Para muitos, homenagem aos pais ocorre onde nenhum filho gostaria de estar
Movimento em cemitérios neste domingo, é de filhos cheios de histórias emocionantes com os pais
O Dia dos Pais é diferente para os filhos que já não podem abraçar seus “heróis”. Nos cemitérios da Capital, centenas de famílias se reúnem saudosas para homenagear mais um ano, a data com a figura paterna que já se foi. Na manhã deste domingo, no Cemitério Santo Amaro, não foi diferente dos anos anteriores, apesar da pandemia.
A autônoma Rosineide da Silva Campos, 38 anos, está há 11 anos sem o pai, que morreu de derrame e ataque cardíaco. “Venho no cemitério todos os Dias dos Pais e quando bate a saudade. Mas domingo de Dia dos Pais é tradição. A gente vem com enxada, vassoura pra limpar o túmulo. Reúne os outros irmãos e ficamos perto dele, lembrando do que vivemos. Tem outros familiares enterrados aqui, a gente aproveita pra visitar os túmulos deles também. A gente costuma ficar quase 2h aqui”, conta.
Já Daniele Pereira Coimbra, 20 anos, está começando a criar a lembrança com a filha de apenas 4 meses. “Vim trazer minha filha pra visitar o pai dela, Luiz Henrique, de 21 anos. Ele faleceu ano passado, no dia 5 de setembro, em acidente de moto. Nossa filha não conheceu o pai, eu ainda estava grávida quando ele morreu”.
A pequena se chama Luiza, em homenagem ao pai dela. “Hoje, é a primeira vez que ela vem ao cemitério. Queremos criar essa tradição com ela, de vir todo domingo de Dia dos Pais para lembrar quem é o pai dela. Ela não conheceu em vida, mas acho importante deixar ele vivo na memória”.
Com a mãe, o irmão e a irmã e um dos sobrinhos, a dona de casa Silvia Infran, 42 anos, também fazia a limpeza do túmulo do pai dela, que faleceu há três anos, vítima de câncer. “Desde então, a gente vem sempre no cemitério. Viemos ontem pra limpar o túmulo dele e hoje por conta do Dia dos Pais. A gente faz questão de manter o túmulo dele sempre limpo e com flores. É uma forma de lembrar tudo que vivemos com ele. Sinto muita saudade. No dia de hoje, ele estaria assando uma carne pra gente, era o assador da família, a gente reunia todos os irmãos e netos. Agora, é um dia muito triste”, lamenta.
Conforme apurado pela reportagem no local, o movimento pela manhã está maior do que o registrado no Dia das Mães. Mas ainda existia a expectativa que o fluxo de pessoas pudesse aumentar com a proximidade do horário de almoço.
A proprietária da Pax Nacional, Nilma Ribeiro Cardoso, 66 anos, conta que o movimento hoje, está menor que do ano passado, por causa da pandemia. “Ano passado, ainda estava no começo do coronavírus e as pessoas não acreditavam tanto na covid. Tinham menos medo. Agora, depois de 1 ano e meio de pandemia e com tantas mortes, as pessoas perceberam que a pandemia era forte mesmo. Antes da covid, o movimento maior era no começo da manhã e final do dia, mas agora, eu percebo que as pessoas vem em horários mais espaçados.”
No cemitério Parque das Primaveras, estava o motorista, Luiz Mario, 45 anos. O pai dele faleceu ano passado, por infecção generalizada. “Vim no Dia dos Pais como respeito e pra matar a saudade. Ele faz muita falta, a gente viveu muita coisa juntos. Eu rezo do lado dele e fico lembrando do que vivemos”, disse bastante emocionado, após acender uma vela e visitar o túmulo do pai.
A economista Renata Farias, 27 anos, perdeu o pai há três anos, em um acidente de trânsito, na saída para Ribas do Rio Pardo. “Sinto uma saudade infinita e profunda. Converso com ele como se ele ainda estivesse aqui, vivo, porque pra mim ele nunca foi embora. Hoje, eu sigo os passos deles, na mesma profissão, e sou muito feliz pelo aprendizado que ele me deixou, tenho certeza que ele tá muito orgulhoso. Conto pra ele o que acontece na minha vida, minhas conquistas e alegrias. Todos os Dias dos Pais, eu venho e vou continuar vindo”.
De terno e gravata, o monitor de alunos, Mauro Hiromi Ishiy, 63 anos, visitava o local para homenagear o pai que morreu em 2005, de AVC. “Venho nas datas comemorativas visitar os dois, meu pai e minha mãe, que estão enterrados juntos. Eu sinto um peso enorme por não estar aqui quando eles morreram. Eu estava no Japão trabalhando e não pude estar aqui por eles”, revela.
Com o tempo, Mauro conta que aprendeu a lidar com o sentimento. “No começo, eu sentia muita tristeza, arrependimento, mas agora me sinto tranquilo e em paz. Venho pra agradecer a vida que me deram, por tudo que me deram, tive uma vida muito boa. E venho de terno e gravata como uma forma de honrar eles, e também pra estar arrumado pra missa”.