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Capital

Interrogatório de fonoaudiólogo desperta famílias para novas denúncias de abusos

Desesperada, avó procurou polícia afirmando que criança não fala: "Como vou saber se ele abusou do meu neto?"

Dayene Paz e Bruna Marques | 17/03/2022 11:27
Fonoaudiólogo chegando na Depca para ser interrogado. (Foto: Henrique Kawaminami)
Fonoaudiólogo chegando na Depca para ser interrogado. (Foto: Henrique Kawaminami)

No dia em que o fonoaudiólogo Wilson Nonato Rabelo Sobrinho será interrogado pela polícia, mais famílias procuram a delegacia, em Campo Grande. Em muitos casos, há suspeita do abuso sexual, no entanto, como as crianças faziam tratamento da fala, as famílias não conseguem descobrir se houve crime. "Como vou saber se ele abusou do meu neto? É uma dúvida que vou carregar para o resto da vida", disse uma avó.

Cabeleireira de 53 anos, a avó chegou aos prantos na delegacia nesta quinta-feira (17). "É revoltante, porque não tem como a gente descobrir do meu neto. Já tive crises de choro pelo fato de saber que meu neto não sabe falar, não sabe expor", lamentou a avó.

Avó conversou com reportagem na delegacia especializada. (Foto: Henrique Kawaminami)
Avó conversou com reportagem na delegacia especializada. (Foto: Henrique Kawaminami)

Ela conta que levava a criança de quatro anos duas vezes na semana ao consultório, onde era atendida por Wilson. "Aparentava ser uma pessoa tão boa, tão dócil", ressaltou. A avó diz que apenas uma vez percebeu algo diferente. "Um dia, lembro que ele entrou para fazer e eu entrei de uma vez na sala. Meu neto estava no chão e ele sentado em cima da mesa."

Preocupada, afirma que agora não tem confiança em continuar qualquer tipo de tratamento. "Não deixavam entrar e a gente respeitava por ser uma clínica cara, particular. Achávamos que ele estava em boas mãos, mas estava nas mãos de um monstro", lamentou a avó.

O mesmo sentimento é vivido por outra mãe, que também procurou hoje a delegacia. Mulher de 40 anos, ela levava o filho, de 8, para tratamento. "Procuramos um auxílio para ter qualidade de vida e se depara com isso. Você entrega seu filho achando que ele vai ser cuidado e ao invés disso, estão machucando. Meu coração está sangrando, não me sinto mais segura para entregar ele para outro profissional."

O menino era atendido por Wilson há cinco meses. Depois de descobrir sobre a prisão, a mãe diz que tentou conversar com a criança, mas apenas descobriu que o fonoaudiólogo fazia uma brincadeira chamada caneta invisível. "Só falou que ele deitava e desenhava no rosto dele, na mão, e umas brincadeiras de assustar", lembra.

Mãe de criança de 8 anos também conversou com a reportagem. (Foto: Henrique Kawaminami)
Mãe de criança de 8 anos também conversou com a reportagem. (Foto: Henrique Kawaminami)

A mãe chegou a comentar com a psicóloga do menino, que também afirmou ter estranhado um comentário. "Um dia, disse para a psicóloga que queria ter o poder de teletransporte, porque na sala dela, os atendimentos eram rápidos".

A mulher conta ter estranhado que nas primeiras sessões, o filho não saía com doces. "Nas outras, começou a sair com pirulito e balas". No entanto, a mãe afirma que o menino não conseguiu relatar para ela qualquer tipo de abuso.

Interrogatório - São quatro casos confirmados de abuso sexual. As vítimas são todos meninos, sendo o primeiro, um flagrante. Nesta quinta-feira (17), Wilson será interrogado pela Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) em relação às outras três vítimas.

Prisão - Wilson Rabelo foi preso no último dia 9 de março, na clínica Fonoclin, em Campo Grande, depois que a mãe de um dos pacientes dele o denunciou pelos abusos sexuais.

A mulher foi informada pelo outro filho, de 10 anos, o que acontecia com o caçula. Ela foi até o estabelecimento, aguardando na sala de espera, até que o garoto de 8 anos saiu correndo da sessão, dizendo que o profissional havia passado a mão nele. A mãe acionou a Polícia Militar, que prendeu o fonoaudiólogo.

O caso passou a ser investigado pela delegacia especializada, sendo que até agora, 11 denúncias chegaram envolvendo estupro contra meninos de 5 a 8 anos de idade, durante as sessões de fonoaudiologia.

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