Na audiência de defesa, amigos de Cristhiano confessam que mentiram
Oito pessoas foram ouvidas
Ouvidos na tarde desta terça-feira em juízo, três amigos de Cristhiano Luna de Almeida, 23 anos, acusado de matar o segurança Jéferson Bruno Escobar, da mesma idade, em março deste ano, confessaram que mentiram quando foram questionados pela Polícia Civil sobre o que aconteceu na madrugada do dia 19 de março deste ano.
A retratação dos três foi feita durante a audiência de defesa. Além deles, outras cinco pessoas foram ouvidas: o delegado de Polícia Civil João Eduardo Santana Davanço, responsável pelos autos de prisão em flagrante; a perita criminal responsável pela perícia nas imagens feitas pelas câmeras da casa noturna; o presidente da Federação Sul-Mato-Grossense de Jiu-Jitsu Edemir Elias Fermino; um repórter e a delegada Daniela Kades, presidente do inquérito sobre o caso.
O delegado responsável pelo flagrante explicou que indiciou Cristhiano naquele momento por lesão corporal seguida de morte porque, no entendimento dele, os relatos de testemunhas e o histórico do rapaz, indicavam que o caso era para ser tipificado como tal.
Já a perita contou que após analisar 10 arquivos de vídeos e assisti-los “muitas vezes”, “foi possível perceber que houve luta ou briga”, entre Cristhiano e o segurança.
A perita também declarou que “houve imobilização e houveram golpes de briga” e ressaltou que houve momentos em que os personagens principais saíram do foco da gravação.
Professor de artes-marciais há oito anos e praticante da luta há 25, Edemir Fermino afirmou que “pelas imagens não houve golpes de artes marciais”.
Ele explicou que pelo que viu nos vídeos, Cristhiano “tentou se defender como qualquer pessoa. Não foram aplicados golpes como chaves, estrangulamentos. Judô, karatê, são lutas em pé. A única luta de solo que conheço é o jiu-jitsu e não foi desferido nenhum golpe”.
O repórter foi questionado sobre afirmações escritas por ele em uma reportagem e disse que a fez com base em informações repassadas por um colega que atualmente trabalha em outra empresa.
Amigos - A quinta testemunha a ser ouvida foi um amigo de Cristhiano, que foi quem o levou para casa na madrugada da morte de Brunão. Ele foi um dos que mentiram à Polícia Civil.
Estudante do quinto semestre de Direito, o jovem confessou que disse à Polícia, após o fato, que não sabia para onde Cristhiano tinha ido depois da confusão na casa noturna. “Sendo que foi eu quem levou ele embora”, se retratou.
“Pela primeira vez eu estava em uma delegacia. Faltei com a verdade devido ao nervosismo”.
O universitário também estava na casa noturna e só viu a confusão que ocorria na calçada quando Brunão já não se sentia bem. “Quando eu vi, o segurança já estava passando mal”.
A namorada do estudante, bacharel em Direito, e a prima dela, acadêmica de Farmácia, foram as outras duas pessoas que mentiram.
Assim como o universitário, as duas jovens não falaram que sabiam do paradeiro de Cristhiano, sendo que tinham total conhecimento que o namorado de uma delas o levava embora.
Os três se retrataram em juízo e por isso, a princípio, não serão processados por falso testemunho. Todos disseram que mentiram devido ao nervosismo.
A bacharel em Direito ainda contou que viu Cristhiano, quem conheceu através do namorado, ser imobilizado e agredido por seguranças do local.
A prima dela é a jovem que aparece em várias imagens feitas pelas câmeras da casa noturna - dançando com o réu e em meio à confusão entre ele e os seguranças-. A jovem conta que viu o acusado ser agredido e que tentava tira-lo de perto dos trabalhadores.
“Eu tentava tirar ele, mas os seguranças puxavam ele de volta. O que eu tentava fazer era tirar o Cristhiano”. “Eram cinco, seis seguranças tentando imobiliza-lo. Eu vi um soco nele e nenhum dele”, disse a acadêmica da Farmácia.
Delegada- Responsável pelo indiciamento de homicídio doloso simples (com intenção de matar) a Cristhiano, Daniela Kades foi a última pessoa a ser ouvida nesta terça-feira.
Ela declarou que a mudança no indiciamento inicial ocorreu devido às novas provas que a Polícia apurou. “Nos 10 dias que se seguiu após o flagrante, recebi laudos periciais, fiz estudos críticos e minuciosos das imagens e foram inquiridas outras testemunhas”.
A delegada também disse que as imagens mostram seguranças próximos a Cristhiano. “Nenhum segurava Cristhiano. Pelo contrário. Cristhiano segurava o calcanhar de um segurança”.
Farpas - Questionada pelo advogado Ricardo Trad - defesa de Cristhiano- sobre seu entendimento do que é dolo, Daniela, que é delegada de Polícia Civil há quase cinco anos, deu a sua resposta.
Em seguida, o advogado declarou: “Cada um tem um conceito, mas ela precisa voltar aos bancos da universidade para aprender o que é dolo eventual”.
A delegada não respondeu às farpas. O juiz, Aluízio Pereira dos Santos, encerrou a audiência de acusação, e ela assinou suas declarações.
Desculpas- Em entrevista à imprensa, Ricardo Trad disse que a delegada “não soube dizer o que é dolo eventual” e pediu desculpas sobre sua fala na sala de audiência.
“Eu posso até ter falado de forma emocionada. Quero até pedir desculpas se fui agressivo”, disse.
Ele ressalta que não há dolo por adivinhação e que Daniela “foi sábia em indiciar por homicídio simples, diferentemente do promotor que denunciou por homicídio duplamente qualificado”.
Para Ricardo Trad, a imprensa retratou os fatos de forma distorcida e houve má-condução do inquérito. “Quem age por legítima defesa não pode assumir o dolo eventual. Olhem o vídeo e verão que ele [Cristhiano] foi agredido por três, quatro seguranças. A prova material é o vídeo”.