Obra para resolver problema da antiga rodoviária vira alvo de furtos
Com investimentos de R$ 16,5 milhões, prefeita disse que entregaria reforma da antiga rodoviária em 2022
Pensada para ser solução, a reforma da atinga rodoviária piorou problemas que moradores e comerciantes sofrem na região. Longe de ser concluída, as obras viraram alvo de furtos e depredação.
"Eles invadiram lá (canteiro de obras) e assaltaram duas vezes. O segurança do prédio viu que tinha pessoas lá dentro, em um sábado às 14h, e chamou a guarda. Eles vieram e prenderam e não conseguiram levar nada. Mas não existe lei, a polícia vem, a guarda vem, prende e eles são soltos. Estamos aqui até hoje por causa do 1º Batalhão (da Polícia Militar), que faz um ótimo trabalho. Não temos leis que deixam esses marginais presos. Para mim, nossas leis são ultrapassadas e não são cobradas", reclamou a comerciante e presidente do Bairro Amambaí, Rosane Nely, de 55 anos.
Além das obras, um prédio abandonado na Rua Barão do Rio Branco com Rua Vasconcelos Fernandes virou depósito de objetos furtados. "Eles roubam e deixam ali, até conseguirem vender", explicou a presidente do bairro.
Circuito de segurança já flagrou diversas cenas dos usuários de drogas no local. Em uma das cenas, os moradores escondem o que parece ser objetos provenientes de furtos no local, em outra, uma mulher agride outra com um facão.
"Já pedimos providência para esse imóvel. Tentamos contato com a dona do prédio. Já que ela não vai fechar e ninguém vai fazer nada. Nós empresários da região vamos se juntar, pagar e fechar. Se não queremos continuar sendo roubados, temos que fazer isso. Estamos dispostos a isso. São muitos anos nessa luta e esse problema vai continuar", ressaltou Rosane.
Só esse mês, relata, ela foi assaltada duas vezes. Os autores, na maioria das vezes, são pessoas em situação de rua que dormem no entorno do prédio. Na quarta-feira (14), um homem de 28 anos foi preso em flagrante na região, após furtar a placa de bronze do monumento da Imigração Japonesa, na Praça do Rádio Clube.
A voz de prisão foi dada por equipe da GCM (Guarda Municipal Metropolitana), que flagrou o homem andando com a placa em mãos na Rua Dom Aquino, sentido antiga rodoviária. Em depoimento, ele disse que pretendia quebrá-la para trocar os pedaços por drogas em uma "boca de fumo".
Não tem câmera, não tem alarme, não tem cachorro que impeça a ação deles. Enquanto não tiver políticas públicas para atender o dependente químico, o tráfico vai comandar", defendeu Rosane.
Outro comerciante, Alexandre Karue, de 29 anos, avalia que o local se tornou a "Cracolândia" de Campo Grande. Ele é proprietário de um brechó há 3 anos e já vivenciou de tudo, desde furtos até dejetos nas portas dos estabelecimentos.
"Um rapaz já morreu na minha frente. Usava droga, brigou com o rapaz e ele levou uma facada. Tinha criança olhando, todo mundo olhando. Aqui morre gente direto, para melhorar tinha que ter uma mudança completa. Como se você fosse mudar de uma casa para outra. Tinham que tirar eles daqui, colocar em uma clínica. Ajudar eles a sair dessa vida, tentar reabilitar eles para serem o que eram antes de entrar nessa vida. Que eles tenham esperança de uma chance", defendeu Alexandre.
Acolhimento - Em nota, a SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) alegou que atende a população de rua nas sete regiões da Capital, principalmente na região central e proximidades da antiga rodoviária, onde há maior concentração desse público.
O trabalho é realizado pelas equipes do Seas (Serviço Especializado em Abordagem Social), com abordagens sociais 24h por dia, que oferecem acolhimento institucional ou encaminhamento para tratamento da dependência química em Comunidades Terapêuticas, por meio da parceria com a SDHU (Subsecretaria de Direitos Humanos).
São 11 comunidades vinculadas à pasta, que dispõem de 300 vagas para tratamento da dependência química. No entanto, os dependentes químicos tem o direito garantido pela Constituição Federal de 1988, em seu Art. 5º, Inciso XV, de aceitar ou não os acolhimentos.
"É importante salientar que as equipes do Seas retornam por diversas vezes durante a semana, aos locais onde houve recusa de acolhimento, sempre na tentativa de convencer a pessoa sobre a importância de ser acolhido em uma de nossas unidades ou em alguma comunidade terapêutica", afirmou a secretaria.
Existem na Capital ainda o Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua), uma unidade de referência da SAS, voltado para o atendimento especializado à população em situação de rua.
Na unidade funciona o Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua, Migrantes, Imigrantes e/ou Estrangeiros e tem como finalidade oferecer atendimento a jovens, adultos, idosos e famílias que utilizam as ruas como espaço de moradia.
Também são oferecidas passagens de ônibus para as pessoas que necessitam chegar aos municípios, onde possuem vaga de trabalho garantida ou retaguarda familiar dos imigrantes chegados anteriormente ao Brasil e que já conquistaram a sua residência fixa.
Confira a galeria de imagens:
Obras - De acordo com Prefeitura, previsão é a entrega em dezembro de 2023, mas em julho, a prefeita Adriane Lopes (Patriota) garantiu que as obras da antiga rodoviária seriam concluídas ainda este ano.
A promessa não foi cumprida e até agora foram feitos serviços de demolição, locação de estacas, estrutura metálica da cobertura do telhado e em policarbonato, recorte da laje na Rua Vasconcelos Fernandes e retirada do asfalto antigo. Está previsto para os próximos 60 dias a execução das fundações, blocos e baldrames.
O contrato prevê investimento de R$ 15,3 milhões do Ministério do Desenvolvimento Regional, com contrapartida de R$ 1,2 milhão do município, totalizando R$ 16,5 milhões.
Ainda em julho, Adriana disse que iria redobrar os esforços para acolher os moradores em situação de rua e dependentes químicos que ficam no local. “Com a revitalização desse prédio, vamos fazer justiça social, pois as pessoas em situação de vulnerabilidade que estavam no entorno estão sendo acolhidas”.
A antiga estação rodoviária tem 30 mil metros quadrados. Construída na década de 1970 e desativada em 2009, o espaço passou por um processo de degradação ao longo dos anos. A meta é que o novo prédio abrigue a Sesdes (Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social) e a Funsat (Fundação Social do Trabalho).