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Capital

Há 11 meses sem notícias, mãe segue na espera de reencontrar filha desaparecida

Nilma Fernandes comenta desaparecimento de sua filha Aline Fernandes, vista pela última vez em agosto de 2023

Por Mylena Fraiha | 13/07/2024 11:10
Durante a conversa, Nilma mostra o cartaz de desaparecida de Aline, que está há 11 meses sem notícias (Foto: Juliano Almeida).
Durante a conversa, Nilma mostra o cartaz de desaparecida de Aline, que está há 11 meses sem notícias (Foto: Juliano Almeida).

Esperar por alguém que não se sabe se voltará. Essa é a história da autônoma Nilma Fátima Carvalho de Fernandes, de 55 anos, que vive à espera de sua filha, a técnica de enfermagem Aline Carvalho Fernandes, de 29 anos, desaparecida há 11 meses. Aline foi vista pela última vez por seus familiares no dia 13 de agosto de 2023.

Em uma casa simples e aconchegante na Vila Serradinho, bairro da Capital, Nilma recebeu a equipe do Campo Grande News para comentar sobre como têm sido os últimos onze meses de espera angustiante. "É muito difícil. O meu consolo é a expectativa de, no anoitecer, de repente ela me chamar. Tem dias que eu penso: 'Meu Deus, já tem 11 meses que Aline não está aqui'”.

A noite do desaparecimento de Aline aconteceu em um domingo, 13 de agosto de 2023, quando ela disse aos pais que iria a um culto religioso. Ela saiu de casa, onde morava com os pais, por volta das 19h30. “Eu retornei para casa e vi que ela tinha tomado banho. Fiquei sentada aqui na sala, e de repente ela saiu toda arrumada e falou assim para mim: ‘Mãe, eu vou no culto na casa de uma amiga, lá no Indubrasil’. Só que ela nunca tinha comentado comigo sobre essa amiga do Indubrasil”.

Momentos após sair de casa, sua mãe ainda conversou com ela por WhatsApp e disse para voltar logo, mas a filha respondeu que ainda estava cedo. Depois disso, ela desligou o celular e não respondeu mais a mãe ou amigos.

Liguei para o celular dela, mas já estava desligado. Esperei até segunda-feira porque já aconteceu dela dormir na casa de algum colega. Só que, normalmente, ela mandava mensagem dizendo 'mãe, estou dormindo na casa de tal colega'. Como não fez isso, esperei até segunda-feira. Quando foi na terça-feira de manhã, meu marido chegou de viagem. Eu falei: 'Ela não apareceu. Vamos à delegacia'", relata Nilma.

Emocionada, Nilma comenta sobre como têm sido os últimos onze meses de espera angustiante (Foto: Juliano Almeida)
Emocionada, Nilma comenta sobre como têm sido os últimos onze meses de espera angustiante (Foto: Juliano Almeida)

Um boletim de ocorrência foi registrado na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro e as buscas policiais foram iniciadas. Aline é uma das 1.468 pessoas que tiveram registro de desaparecimento em Mato Grosso do Sul naquele ano, segundo o levantamento da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública).

Aline saiu de casa com uma camiseta clara, calça jeans azul claro, casaco preto amarrado na cintura e boné preto. Durante as buscas, a mãe disse que Aline foi vista em dois bares da Capital durante a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira (14).

Conforme Nilma, Aline teria sido vista no domingo por volta das 23h, em um bar próximo à Esplanada Ferroviária, na Rua Temístocles. Mais tarde, por volta das 2h, Aline ainda teria ido a uma boate na Vila Planalto, na Rua Benjamin.

“Ela não chegou a ir ao culto, igreja ou coisa assim. Encontrei um amigo e ele falou para mim que esteve com ela na noite. Só que ele foi para casa e a convidou para ir embora. Mas ela falou que estava cedo e que ia ficar um pouco mais”, comenta Nilma.

Buscas - Os meses subsequentes foram de buscas e idas às delegacias. O caso foi transferido da Depac Centro para a DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa). Entretanto, Nilma explica que poucas pistas surgiram sobre o desaparecimento de Aline.

"Eu procuro informações de todos os lados, mas não tenho resposta. Faz um mês que fui à delegacia. Conversei com a investigadora, que, por sinal, foi muito atenciosa comigo. Ela disse que o caso não está no esquecimento de maneira alguma. Eles estão ouvindo as pessoas e investigando. Ela até me mostrou o processo, dizendo para eu não pensar que esqueceram o caso. Eu acredito nela. Infelizmente, há muitos casos de desaparecimento, mas eles estão ouvindo pessoas e investigando”, relata Nilma.

