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Capital

Na favela, todo dia é de brincadeira para quem se diverte com pouco

Adriano Fernandes | 12/10/2016 09:18
A caixa d´água cheia é a piscininha perfeita para os filhos de moradora da favela Só Por Deus. (Foto: Adriano Fernandes)
A caixa d´água cheia é a piscininha perfeita para os filhos de moradora da favela Só Por Deus. (Foto: Adriano Fernandes)

Para as crianças da favela "Só Por Deus", no extremo sul de Campo Grande, 12 outubro é uma data como qualquer outra. Claro, é o dia delas e boa parte até sabe o quanto esta quarta-feira (12), poderia ser especial, mas, se o dinheiro da família é regrado até para comprar o que comer, elas também entendem que um brinquedo mais sofisticado ou uma programação diferente do “normal” são desejos que podem ficar em segundo plano.

Indiferentes à precariedade dos barracos onde vivem e à falta de estrutura que inclui não ter onde brincar, a diversão das crianças que vivem no local é à base do improviso. O campo de futebol de areia onde a favela se formou, há pouco mais de um mês, é o ponto de encontro perfeito, aos fins de tarde, para cerca de 50 crianças. 

Os garotinhos também brincam de gente grande enquanto que se fazem de “cerqueiros” fincando os postes no entorno dos barracos. A caixa d'água cheia vira a piscina perfeita sob o sol de 30° C em Campo Grande.

Neste Dia das Crianças, a “piscininha” vai continuar sendo a principal distração dos quatro filhos de Elci Pereira Bento, de 30 anos. “Todo o ano eu tento fazer ao menos um bolinho. Mas dessa vez não vai dar”, comenta. Para o local ela se mudou pelo mesmo motivo que a maioria dos outros moradores.

“Até hoje devemos o aluguel da casa onde a gente morava antes de vim para cá. Então não tem como fazer algo especial para eles, porque o pouco dinheiro que temos gastamos com o que é mais necessário. Mas essa caixa cheia aí é a maior diversão deles”, comenta a desempregada, apontando orgulhosa para os filhos de 4, 10,12 e 13 anos.

Vítor e Kéllison sonham em ter um carinho de controle remotos. Stefanie que é prima deles uma boneca Frozen. (Foto: Adriano Fernandes)
Vítor e Kéllison sonham em ter um carinho de controle remotos. Stefanie que é prima deles uma boneca Frozen. (Foto: Adriano Fernandes)
O trabalho para quem só deveria brincar também se torna diversão para quem precisa de pouco para ser feliz. (Foto: Adriano Fernandes)
O trabalho para quem só deveria brincar também se torna diversão para quem precisa de pouco para ser feliz. (Foto: Adriano Fernandes)

O Vitor Vinicius, de apenas 6 anos, queria um carrinho de controle remoto. Seu irmãozinho Kéllison, de 4, também. Diante dos pedidos a mãe e dona de casa, Simone de Oliveira, de 23 anos, só deseja um dia também poder atender a vontade dos filhos.

“Não vai dar não meninos”, se queixa. Mas este ano, para data não passar em branco ela conta que com o dinheiro que vai ganhar vendendo geladinhos, talvez dê para comprar uma lembrancinha.

“Eles sabem que é dia de presentes, então eu sempre tento arrumar alguma coisa para eles. Nada muito caro”, comenta. Mas ela garante que mesmo diante das dificuldades a criançada por lá, faz a festa, independente de ser dia das crianças ou não.

“Eles se juntam, pulam, saem correndo por aí e a gente tem sempre que ficar de olho porque se deixar eles saem correndo pela rua e aí fica perigoso”, ri.

Cerca de 200 barracos ocupam terreno onde antes era um campo de futebol. (Foto: Adriano Fernandes)
Cerca de 200 barracos ocupam terreno onde antes era um campo de futebol. (Foto: Adriano Fernandes)

A Iris Vitória, de 5 anos, não se conforma até agora por ter ficado doente e ter perdido, justo o dia de aula em que todos os alunos tiveram atividades em alusão a data, na última semana.

A avó, Mirian dos Santos, de 54 anos, sente pela neta. “Ela teve catapora e eu tive que levar ela no posto de saúde. No outro dia, depois que voltou da aula ela ainda reclamou: vó teve brincadeira, cachorro-quente, brinquedo e eu não fui”, se queixou. O dia 12 também vai passar em branco para menina.

Só Por Deus – Ocupado há pouco mais de um mês o campo de futebol na Rua Araraquara no Jardim Canguru, que hoje divide espaço com a nova favela, já conta com aproximadamente 200 barracos. A maioria dos moradores esta ali, fugindo do aluguel.

A quantidade de crianças é de aproximadamente 50 e de todas as idades. Interessados em fazer doações de brinquedos no próximo dia 12, podem ir direto ao local, que fica no cruzamento entre a rua Araraquara e rua Evaristo Ferreira, no bairro. 

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