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Capital

Lei ‘vida se paga com vida’ obrigou adolescente a cortar cabeça de homem

Crime aconteceu em novembro de 2017. Depois de ser sequestrado, José Carlos foi mantido em cativeiro por cinco dias, até ser executado

Geisy Garnes | 19/01/2018 17:02
Corpo de José Carlos foi encontrado na cachoeira do Céuzinho (Foto: Paulo Francis)
Corpo de José Carlos foi encontrado na cachoeira do Céuzinho (Foto: Paulo Francis)

Um adolescente, que seria pivô da execução de José Carlos Figueiredo, de 41 anos, foi forçado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) a decapitar o homem em novembro do ano passado, em Campo Grande. Segundo a polícia, o jovem de 16 anos precisou seguir a lei da facção “vida se paga com vida” e acabou obrigado a cortar o pescoço da vítima ainda viva.

Figueiredo foi encontrado decapitado com as mãos e os pés amarrados no dia 28 de novembro, em uma cachoeira na região do Céuzinho. Na data, seu desaparecimento já era investigado pela DEH (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes de Homicídio), que aos poucos foi desvendando o crime e já identificou mais de 12 envolvidos.

Seis suspeitos estão presos, e o adolescente de 16 anos, conhecido por Tio Patinhas e apontado pelas investigações como o pivô do crime, apreendido em uma Unei (Unidade Educacional de Internação). Nesta quinta-feira (18) o juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri decretou a prisão preventiva de 11 dos envolvidos no homicídio, seis deles ainda foragidos.

Dívida por tráfico - De acordo com o delegado Márcio Obara, responsável por toda a investigação, a morte de José Carlos foi encomendada após o adolescente ser ameaçado por ele. Foi uma dívida por droga que teria iniciado o desentendimento entre os dois. “O adolescente pegou uma porção de pasta base para vender, mas usou a droga e não pagou. José foi cobrar esse dinheiro e começou a ameaçar o Tio Patinhas”, contou.

Filho de um interno do sistema prisional de Mato Grosso do Sul, onde cumpre pena de 15 anos por latrocínio, o adolescente resolveu pedir ajuda do pai “para se livrar das ameaças”. A mãe do adolescente também resolveu interferir na situação e pediu ajuda ao PCC. Foi a partir daí que a facção se envolveu no caso.

José Carlos e o filho, também de 16 anos, foram sequestrados no dia 18 de novembro, no Jardim São Conrado e passaram cerca de cinco dias em cativeiro. Pelo menos quatro casas - nos bairros São Conrado, Moreninhas, Noroeste e Taveirópolis - foram usadas pelos bandidos durante o julgamento do Tribunal do Crime. “Quando são levadas, as vítimas sabem que vão passar por um julgamento”, lembrou Obara.

No dia em que foi condenado a morte, José foi separado do filho. De Uber o menino foi levado a um outro cativeiro e o pai acabou executado em uma residência do Taveirópolis. “Existe uma lei dentro da facção, “Vida se paga com Vida” e por isso o adolescente foi obrigado a decapitar a vítima”.

Segundo o delegado, “Tio Patinhas” começou a decapitar José, que ainda estava vivo, como ordenado, mas não conseguiu concluir o crime. Conforme as investigações, foi Pamella Almeida Ribeiro, conhecida como Emonoma, quem “terminou o serviço”. “Há fortes indícios de que ele [José Carlos] levou uma paulada na cabeça, para ficar atordoado no momento do crime”, revelou Obara.

O corpo e a cabeça da vítima foram levados a região do Céuzinho e foram jogadas pelos suspeitos em cachoeiras diferentes. O corpo foi encontrado 10 dias depois do sequestro, no dia 28 de novembro, mas a cabeça nunca foi localizada.

Prisões - Além de Tio Patinhas, que está apreendido, foram presos preventivamente: Pamella Almeida Ribeiro, Luan Loubet Barros, de 20 anos, Davyd Samuel Boaventura Salvador, o “Neguinho Davyd” de 18 anos, Denilson Bernardo de Arruda, de 44, Nicolas Kilven Soares Montalvão, o Gordinho de 19 anos e Valéria Benites Monteiro, de 41 anos.

Seis suspeitos ainda estão foragido e segundo o delegado, novos envolvidos podem ser identificados ao decorrer das prisões. “Eles têm uma hierarquia, cada uma função e nem sempre os integrantes se conhecem, ainda assim todos são contactados sabendo do crime”, reforçou.

Ao Campo Grande News, Obara explicou dentro das prisões feitas até o momento, era Pamella, a “Emonoma”, quem tinha “posição de poder” dentro da facção. A mulher foi a responsável por toda a coordenação da execução. “Ela era a responsável por arrumar as “cantoneiras” [casas em que as vítimas foram mantidas refém] e coordenava as equipes, tudo por telefone”.

Em depoimento, Pamella ainda confessou ter terminado a decapitação da vítima. A suspeita estava presa desde o dia 29 de dezembro, quando foi flagrada pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) em Águas Claras com porções de maconha. Ela estava em um Volkswagen Gol, que era conduzido por Valéria Benites Monteiro.

“No flagrante a Valéria afirmou que era Uber, e estava apenas em uma corrida. Mas descobrimos que foi ela, no mesmo veículo Gol que foi apreendido, que o filho de José foi transferido de uma “cantoneira” para outra”. Segundo o delegado, Valeria também vai responder por participação no crime.

Desde a prisão, as mulheres cumpriam pena no Presídio Feminino de Três Lagoas, onde nesta sexta-feira (19) equipes da DEH cumpriram o mandado de prisão preventiva em nome de Pamella.

Os 11 suspeitos, todos membros do PCC, foram denunciados nos crimes de organização criminosa; sequestro e cárcere privado; ocultação de cadáver; e homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima.

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