Durante entrevista, Nilma cruza as mãos e se emociona ao falar de filha desaparecida (Foto: Juliano Almeida)
Durante entrevista, Nilma cruza as mãos e se emociona ao falar de filha desaparecida (Foto: Juliano Almeida)

Em setembro do ano passado, o pai de Nilma faleceu, o que fez a família acreditar que a jovem pudesse aparecer no velório do avô. “Eu tinha muita esperança de que ela aparecesse no velório. Porque coloquei nas redes sociais que meu pai tinha falecido. Mas minha esperança foi em vão. Conhecendo a Aline, como conheço há quase 30 anos, ela teria vindo ao velório do avô”.

Ela explica que também já distribuiu cartazes pela cidade, comunicou familiares do interior e até mesmo agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) sobre o desaparecimento de Aline. “Eu não tenho mais o que fazer, só que eu não vou desistir. Eu não vou deixar cair no esquecimento”.

Esperança e o esperar - Nilma usa a palavra "sobrevivência" para descrever como tem sido a espera por respostas. Além da tristeza, ela explica que, nos últimos meses, o sentimento predominante é a preocupação com Aline. “Esses dias de muito frio são um tormento para mim, porque eu não sei se ela está dormindo em um papelão, se está abrigada, se tomou uma sopa quente”.

Com o desaparecimento da filha mais nova, Nilma menciona que, atualmente, na casa, moram apenas ela, o pai de Aline, o caminhoneiro Isaque Fernandes, e dois cachorros, Lupita e Jorel – este último, adotado pela técnica de enfermagem desaparecida. “O Jorel era o xodózinho da Aline. Hoje, ele é o nosso xodó", explica.

Cachorrinho Jorel recebe a equipe de reportagem em residência na Vila Serradinho (Foto: Juliano Almeida)
Cachorrinho Jorel recebe a equipe de reportagem em residência na Vila Serradinho (Foto: Juliano Almeida)

Em momentos de saudade, Nilma explica que visita o quarto da filha, que segue arrumado à espera do seu retorno. "Eu passo muito tempo sozinha e quando aperta aquela saudade, eu corro lá no guarda-roupa dela, pego o perfume dela para sentir o cheirinho. Às vezes deito na cama dela e abraço o travesseiro dela, para ver se passa um pouquinho. É muito difícil. É uma dor bem grande”.

Durante a conversa com a reportagem, Nilma mostra o quarto da filha, os jalecos que ela utilizava para trabalhar na UBSF (Unidades Básicas de Saúde da Família) Serradinho e o violão que ela costumava tocar. Neste domingo (14), Aline completa 30 anos de idade.

“Ela é uma pessoa calma e apaixonada pela família. É muito querida no trabalho. Trabalhava como enfermeira na UBS do bairro e fazia plantões no Santa Mônica”, compartilha a mãe da desaparecida.

Sobre a possibilidade do que pode ter acontecido com Aline, a mãe, chorosa, explica que tem evitado especular sobre o paradeiro da filha. “Onze meses sem uma notícia é muito desesperador. Eu acho que, se receber uma notícia de que, Deus me livre, ela esteja morta, vai ser um sofrimento muito grande. Nesse caso, eu vou parar com as buscas. Mas enquanto eu não tiver essa notícia, sigo com a esperança de que eu ainda vá abraçar minha filha. Vou continuar tendo esperança”.

Nilma mostra os jalecos que ela utilizava para trabalhar na UBSF (Unidades Básicas de Saúde da Família) do Serradinho (Foto: Juliano Almeida)
Nilma mostra os jalecos que ela utilizava para trabalhar na UBSF (Unidades Básicas de Saúde da Família) do Serradinho (Foto: Juliano Almeida)

Ajuda - Em busca da filha desaparecida, a família pede que, caso alguém tenha alguma informação sobre o paradeiro de Aline, entre em contato com a Polícia Militar pelo número 190.

Se você também tem uma pessoa desaparecida, a Polícia Civil oferece uma série de orientações, que podem ser acessadas neste link. Somente neste ano, 664 pessoas foram registradas como desaparecidas em delegacias, segundo a Sejusp.

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