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Capital

História e cultura perdem espaço para depredação e furtos na Praça Cuiabá

Comerciantes falam da situação de abandono, principalmente do coreto, no Bairro Amambaí

Silvia Frias e Mariely Barros | 13/07/2023 13:29
Turistas vão até a Praça das Araras e ignoram o coreto, ponto histórico e cultural da cidade (Foto: Henrique Kawaminami)
Turistas vão até a Praça das Araras e ignoram o coreto, ponto histórico e cultural da cidade (Foto: Henrique Kawaminami)

O tempo não acompanhou a importância história da Praça Cuiabá, no Bairro Amambaí. Antes, endereço de apresentações culturais e feiras, hoje é considerado por comerciantes e moradores do entorno área abandonada, sendo abrigo para pessoas em situação de rua e ponto de ocorrência de furtos.

Noel Isidoro da Silva, 62 anos, vende frutas no canteiro da praça há 19 anos. Observa, de longe, turistas que vão até o monumento da Praça das Araras para fazer fotos, mas que evitam o coreto e a Cabeça de Boi. “Aqui tá desaproveitado, tá abandonado, inutilizado”.

Coreto é usado por pessoas em situação de rua (Foto: Henrique Kawaminami)
Coreto é usado por pessoas em situação de rua (Foto: Henrique Kawaminami)

O comerciante diz que havia banheiro feminino instalado em dos espaços abaixo do coreto e que era usado pelas turistas quando o ônibus parava no local. Silva também aproveitava o espaço ao lado para deixar geladeira que usava para conservar as frutas. “Um dia, cheguei e estava tudo arrebentado, mandei arrumar com meu dinheiro; no outro dia, estava arrebentado de novo, aí desisti”.

Silva diz ter convivência pacífica com os “moradores do coreto”, pessoas em situação de rua que montam barracas ou simplesmente usam a cobertura da construção como abrigo da chuva e do frio. Porém, a presença deles intimida quem queria conhecer o espaço, além de contribuir para outros problemas. “O pessoal espírita distribui marmita, aí jogam no chão, fica uma sujeira; hoje está limpo porque o pessoal da Solurb passou ontem”.

Administrador de 29 anos, que preferiu não se identificar, diz que já perdeu as contas de quantas vezes foi vítima de furtos na região. A família tem vários imóveis para alugar no entorno da Praça Cuiabá, locais que são alvos constantes.

“Registro de água, torneira, fiação, já levaram de tudo’, enumera o rapaz. Também diz que já recorreu inúmeras vezes às polícias Militar e Civil, sem obter retorno. “Já fui diversas vezes na 1ª DP, falei com delegado e tudo, já levei uns quatro pen drives com imagens lá, nunca recuperei nada e não tive resposta”.

Um dos flagrantes ocorreu em dezembro do ano passado. As imagens cedidas ao Campo Grande News mostram dois rapazes que furtam pia e uma escada do pintor de imóvel da família do administrador, que fica na Avenida Duque de Caxias. “Às vezes, acabamos de reformar e eles estouram o gesso para pegar as coisas”, lamentou, citando ainda os furtos de lixeiras, tampas de esgoto e fiação pública.

Coreto inaugurado em 1925, hoje, é moradia e espaço abandonado (Foto: Henrique Kawaminami)
Coreto inaugurado em 1925, hoje, é moradia e espaço abandonado (Foto: Henrique Kawaminami)
Coreto da Praça Cuiabá em dia de apresentação (Foto/Arquivo/Arca)
Coreto da Praça Cuiabá em dia de apresentação (Foto/Arquivo/Arca)

O administrador diz que a situação é difícil de se resolver. “Tem muitos que não têm nem o que vestir, vivem em situação deplorável”. Cita que, há um mês e meio, equipe da prefeitura foi até o local e ofereceu abrigo, levando várias pessoas. O material deixado para trás foi recolhido. “De noite, já tinha gente ali de novo”.

O gerente de loja de bicicletas Gladston Pavesi, 43 anos, diz que, em 2019, quando o comércio foi aberto perto da Praça Cuiabá, o local já estava à deriva. Também cita boa relação com quem está pelas ruas e usa o coreto como abrigo, mas fala da situação precária deles e como isso afugenta turistas.

Conta que a equipe de limpeza apara a grama em intervalo de um a quatro meses, mas sente falta de pintura e investimento em eventos culturais.

Banheiro abaixo do coreto, depredado ao longo dos anos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Banheiro abaixo do coreto, depredado ao longo dos anos. (Foto: Henrique Kawaminami)

“A gente sente falta das pessoas ocupando a praça, porque antes tinha feira todos os meses, mas parou. Os turistas que vinham aqui ficam, agora, vão só na Praça das Araras. Aqui não tem mais nada para divertir”.

Em nota, a PM informou que o policiamento na região mencionada é feito pelo 1º BPM, com reforço das unidades especializadas, a exemplo do Bope (Batalhão de Polícia Militar de Choque), da PMA (Polícia Militar Ambiental), entre outros.

Rondas preventivas e abordagens policiais ocorrem diuturnamente em todos os bairros e todo policiamento é realizado com base na análise de dados estatísticos, extraídos dos boletins de ocorrências e também dos atendimentos à comunidade local.

O Campo Grande News entrou em contato com Polícia Civil e a Prefeitura, mas aguarda ainda o retorno.

História – O coreto foi inaugurado em 1925. Em 2015, foi reformado, ganhando novas pinturas.

No mesmo ano, o projeto “Estação Cultura” levou apresentações musicais para a praça. Seguindo com a ocupação do espaço, 2016 foi o Campo Grande News que levou uma festa julina para o “Casório do Ano”.

Em 2018, o “Som do Coreto” levou 200 pessoas a uma das edições e, a partir do ano seguinte, os eventos se tornaram esporádicos até, aparentemente, terem desaparecido.

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