Mulher é peça chave para polícia desvendar motivos de execução filmada
Polícia apura se crime foi passional ou motivado por envolvimento de vítima em facção
Uma mulher, que não teve a identificação revelada, é a peça chave para que a polícia descubra o que teria motivado a morte de Richard Alexandre Lianho, 25 anos. O rapaz foi executado há uma semana, no dia 14,e jogado no penhasco da cachoeira do local conhecido como Céuzinho, a 800 metros da MS-080, saída para Rochedo. A morte foi gravada em vídeo que circula pela internet.
A mulher seria esposa de um membro do PCC (Primeiro Comando da Capital) e teria tido um relacionamento extraconjugal com Richard. Pelo menos, esta é a versão que a família da vítima apresentou à polícia, e que agora os investigadores buscam confirmar.
“Estamos em busca desta mulher para saber se o crime tem algum fundo passional. Porque, por enquanto, nem sabemos se esta história é verdadeira”, explicou o delegado responsável pelo caso, Bruno Henrique Urban.
Ainda conforme o delegado, a polícia apura se Richard e os autores pertenciam mesmo a alguma facção, como é anunciado no vídeo da morte do rapaz. “Pela linguagem e maneira como o crime foi executado, parece que sim. Mas, pelo que investigamos até agora, não há nenhum indício disto, eles sequer eram ‘batizados’ na facção”, explica Urban.
Além da mulher, que pode explicar sobre seu suposto envolvimento com a vítima, a polícia também procura por outros dois jovens que teriam participado da morte de Richard.
“Ainda trabalhamos com três hipóteses, a primeira é que tenha sido por conta deste relacionamento, outra pela participação da vítima em facções, e uma terceira, é levando em conta os dois motivos”, explicou o delegado.
Medo e mistério - Pela Vila popular, bairro onde Richard morava, o medo de represálias faz com que os moradores tenham receio até mesmo de se identificar diante da reportagem. Mas todos confirmam que o jovem era reservado, aparentemente normal e apesar de uma ficha criminal que acumula até duas tentativas de estupro, o garoto também não aparentava ser membro de facção criminosa como ameaçado em vídeo da execução.
Além da motivação passional, o suposto envolvimento de Richard com drogas, também paira entre os boatos levantados por moradores para justificar a brutalidade do vídeo em que a vítima é morta com tiros na cabeça e cortes nos braços.
“Mas ele não tinha o envolvimento com facções. Ele foi forçado a falar o que ele disse no vídeo. Ele na verdade se relacionou com uma menina que teve um caso com um membro do PCC e por isso foi morto”, afirmou um rapaz que preferiu não se identificar, mas disse ser amigo da família do rapaz.
Em frente à escola municipal Frederico Soares, onde o jovem teria estudado quando era adolescente uma funcionária pública resume dizer que o crime pegou todos de surpresa. “Era um rapaz que aparentava ser de boa índole. Assim como a família”, comenta a moradora.
Estupros - Entre os crimes pelos quais Richard responde, está um estupro registrado no ano de 2009 e outra tentativa de praticar o mesmo crime em 2015.
O primeiro caso teria ocorrido em Campo Grande. Segundo a Polícia Civil, a mãe de uma menina de 12 anos registrou um boletim de ocorrência contra Richard por ele ter namorado a filha dela, e mantido relações sexuais com a menina, que acabou engravidando.
No outro caso, em 2015, uma jovem de 21 anos acusou Richard de tentar estuprá-la em Terenos – município distante cerca de 25 quilômetros de Campo Grande. A moça contou que estava voltando da padaria para casa, quando foi abordada pelo rapaz, que a obrigou a ir para uma construção abandonada e começou a tirar o short.
Aproveitando um descuido do rapaz, a mulher disse que conseguiu correr e se fechar em casa, mas foi seguida por Richard,q eu passou a tentar arrombar a porta da residência dela. Após alguns minutos de ameaça, uma viatura da polícia teria chego ao local e Richard fugiu. Na época, suspeito foi localizado pouco tempo depois, num posto de gasolina da BR-262 e preso.
Execução - Com pouco mais de um minuto, o vídeo que mostra a execução de Richard começa com ele de joelhos. Logo nos primeiros segundo, o rapaz começa a repassar uma espécie de recado: “Pra todo mundo, todos os CV (Comando Vermelho), que tá em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, na penitenciária aí, na rua, parça aí tudo jogado, tá ligado? O que tá acontecendo comigo vai acontecer com vocês também, mano”. (sic)
Assim que ele termina de falar, a câmera deita para o lado e é possível ver o braço de alguém empunhando um revólver. Alguém ao fundo pergunta: “pode dar o primeiro?”. Enquanto a vítima abaixa a cabeça lentamente, a arma é engatilhada e o primeiro tiro disparado, direto na cabeça do rapaz, que cai com o rosto no chão. Depois de morto, a vítima recebe vários chutes e socos e tem os braços cortados.
Dois adolescentes de 16 e 17 anos – este completou 18 anos quarta-feira (15) –, foram apreendidos e confessaram o crime. Eles tiveram a ajuda de um homem de 22 anos, que também está preso, mas não teve o nome divulgado.