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Capital

Fiocruz joga luz sobre deficiência em pré-natal oferecido a indígenas de MS

Amostra revela que gestantes sequer passam por consultas antes do parto

Jéssica Benitez | 06/03/2023 10:17
Estudo mostra indíces preocupantes sobre saúde materna em indígenas (Foto Fernando Frazão/Agência Brasil)
Estudo mostra indíces preocupantes sobre saúde materna em indígenas (Foto Fernando Frazão/Agência Brasil)

Realizado entre novembro de 2021 e agosto passado, estudo feito pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) jogou luz sobre os baixos percentuais de assistência pré-natal às mulheres indígenas do Estado de Mato Grosso do Sul. Em alguns casos, grávidas não passaram sequer por uma consulta antes do parto.

Ao todo, 469 gestantes das etnias Guarani Kaiowá e Terena, residentes em dez municípios, foram acompanhadas pelos pesquisadores, destas apenas 51,5% tiveram acesso ao número de consultas preconizado pelo Ministério da Saúde, 37,2% ficaram no limite do ideal e 11% simplesmente tiveram três ou nenhuma visita obstétrica. Vale ressaltar que 86,1% moram em aldeias e fizeram pré-natal em Unidade Básica de Saúde Indígena.

Fato que, segundo a amostra, reflete nas complicações para a saúde materno-infantil. Além da escassez de auxílio médico, os números revelam que 66,3% iniciaram pré-natal no primeiro semestre de gestação e outros 33,7% no segundo ou terceiro período, pulando exames determinantes para detecção de doenças e síndromes como o chamado translucência nucal, que, citando a grosso modo, mede a quantidade de líquido atrás do pescoço e em caso de excesso aponta possíveis alterações no feto.

Pesquisadora da Fiocruz no Estado, Renata Picoli, responsável pelo estudo, diz que o cenário evidencia dificuldades no acesso ao pré-natal, o que pode sugerir desafios na organização do Sasi (Subsistema de Atenção à Saúde Indígena) para a oferta de cuidado.

"A compreensão das situações de vulnerabilidades sociais vivenciadas pelos povos indígenas do Estado, caracterizadas pelos conflitos territoriais, iniquidades em saúde, podem ajudar a compreender os piores valores de assistência pré-natal", destaca. As participantes da pesquisa passaram por entrevista individual e tiveram os dados da caderneta da gestante analisados.

Partos – A taxa de cesarianas defendida pela comunidade médica internacional desde 1985 é de 10% a 15%, no entanto, nos últimos anos houve crescente neste tipo de parto. Os riscos, tanto durante quando no pós-operatório é ainda maior quando se trata de indígenas. Das 469 acompanhadas, 24,3% se submeteram à cesárea.

"Os riscos podem ser maiores para as mulheres indígenas que vivenciam dificuldades na acessibilidade geográfica e que moram em terras indígenas localizadas em municípios com oferta de cuidados obstétricos limitados”, observou Picoli.

Portanto, os resultados da pesquisa irão subsidiar a análise e discussão da situação da atenção pré-natal e parto das mulheres indígenas, a fim de propor a organização de uma Linha de cuidado à gestante e puérpera indígena. Para tanto, será lançado documentário “Oguata das gestantes e puérperas Indígenas de Mato Grosso do Sul”, produzido pela AJI (Associação de Jovens Indígenas) e Fiocruz sul-mato-grossense.

Acompanhamento – Moradores dos municípios de Dourados, Amambai, Caarapó, Campo Grande, Aquidauana, Miranda, Iguatemi, Antônio João e Tacuru, mães e filho que participaram do levantamento serão acompanhados por novo estudo que terá início ainda no primeiro semestre deste ano. Para isso, os pesquisadores da Fiocruz terão ajuda de pessoas das comunidades indígenas.

Agora a avaliação será acerca da saúde e nutrição das mães e filhos que tiverem menos de dois anos, além do acesso aos programas e serviços com repercussões sobre a saúde. Haverá duas visitas aos participantes do estudo, a primeira quando o bebê completar 12 meses e a segunda aos 24.

O esquema será de entrevista e avaliação sobre o atendimento, bem como averiguar o acesso aos programas de registro civil, transferência de renda e segurança alimentar e de saúde; o levantamento de registros sobre a caderneta da criança e a antropometria (verificação de peso e altura da mãe e da criança) e dosagem sanguínea de hemoglobina da mãe e da criança (anemia), aferição da pressão arterial e dosagem de glicose (sorologia para covid-19, hipertensão arterial e diabetes na mulher).

“Este estudo de acompanhamento é inédito e pode proporcionar resultados sobre as condições de saúde das mulheres e crianças indígenas, a fim de subsidiar políticas públicas adequadas com ênfase nas especificidades da população indígena”, finaliza a pesquisadora.

A reportagem entrou em contato com a Sesai (Secretaria de saúde Indígena) para saber se a pasta está a par da situação e o que será feito, mas ainda não obteve retorno.

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