Fechamento do aterro deixa famílias sem trabalho no Jardim Noroeste
Por ordem judicial, o aterro foi fechado no dia 15 de dezembro. Desde então, nem caçambeiros, nem catadores de materiais recicláveis podem entrar no local
“O fechamento disto aqui trouxe problema para todo mundo. Caçambeiro e todas essas famílias que vivem aqui”, resume o pedreiro e serviços gerais Miguel Batista Sobrinho, 39 anos, que por cinco meses trabalhou recolhendo materiais recicláveis no aterro de entulhos do Jardim Noroeste, o único de Campo Grande, fechado desde o dia 15 de dezembro por determinação da Justiça. Segundo os moradores, ninguém entra no local, seja caçambeiro ou catador de recicláveis.
Ao “pé” do aterro foi formada uma favela, com pelo menos 50 barracos. A maioria das famílias trabalhava no recolhimento de materiais e conseguia renda para garantir o próprio sustento. “Trabalhava eu e meus dois irmãos, juntos já tiramos até R$ 250 por semana. É um dinheiro que faz falta”, disse Miguel Sobrinho.
A irmã dele, Maria das Dores Batista, 32 anos, também mora em um barraco e diz com orgulho que foi todo construído com materiais recolhidos do aterro. “Fomos encontrando as coisas e aos poucos construindo, dali também conseguíamos um dinheiro para a alimentação”, contou ela que trabalhava no aterro em companhia do marido. O casal tem três filhos.
Ninguém entra – O catador de material reciclável Anísio Pereira Sérgio, 18 anos, conta que desde o dia 15 de dezembro ninguém está entrando no aterro. No local não há marcas recentes de pneus, que poderiam ter restado após os dias de chuva.
A fumaça que aparece, segundo ele, seria por combustão espontânea. Ela chega a encobrir grande parte da região da saída para Três Lagoas, onde está o aterro, como aconteceu na tarde de segunda-feira (9).
Ele também relata que a situação ficou muito difícil após o fechamento. A estimativa dele é de que cerca de 150 pessoas atuavam no local. “Era uma renda importante, eu tirava de R$ 50 a R$ 60 por dia, trabalhando das 7 às 15 horas. Eu usava o dinheiro para pagar conta e me sustentar”, contou.
Agora, para tentar sobreviver, ele sai com o carrinho pelas ruas do bairro na esperança de encontrar algum material que possa ser vendido ali mesmo próximo ao Noroeste. “O dia que não consigo nada recorro a minha irmã para me alimentar”, disse.
Na leitura de Anísio Pereira, o fechamento do aterro é um inconveniente que atrapalha todo mundo. “Interferiu na vida dos caçambeiros, na nossa vida e da população toda, porque os caçambeiros não têm lugar para deixar o entulho”, disse.
O caso - A interdição do aterro de entulhos no Jardim Noroeste foi determinada no dia 15 de dezembro. Apesar de funcionar por anos sem licença ambiental, o local era o único destino “regular” para as mais de 1,4 mil toneladas de resíduos da construção civil produzidas diariamente na cidade.
Vistoria feita em julho pelo Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) constatou que no aterro há triagem superficial dos resíduos, permitindo ingresso de materiais recicláveis e lixo orgânico.
Autor da decisão, o juiz da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, David de Oliveira Gomes Filho, disse à época que o aterro precisa passar por uma série de adequações, como fechamento no entorno e proibição da entrada de lixo hospitalar.
Por conta da decisão, os caçambeiros ficaram sem ter local para descarregar os entulhos. Nesta terça-feira (10), o prefeito Marquinho Trad (PSD ), em entrevista à TV Morena, afirmou que vai pedir à Justiça a liberação do aterro de entulhos para que sejam despejadas três mil caçambas, que estão cheias e espalhadas pela cidade.
De acordo com o prefeito, a reabertura do aterro aconteceria apenas para o esvaziamento dessas caçambas, e que após isso vai trabalhar para “conscientizar” os caçambeiros de que encontrem um local com licença ambiental para despejo.