Obra “maldita” para por falta de R$ 25 milhões e pode ter outro destino
Desde quando começou, a obra no Jardim Cabreúva - iniciada em 1991 e até “inaugurada” em 1994 para ser a nova Estação Rodoviária de Campo Grande – não consegue ser concluída. A última tentativa também fracassou e a Prefeitura paralisou os trabalhos para transformá-la no Centro de Belas Artes e decidiu repensar o projeto.
Com o novo fracasso, o município briga com a empresa responsável pela obra, a Mark Engenharia, sobre o valor da conta não paga. A empreiteira cobra R$ 1,2 milhão. O município admite dívida de R$ 200 mil. A expectativa do secretário municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação, Semy Ferraz, é de que o contrato seja rescindido e o impasse superado em 50 dias.
O próximo passo será encontrar R$ 25 milhões para concluir a obra, que deverá ter outra destinação. A Prefeitura estuda a proposta de uma parceria com o Sesc (Serviço Social do Comércio) para transformá-la em um escola técnica. Outra alternativa é construir um centro de treinamento com o Sebrae.
A terceira hipótese é continuar a parceria com o Ministério do Turismo, que já liberou a maior parte dos R$ 12 milhões para transformá-la em um centro de cultura e dança. Deste montante, a Prefeitura gastou R$ 7 milhões.
No entanto, as obras vão ser refeitas, porque, segundo Semy, a fundação precisa de um reforço. A obra, que se transformou em um elefante branco, está parada há 20 anos.
A paralisação da obra revolta os moradores do Jardim Cabreúva. "É uma vergonha. Começaram com a rodoviária, mas até agora não fizeram nada. Sobra para os vizinhos que são muito assaltados aqui. Está muito perigoso. Aqui ficam muitos usuários de droga", lamentou-se o estofador Idnalzer Darks, 27 anos. Ele mora há três quadras do centro de belas artes.
A obra começou no Governo de Pedro Pedrossian, que chegou a realizar um almoço com taxistas para “inaugurar” o novo terminal rodoviário da Capital. No entanto, Wilson Barbosa Martins (PMDB) assumiu e o projeto ficou parado por falta de recursos.
Zeca do PT tentou concluir a obra em três ocasiões, mas esbarrou na burocracia. A primeira opção era ativar a rodoviária, mas as empresas questionaram os critérios da licitação e a briga acabou na Justiça e emperrou a obra.
A terceira tentativa esbarrou nas exigências da Prefeitura de Campo Grande, que exigiu investimentos de R$ 43 milhões como compensação pela obra. O vultuoso investimento “enterrou” a iniciativa e o “elefante branco” continuou sendo um sumidouro de recursos públicos e de transtorno aos moradores do Bairro Cabreúva.
No segundo mandato, Zeca do PT tentou transformar o espaço em um centro regional da cultura pantaneira, mas a iniciativa foi suspensa pela Justiça. O MPE (Ministério Público Estadual) alegou que a obra não poderia ter outra finalidade que não fosse ser terminal de embarque e desembarque de passageiros.
O governador André Puccinelli (PMDB) assumiu e repassou a obra para a Prefeitura após firmar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o MPE. Na época, o poder público assumiu o compromisso de concluir a obra e transformá-la, com aval dos promotores, em Centro de Belas Artes.
A obra andou aos trancos e barrancos. O Ministério do Turismo liberou R$ 9 milhões, mas o prédio continua inacabado. O secretário de Obras até brinca que o local pode ter uma maldição. “Parece que as sandálias do Frei Mariano estão enterradas ali”, comentou Ferraz, fazendo alusão ao ditado popular corumbaense de que a cidade não vai para frente devido ao padre ter enterrado suas sandálias e rogado praga.
Semy Ferraz destacou que a transformação do espaço, construído para ser uma rodoviário, em outro é complicado. “É difícil, complicado transformar uma obra concebida para ser rodoviária”, destacou.
"Tudo o que começa em Campo Grande não acaba. Só da prejuízo. Aqui só estão criando mato, além dos usuários de drogas e tarados que ficam aqui. Eu passo todos os dias aqui na frente, mas não entro, tenho medo. O principal que era a rodooviária não terminara, eu acho que não terminam mais nada”, reagiu a doméstica Rose de Oliveira, 55, sobre a obra que não é concluída nunca.
Outro entrave burocrático é que o reforço na estrutura precisa ser feito antes de qualquer projeto ter continuidade. Segundo o secretário de Obras, há o risco da parede afundar.
A expectativa é de que a rescisão ocorra no segundo semestre e a Fundac (Fundação Municipal de Cultura) defina até dezembro o novo destino do prédio. Só então, a Prefeitura da Capital deve bater o martelo e só retomar as obras em 2015.
No próximo dia 10, a Câmara Municipal vai realizar audiência pública para discutir os problemas causados pela obra. O vereador Eduardo Romero (PTdoB) destacou que já se passaram seis governadores e a obra continua parada.