Pacientes reclamam de falta de exames no Hospital do Câncer
Instituição afirma que tem tido déficit no orçamento mensal
Pacientes reclamam da falta de exames médicos realizados pelo HCAA (Hospital do Câncer Alfredo Abrão), tais como cintilografia e ressonância. A situação ocorre em meio ao déficit de R$ 770 mil mensais no orçamento da unidade hospitalar, conforme reportado pelo Campo Grande News anteriormente.
Atualmente, pacientes têm de fazer diagnósticos via rede particular, com procedimentos que custam por volta de R$ 700. Ao menos, um grupo com 32 pessoas que precisam realizar tais procedimentos reclama das dificuldades e tem divulgado campanha para que interessados possam ajudar a instituição.
A dona de casa Ingrid dos Santos Kalil, de 32 anos, trata câncer de mama há dois anos no Hospital do Câncer e relata que o atendimento piorou, desde então. “Quando comecei, o hospital era rápido e eficaz. Exames que não são feitos no hospital eram encaminhados para outros hospitais”.
Ingrid comenta que conseguiu curar a doença, mas que sofreu um aumento de metástase óssea, que provocou crise respiratória e até fratura em uma coluna. Segundo ela, a alteração é percebida através de exames de cintilografia óssea, que demoraram seis meses para serem feitos.
Uma das causas do aumento da minha metástase óssea foi a demora no exame. Aguardei seis meses na fila e fiquei à mercê da doença, e aí veio o acúmulo na região dos ossos. O prejuízo que tive foi uma coluna fraturada. Posso ter fraturas espontâneas e vir a óbito, e sem situação de colegas que são muito piores, pessoas que não têm recurso.”
Conforme apurado pela reportagem, o contrato do Hospital do Câncer com laboratório da Capital foi encerrado por falta de recursos para custear os repasses. Há dois anos, Ingrid fazia os diagnósticos na Di Imagem e, posteriormente, no CDC.
A radialista e consultora de estilo Eliza Montes, de 39 anos, relata que os pacientes têm tido dificuldade para agendar exames, no geral. Ela própria, que precisa de tratamento quimioterápico, detalha que não conseguiu marcar uma infusão duas vezes, por falta de medicamentos.
“Fui lá e estava faltando outro medicamento, porque tomo dois remédios na veia, para o tratamento. Pela terceira vez, consegui que o medicamento estivesse lá para eu poder fazer uso. Não posso tomar só um deles”.
Outro lado - A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) foi questionada e informou que o município mantém tratativas com o hospital e "com todos os prestadores de serviço para discutir questões contratuais de ordem financeira, bem como a possibilidade de ampliação dos serviços contratualizados".
"Cabe esclarecer que não há nenhuma pendência financeira por parte do município com o hospital e, como mencionado, as negociações estão em andamento para que seja mantido a integralidade dos atendimentos à população. O financiamento dos serviços de saúde é tripartite, ou seja, custeado pelo governo federal (Ministério da Saúde), Estado e município", diz nota encaminhada pela pasta.
O Campo Grande News indagou a administração do Hospital do Câncer, que destacou não ter serviço e equipamentos próprios para realizar exames de cintilografia e ressonância magnética. "São feitos por prestadores externos, cujos pagamentos encontram-se com pendências ou atrasos."
"Estes exames são de alta complexidade custam em média no mercado R$ 700 (cintilografia) e R$ 900 (ressonância) por exame. O SUS [Sistema Único de Saúde], cuja tabela está sem reajuste há mais de uma década, repassa para o HCAA apenas R$ 268,75 (ressonância magnética) e R$ 338,70 (cintilografia óssea) por exame, cujos custos adicionais são arcados pelo HCAA."
A instituição ressalta ser filantrópica e atender 99% de seus pacientes oriundos da rede pública. Além disso, destaca estar em "grave situação financeira".
"Atualmente, são realizados centenas de outros exames diretamente no hospital pelo nosso setor de imagens do HCAA, que realiza gratuitamente para o usuário mais de 1,3 mil exames por mês, entre raios-X, mamografias, ultrassons, tomografias, muito além do pactuado/contratualizado com o SUS."
O deficit é de R$ 770 mil por mês e ajuste foi solicitado em estudo apresentado para a prefeitura em janeiro deste ano, mas sem retorno, segundo o hospital. "Somos uma instituição filantrópica, atuando além de nossa capacidade, sempre buscando o melhor aos pacientes.
O HCAA faz 70% dos atendimentos oncológicos públicos de todo o Estado - em 2022, foram realizados mais de 180 mil procedimentos. "Desta forma, buscamos soluções conjuntas com os parceiros públicos para que unidos possamos continuar a prover com qualidade e celeridade os tratamentos aos pacientes oncológicos."