Juiz concede prisão domiciliar ao "Rei da Fronteira" sob fiança de R$ 990 mil
Gaeco queria fiança de R$ 10 milhões para réu ficar preso em casa e defesa ofereceu casa famosa em Ponta Porã
Avaliada em R$ 16,7 milhões, a casa de Fahd Jamil, 79 anos, em Ponta Porã, famosa por ser réplica da mansão do cantor de rock Elvis Presley, foi oferecida em garantia à Justiça para assegurar a prisão domiciliar do réu na operação Omertá. O juiz Roberto Ferreira Filho, titular da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, rejeitou a "oferta', mas concedeu o benefício nesta quarta-feira (2), depois de perícia médica oficial indicar que o preso não tem condições de saúde para ficar em cela prisional.
Pela decisão, segundo a informação obtida pelo Campo Grande News, a fiança foi arbitrada em 900 salários mínimos, equivalente hoje a R$ 990 mil.
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) havia solicitado imposição de fiança de R$ 10 milhões para que o “Rei da Fronteira” fosse colocado em liberdade condicional. A defesa, a cargo das bancas lideradas pelos advogados Gustavo Badaró, de São Paulo, e André Borges, de Campo Grande, ofereceu então o imóvel no centro da cidade fronteiriça como garantia.
O magistrado, porém, entendeu ser inadequada essa forma de pagamento de fiança e determinou o depósito do valor próximo de R$ 1 milhão.
Regras - Também ficou definido que “Fuad” vai ser monitorado por tornozeleira eletrônica e não poderá ter contato com outros réus da operação Omertà. A força-tarefa o acusa de chefiar organização criminosa na fronteira entre Brasil e Paraguai responsável por crimes de tráfico de armas, homicídios, corrupção de agentes públicos de segurança, obstrução de justiça, entre outros.
Para ficar em prisão domiciliar o réu não poderá, também, receber visitas que não sejam autorizadas. O combinado é ficar em Campo Grande, onde correm os processos.
São quatro ações criminais. Ele informou ao Judiciário ter familiares morando na cidade, com quem poderá ficar.
Fugitivo por quase um ano - “Fuad” teve a prisão decretada a pedido do Gaeco em junho do ano passado, quando a polícia tentou prendê-lo na mansão famosa. Conseguiu fugir. Se entregou em 19 de abril deste ano ao Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros).
No dia 20 de abril, participou de audiência de custódia, quando foi feito o pedido de prisão domiciliar. O juiz, então, solicitou perícia médica oficial, cujo resultado foi no sentido de que trata-se de idoso com quadro de saúde delicado, principalmente por causa dos problemas respiratórios crônicos.
Na semana passada, Fahd Jamil foi levado para hospital particular, com autorização judicial, e passou por cirurgia para desobstruir a veia carótida direita. Voltou na segunda-feira para o Garras, de onde vai ser liberado para cumprir a prisão preventiva em casa.
Quanto ao tema da prisão domiciliar, a defesa de Fahd Jamil sempre confiou na atuação técnica e justa do Garras, Gaeco, IMOL e do Judiciário, todos tendo atuado de maneira eficiente e isenta para garantir direito previsto em lei, o que é muito positivo”, afiram os defensores de Fahd em nota enviada à reportagem.
Segundo informado por Gustavo Badaró e André Borges, agora o cliente “cuidará da saúde, ao lado da família e dos amigos, pessoas que nunca lhe faltaram, sem prejuízo de continuar à disposição das autoridades”.
No próximo dia 17 de junho, está marcada audiência por videoconferência para interrogatório de Fahd sobre a acusação de ser mandante da execução de Ilson Martins Figueiredo, chefe de segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Figueiredo foi fuzilado em 11 de junho de 2018, em Campo Grande.
A Omertá - Ao todo, a operação implicou mais de cem pessoas. O compadre de Fahd Jamil, Jamil Name, 82 anos, está preso desde setembro de 2019, por chefiar grupo ilegal atuante em Campo Grande, e tenta a prisão domiciliar desde então, sem êxito.
Jamil Name está internado em hospital de Mossoró, em razão do contágio por covid-19.