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Capital

"Sensação de impotência", diz mãe sobre fonoaudiólogo preso por estupro

Mãe procurou a delegacia para denunciar abuso; de 9 crianças, polícia já confirmou que 4 foram estupradas

Dayene Paz e Bruna Marques | 16/03/2022 12:52
Fonoaudiólogo quando foi preso em flagrante, em 9 de março. (Foto: Henrique Kawaminami)
Fonoaudiólogo quando foi preso em flagrante, em 9 de março. (Foto: Henrique Kawaminami)

Ainda sem acreditar, muitos pais procuram a delegacia de polícia após a prisão do fonoaudiólogo por estupro em Campo Grande. Os relatos são impressionantes e cada vez mais chocantes. "Sensação de impotência", diz uma mãe, professora de 35 anos, enquanto esperava atendimento da polícia na manhã desta quarta-feira (16).

Mãe de gêmeos de 4 anos, apenas uma das crianças fazia o tratamento. Como aconteceu com outras vítimas, o menino fazia atendimento com uma fonoaudióloga, que precisou ir embora da cidade. "Como ele tinha que continuar o tratamento, começou a ter sessões com esse profissional, que foi indicado pela clínica".

A professora relatou ter entranhado o comportamento do filho na última sessão, um dia antes da prisão do suspeito, na terça-feira (8). "Eu já estava desconfortável depois que o meu filho saiu chorando da última sessão e pediu para não fazer mais".

No momento a mulher esperava na recepção e questionou o fonoaudiólogo. Ele justificou o choro do menino dizendo que teria se assustado com uma menina gritando na outra sala. "Meu filho só concordou", lembra. No final dos atendimentos, o fonoaudiólogo sempre chamava a mãe para passar as atividades, o que não foi feito nesse dia. "Fui para casa e ele reforçando que não queria fazer mais sessão, mas eu não havia associado o fato".

Depois desse dia, a mãe diz que o filho teve terror noturno. "Há duas semanas ele não dorme mais falando da menina gritando e que não quer ir no fonoaudiólogo. Achamos que foi um filme de terror, algo que ele viu, jamais que seria isso", lamenta.

A mãe disse que não viu as notícias antes e só ficou sabendo do caso após ser acionada pela clínica onde o suspeito atendia. "Aí eu fui ler as notícias e fiquei horrorizada. Ia conversar com ele, mas meu medo era induzi-lo a alguma coisa. Então peguei o caderninho que ele levava no fono e falei: filho, vamos no fono e ele respondeu 'não quero, não quero ir'".

A mãe então o questionou sobre o motivo de não querer mais ir nas sessões. "Ele disse que tinha medo. Então perguntei quais seriam os exercícios que o fono fazia, respondeu primeiro que não lembrava, depois que o doutor não fazia mais exercício, ele fazia bagunça, e nesse momento fez gestos com o órgão genital", fala a mãe.

"Eu não sei o quanto ele encostou no meu filho, mas foi na última sessão", diz. Ela ainda alerta outros pais. "A gente conversa com os filhos, mas eles não falam, então tem que procurar a delegacia para que as crianças sejam ouvidas e mais vítimas identificadas. Só assim ele vai ficar mais tempo preso", finaliza.

Entenda - O fonoaudiólogo foi preso em Campo Grande na última quarta-feira, 9 de março, após mãe constatar que ele havia abusado do filho durante uma sessão. A partir de então, a polícia orientou que os pacientes do fonoaudiólogo procurassem a polícia, para que as crianças passem por atendimento psicossocial. Até o momento, de nove casos denunciados, quatro foram confirmados.

Investigação - Segundo a delegada Fernanda Mendes, a polícia percebeu que quanto menor a criança era, mais agressivo o fonoaudiólogo agia na violência sexual. Ele pedia para que as crianças se deitassem na maca e cometia o crime. "A conduta libidinosa em regra se repete, que é passar a mão no órgão genital por dentro do short".

Delegada Fernanda Mendes, que investiga o caso. (Foto: Bruna Marques)
Delegada Fernanda Mendes, que investiga o caso. (Foto: Bruna Marques)

Para algumas mães, ele chegava a mandar mensagem no WhatsApp perguntando se o filho falou tudo que aconteceu na sessão. "Tentava extrair se a criança tinha falado sobre o crime", afirmou Fernanda. Wilson será interrogado pela polícia nesta quinta-feira (17).

Os pais de crianças entre 2 a 5 anos procuraram a delegacia, mas pelo fato de que já fazem tratamento da fala, não conseguiram relatar abuso. A orientação é que os pais procurem um tratamento psicológico continuado, a partir daí, as crianças podem dizer se houve algum tipo de abuso sexual.

Nesta terça-feira (15), a delegada revelou que intimou o proprietário da clínica para prestar depoimento na delegacia. Também pediu a relação de todos os pacientes infantis atendidos pelo fonoaudiólogo suspeito de estupro. As crianças estão sendo chamadas para depor no setor psicossocial da delegacia.

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