Orientada a ficar 30 dias com feto morto, mãe denuncia maternidade
Ao dizer que procuraria serviço privado, médico mudou de atitude e disse que faria curetagem no mesmo dia
Feliz com a gestação, Meire Arce da Silva, de 36 anos, não esperava descobrir que seu bebê, de apenas oito semanas, estava morto em seu ventre. Ela soube disso ontem, em exames de rotina numa clínica particular. Com seu médico em atendimento de parto, ela foi orientada a procurar a Maternidade Cândido Mariano para que os procedimentos de retirada do feto pudessem ser feitos.
Entretanto, saiu de lá “sem chão” porque foi informada que, se quisesse realizar o procedimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde), teria que esperar de 15 a 30 dias para que a curetagem pudesse ser feita e a criança retirada. “Eu já estava abalada pelo que tinha acontecido e ainda teria que ficar 30 dias com a criança morta dentro de mim?”, lamentou.
Segundo Meire, ao ser acompanhada na maternidade, o médico que a atendeu fez exames de praxe, confirmou o óbito e disse que seu colo de útero estava fechado e que por isso não havia ocorrido sangramento. Sem este, a curetagem não poderia ser realizada.
A orientação então, foi para que ela voltasse em 15 dias para reavaliação e caso o feto não tivesse sido expelido, mais 15 dias deveriam ser esperados. “Ele disse que a medida era orientação da direção da maternidade”, disse Meire, que já é mãe de uma menina.
“Eu já estava com psicológico abalado e questionei a situação. Ia ter que ficar com uma criança morta dentro de mim por 30 dias? Isso não existe”, lamentou e disse ao médico que procuraria atendimento privado. “Em seguida ele me deu encaminhamento pra internação na área particular da maternidade e disse que ontem mesmo ele faria o procedimento de retirada”.
Indignada com o que chamou de descaso, ela conta ainda que o médico disse a ela que o procedimento de retirada do feto custaria R$ 3 mil, mas não chegou a ser internada. Ela reclamou também que o profissional da maternidade nem sequer lhe passou algum medicamento.
“Se você não tiver dinheiro vai ter que correr risco de uma infecção, de morrer? Ou fazer das tripas coração para poder pagar, porque pelo SUS não consegue fazer um procedimento ao qual você tem direito? Pra que existe o SUS então?”, questiona.
Saindo da maternidade, ela ligou para seu obstetra que a atendeu ontem à tarde. Ela estava com cólicas e o pedido dele foi para que ela aguardasse um dia, na tentativa de que o próprio corpo expelisse o feto. Ela saiu de lá com uma receita de antibiótico, para evitar infecções decorrentes da manutenção do feto sem vida dentro de si. “Como o feto nçao foi expelido, ele marcou procedimento para sexta-feira”, enumerou.
A reportagem entrou em contato com a Maternidade Cândido Mariano, por telefone e por e-mail. Resposta enviada às 11h45 desta sexta-feira, 2 de setembro, a direção da unidade afirma que "não compactua com a eventual conduta" e que o caso está sendo apurado e as devidas providências e que, caso seja necessário, "o mesmo será encaminhado à Comissão de Ética do hospital".
A Associação de Ginecologia e Obstetrícia de Mato Grosso do Sul também foi procurada para comentar sobre o protocolo em casos de morte fetal, mas também não respondeu.
A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que “não estava ciente do ocorrido e que, após a denúncia feita por este veículo, vai procurar a maternidade para questionar a postura adotada”. Em nota, a secretaria ainda disse que a situação deverá ser investigada, no sentido de saber “se houve alguma intercorrência ou irregularidade no atendimento, cujo serviço é contratualizado pelo Município, cabendo ao prestador a realização do mesmo, da melhor maneira”.
Ainda foi informado telefone da ouvidoria da Sesau para denúncias: 3314-9955.
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Matéria editada às 14h12 de sexta-feira, 2 de setembro de 2022.