Mãe de jovem borderline e bipolar sofre sem conseguir internar filha
"Moradia" pública é só para paciente sem família e parentes de quem tem crise constante não sabem o que fazer
"Os profissionais são muito bons, mas falta estrutura”, resume a mãe que viu a filha desenvolver transtorno borderline e bipolar, nos últimos anos. Chorando, ela diz que não conseguiu atendimento adequado na rede pública, nem na particular.
Agora, se vê numa situação ainda mais complexa. O dinheiro para o plano de saúde acabou e a filha de 30 anos está sendo tratada pelo Caps (Centro de Atenção Psicossocial), onde o tratamento não prevê internação compulsória, contra a vontade do paciente, o que para a mãe seria a única saída para a recuperação.
Há apenas duas residências terapêuticas na Capital, mas elas são somente para quem não tem família que ajude a manter a rotina diária de medicação, o que não é o caso da paciente com transtornos bipolar e borderline. As residências não são leitos de internação, mas sim casas onde moram pacientes que já passaram pelo Caps e não têm para onde ir. Lá eles passam a viver junto com outras pessoas na mesma situação, sob os cuidados de especialistas.
Lá no Caps, ela foi medicada, mas o problema é que ela não é obrigada a ficar e pode sair a qualquer momento. Aí começa tudo de novo. Já passei muita humilhação e vergonha, adoeci junto, não aguento mais. Os profissionais são ótimos, mas a rede não dá estrutura para eles trabalharem”, reclama a mãe, que já desenvolveu depressão e é sustentada pelo esposo, porque não consegue mais trabalhar devido ao desgaste de acompanhar as crises da filha.
Questionada sobre quantidade de pessoas que aguardam atendimento, por meio da assessoria, a prefeitura não revelou números sobre internação, apenas sobre Residências Terapêuticas e Caps.
Internar ou não? - A rede pública tem 6 Caps para tratamentos psicológicos e psiquiátricos, sendo um deles de atendimento infanto-juvenil e um para dependentes de álcool e drogas, segundo a Prefeitura. Além disso, tem-se as Residências Terapêuticas com vagas muito limitadas.
Ocorre que o foco da política pública nacional de saúde mental não é internar, segundo o membro da Coordenação da Saúde Mental, o psiquiatra Eduardo Gomes de Araújo.
Há um movimento no governo federal que incentiva internações e criação de leitos, entre outras novas práticas que vão contra posturas de governos anteriores e na contramão das práticas adotadas pela Capital.
No Caps, a ideia não é internar ou obrigar o paciente a nada, mas sim tratar com dignidade, nas palavras do psiquiatra. “Já trabalhei em hospitais em quem tinha paciente amarrado. O atual governo federal tem algumas condutas que são como se voltasse ao que era antes. A nova política ministerial procura dar mais força aos hospitais psiquiátricos, mas nós não podemos voltar à forma como vinha sendo trabalhado. As pessoas ficavam como ‘zumbis’ nos hospitais”, lembra o psiquiatra.
Atendimento 24h - O Caps recebe pacientes das UBSs e UPAs, que estão preparadas para dar o primeiro atendimento e ainda temos o Centro de Especialidades Médicas (CEM). UPA e Caps são 24h. No Caps, será definido se o paciente vai internar, receber atendimento ambulatorial ou não, intensivo ou semi-intensivo ou se vai ser acompanhado pela UBS no seu tratamento”, explica Eduardo.
Onde procurar ajuda - Clique aqui para ver os endereços dos Caps.
O CEM atende de segunda a sexta, das 7h as 22h somente para encaminhados pelas UBSs ou UPAs, mas tem um ambulatório de prevenção ao suicídio, que atende qualquer pessoa que esteja com pensamentos suicidas.
Os especialistas sempre lembram que é bom procurar ajuda de um psicólogo, assim que tiver dores emocionais muito fortes ou sentir que não está bem, porque esse auxílio pode até evitar o desenvolvimento de transtornos mentais.
Quem procura um psicólogo em consultório particular pode consultar se o profissional é inscrito no Conselho Regional de Psicologia, clicando aqui. As clínicas escolas das universidades também oferecem atendimento gratuito na área de Psicologia.