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Capital

Força-tarefa acusa formalmente Name e filho pela execução de filho de PM

Com base nas investigações, Justiça decretou prisão preventiva de pai e filho, além de outros envolvidos no grupo de milícia

Silvia Frias e Anahi Zurutuza | 27/11/2019 15:00
Força-tarefa acusa formalmente Name e filho pela execução de filho de PM
No pedido de prisão preventiva, força-tarefa aponta autoria do crime a Jamil Name e Jamil Name Filho (Foto/Reprodução)

“As informações (...) compõem verdadeiro arcabouço probatório que demonstra o nascedouro da ordem para que fosse ceifada a vida do Capitão Xavier e, por conseguinte, que vitimou, por erro (...) seu filho Matheus Coutinho Xavier. Os mandantes, indene de dúvidas, são os líderes Jamil Name e Jamil Name Filho!”.

O trecho faz parte do pedido de prisão preventiva formulado por delegados da força-tarefa criada para investigar execuções em Campo Grande, que apontaram, diretamente, Jamil Name e Jamil Name Filho como os responsáveis pela execução do estudante de 20 anos, morto a tiros de fuzil AK47, no dia 9 de abril deste ano.

Em oito meses de investigação deste caso, e um ano após ser criada em razão de outras três execuções, a força-tarefa da Polícia Civil fez a primeira acusação formal de mandantes dos crimes em apuração. Isso aconteceu dois meses após a Operação Omertà foi deflagrada, em 27 de setembro.

O pedido foi aceito pelo juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Aluizio Pereira dos Santos. Ele decretou a prisão preventiva dos empresários Jamil Name, o “Velho”, Jamil Name Filho, o “Guri” e do policial civil aposentado, Vladenilson Daniel Olmedo, o “Vlad”. Eles já estão na cadeia, desde o dia da operação e são réus por crimes que vão de formação de milícia armada, organização criminosa armada, tráfico de armas, extorsão e corrupão de agentes públicos de segurança.

O magistrado também converteu em preventivas as prisões temporárias de José Moreira Freires, 46 anos, o “Zezinho”, Juanil Miranda Lima, 43 anos e do ex-guarda municipal Marcelo Rios, 42 anos. Juanil e Zezinho ainda estão foragidos. Preso na semana passada, em Joinville e até então considerado testemunha-chave do caso, o técnico em informática Eurico dos Santos Mota, 28 anos, também teve a prisão provisória transformada em preventiva.

Eurico, conforme as investigações, foi contratado para rastrear, via celular, a localização do militar alvo da quadrilha e, em depoimento aos delegados, apontou os pistoleiros Juanil e Zezinho como executadores.

"Conjunto probatório" - Os decretos de prisão foram baseados em extenso material anexado pelos cinco delegados que assinam a peça. Desde que a Operação Omertà foi deflagrada, Jamil Name e o filho figuravam como chefes do grupo de milícia formado para execução de diversos desafetos, de “picolezeiro a governador”, sendo “a maior matança da história do MS”, conforme interceptação telefônica de conversa de Jamil Name Filho e a ex-mulher.

Força-tarefa acusa formalmente Name e filho pela execução de filho de PM
Depoimento demonstra nervosismo de Marcelo Rios e admissão do erro na morte de Matheus (Foto/Reprodução)

Na lista deles, segundo investigação, figuram as execuções do policial militar Ilson Martins Figueiredo, chefe de segurança da Assembleia Legislativa, ocorrida em 11 de junho de 2018; Orlando da Silva Fernandes, morto no dia 26 de outubro de 2018 e Cláudio da Silva Simeão, morto em 15 de novembro de 2018. Todos foram mortos com fuzil AK47.

A Polícia Civil anexou depoimentos de pessoas ligadas aos envolvidos e interceptações telefônicas, formando a estrutura da organização criminosa responsável pelas mortes: Marcelo Rios e Vlad faziam o apoio para a execução, seja cuidando das armas ou localizando os alvos; Zezinho, Juanil e Eurico fazem parte do grupo de execução e os mandantes, Jamil e Jamilzinho.

Em depoimento, a filha de Juanil Miranda Lima disse que o pai relatou que ele “estava matando pessoas ruins e gente que não prestava” e fazia “coisas erradas” em companhia de Zezinho. Ela chegou a ajudar o pai a filmar a casa do capitão reformado da PM, Paulo Roberto Xavier. Em outro trecho, ela relata que Juanil “lamentou” o erro pela morte de Matheus.

Outro depoimento que cita nominalmente a autoria dos crimes e o erro cometido é o da mulher de Marcelo Rios, dizendo que ele estava agitado e ficou desesperado após conversar com Jamilzinho, pois “a cabeça dele ia rolar”. Os policiais indagam se houve erro no caso Capitão Xavier. “Houve um erro”, afirmou.

A investigação também coloca Zezinho próximo da casa de Paulo Xavier. Até dia 8 de março, ele utilizava tornozeleira eletrônica, por conta de condenação de 18 anos de prisão pela morte do delegado Paulo Magalhães. Pelo equipamento, foi possível mapear a movimentação dele, no Jardim Bela Vista. No dia 9 de abril, o estudante foi assassinado.

Também constam como indícios as interceptações telefônicas em que Marcelo Rios conversa com outro ex-guarda, Rafael Antunes Vieira, em que tratam da ordem dada por Jamilzinho, que exigiu a retirada das armas do bunker montado no Jardim Monte Líbano e que deveriam ser entregues ao empresário. “Por que você não está aqui hoje, cadê as armas? Ele quer as armas!”, diz Rafael.

Força-tarefa acusa formalmente Name e filho pela execução de filho de PM
Arsenal foi apreendido em 19 de maio, no bairro Monte Líbano. (Foto/Arquivo) Clayton Neves)

Poucos dias depois, no dia 19 de maio, em operação policial, as armas foram descobertas e apreendidas na casa que, embora esteja em nome de terceiro, o verdadeiro proprietário é Jamil Name, segundo investigação policial.

“Verifica-se que já emergiram indícios mais que suficientes sobre autoria, circunstâncias e motivação, não sobrepairando nenhuma dúvida de que a morte de Matheus Coutinho Xavier ocorreu em razão de erro da execução e que o verdadeiro alvo seria seu pai, Paulo Roberto Teixeira Xavier (...) pessoa que já teve relação com o clã dos Name e que contrariou interesse da família (...).

Motivação – Paulo Roberto Xavier entrou na lista de execuções dos Name por ter sido considerado traidor, ao prestar serviço ao advogado Antônio Augusto Souza Coelho, radicado em São Paulo.

A investigação apurou que o advogado era alvo do “ódio alimentado” pela família Name, em decorrência de desacordo na negociação de terras pertencentes à Associação das Famílias para Unificação da Paz Mundial.

Desde o início das apurações, a defesa de Jamil Name tem negado as acusações. A reportagem tentou falar com o advogado dele, o criminalista Renê Siufi, mas ele não atendeu as ligações. 

(Matéria atualizada às 16h09 para acrescentar informação)

 

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Matheus Coutinho foi morto a tiros de fuzil AK47, executado por engano, no lugar do pai (Foto/Reprodução)
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