moradores ainda esperam por reforma na Estação do Trem do Pantanal
Sinais de abandono por toda a parte em um lugar inaugurado com direto até a visita de presidente da República. A Estação Ferroviária Trem do Pantanal, no Indubrasil, a 15 quilômetros do Centro de Campo Grande, era uma promessa.
Junto com ela veio a expectativa de desenvolvimento de um bairro criado para receber empresas e oportunidades. Mas não foi isso que aconteceu.
Moradores vivem com medo dos dependentes químicos que usam o prédio para dormir ou saquear. A mata ao redor da estação só é bem-vinda para o gado que aproveita o pasto. Dentro do prédio abandonado estão cacos dos vidro jogados no chão, estruturas metálicas retorcidas e banheiros sem privadas ou pias. Além da ausência total de fios, das bocas de bueiros, tampas das tomadas e paredes pichadas.
Irene de Souza, 54 anos, mora no local há mais de 30 anos. À reportagem, ela comentou que quando a estação foi inaugurada, em 2009, com a presença do então presidente da época Luiz Inácio Lula da Silva (PT), houve grande comemoração da vizinhança, pois acreditava-se que o bairro prosperaria.
“Fiquei tão feliz, achei que colocaria algo até pra vender aqui. A gente pensou que iria vingar, até essa rua (Cascatinha) não tinha, abriu, mas virou um nada. A estação é uma tristeza, quebraram tudo, roubaram até a grade do portão. Parou um caminhão esses dias e levaram de dia. Agora só serve pro pessoal vir caminhar”, disse.
A cuidadora de idosos também ressaltou que a depredação do local começou logo após a suspensão das atividades. “Depois que fechou a estação já começou a roubar, entrar gente pra usar drogas. Acabaram com tudo, colocaram fogo na estação de lá do trilho. Lá era a antiga. O Lula veio e fez o outro lado, ficou bonito”, comentou.
Fernanda Ramos Cavalcante, de 34 anos, vizinha da Estação Trem do Pantanal, comentou que morava com o pai, quando adolescente, na antiga estação que pegou fogo. Ele trabalhou no local durante muitos anos. “De lá pra cá a estação ficou abandonada. Quando o presidente Lula veio inaugurar isso lotou, era a coisa mais linda. Meu tio era maquinista ali, lotava de gente, acabou que virou até ponto de droga, está tudo pichado e quebraram tudo”, ressaltou.
Ela relembra que quando a casinha da estação, local onde morou com o pai, pegou fogo eles já não estavam mais lá: "Não sei como aconteceu, quando fiquei sabendo estava no centro da cidade, vim correndo ver o que tinha acontecido, mas já não estava morando lá. Ficava só um guardinha na época que pegou fogo. Se acabou, é uma tristeza”.
Esquecimento - Fernanda conta que não sabe a quem recorrer para que a estação seja transformada em algo que a população consiga desfrutar, como creche, posto de saúde ou um local de lazer para as crianças.
“Infelizmente onde eu moro bem no meio, do trilho pra cá é terrenos e do trilho pra lá Campo Grande, então somos abandonados pelos dois lados, estamos totalmente abandonados, não tem ninguém que faça pela gente. A gente que mora aqui e quer uma melhoria, não tem. É triste de ver”.
Responsabilidade - A Superintendência do Patrimônio da União, em Mato Grosso do Sul, informou que a linha férrea e a faixa de domínio da estação são de responsabilidade do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte). A reportagem não conseguiu retorno do órgão para saber se existe alguma previsão de recuperação do local.
Reforma - A reforma do terminal custou R$ 739 mil aos cofres estaduais em 2009. O novo complexo ferroviário foi criado para substituir a então estação central de Campo Grande, desativada em agosto de 2004.
A expectativa era reviver os anos áureos do Trem do Pantanal, que encerrou as atividades com passageiros em 1996. A promessa era que o trem saísse da Capital e passasse por várias cidades até chegar em Miranda, município localizado a 208 quilômetros de Campo Grande.
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