Pesquisa mostra contaminação de três escolas com fungos de pombos
Pesquisa de mestrado da UFMS constatou a presença do fungo em fezes deixadas por pombos em escolas
Três escolas municipais em Campo Grande estão com risco de causar a doença criptococose, que ataca, especialmente, pessoas com sistema imunológico comprometido. A doença é causada por fungos do gênero Cryptococcus, principalmente Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii. Nas escolas, o problema é o excesso de pombos, já que entre outros "ambientes", os fungos surgem nas fezes dessas aves.
Quem realizou a descoberta é biólogo e professor Dario Corrêa Junior, com orientação da professora Marilene Rodrigues Chang. A pesquisa é fruto do projeto de mestrado “Investigação de Cryptococcus no ambiente escolar em Campo Grande/MS”, no programa de Doenças Infecciosas e Parasitárias da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
Em razão do termo de sigilo, Dario não pode revelar o nome das escolas, mas afirma que as unidades estão no centro e na região do segredo. Para identificar o problema, ele analisou o ambiente de 85 escolas. O número excessivo de pombos, explica, ocorre em ao menos 60 colégios municipais.
“É um fungo encontrado no mundo em excrementos de pombo e em árvores em decomposição. Esse fungo é adaptado ao ambiente, ele utiliza os nutrientes para se reproduzir”, conta. O risco de contrair a doença, explica Dario, é maior para pessoas com comprometimento do sistema imune, como transplantados, hiv positivos e diabeticos, mas também pode acometer indivíduos com sistema imunológico “competente”, ou seja, com funcionamento normal.
Os sintomas da doença, que incluem dores de cabeça, rigidez na nuca e febre, comenta, são comuns e dessa forma, confundem médicos no momento do diagnóstico. O perigo da criptococose é o ataque ao sistema nervoso central. “Esse fungo tem um tropismo, uma predileção pelo sistema nervoso central, porque o liquor, o líquido do sistema nervoso central, tem algumas substâncias que ele utiliza como nutrientes, lá ele se reproduz melhor. A pessoa pode ficar cega”, esclarece o biólogo.
“Eles [pombos] são um problema, por isso escolhi fazer essa pesquisa, eles transmitem outras doenças, mas isso mostra que Campo Grande tem um problema de saúde”, afirma.
Pesquisa – O interesse pelo assunto, segundo o cientista, começou ainda durante o curso de biologia, por meio de pesquisa de iniciação científica. “Quando fui fazer mestrado resolvi estudar cryptococcus, como sou professor, pensei nas escolas”, explica.
Os resultados levaram Dario até o Chile, onde ele apresentou o projeto de mestrado no Congresso Latino Americano de Microbiologia, em Santiago. Durante o mestrado, o pesquisador realizou curso de diagnóstico molecular para infecções fúngicas na Fiocruz (RJ) e de identificação molecular de Cryptococcus no Instituto Adolfo Lutz (SP).
“Em cada escola coletei 10 amostras. Tive um total de 600 amostras, tive que trazer para o laboratório, isolar o fungo nesse experimento e eu tinha que fazer dois testes, de identificação fenotípica, para saber qual a espécie e outro objetivo era fazer a identificação molecular”, comenta.
Disseminar conhecimento – Como resultado da pesquisa, Dario desenvolveu uma cartilha, acessível e com informações de fácil compreensão (clique aqui para ter acesso). Além do documento, ele vai desenvolver um projeto de extensão. O objetivo é informar os professores da rede municipal sobre o assunto.
“Eu recebo uma bolsa do governo, eu acho que a gente tem obrigação de devolver pra sociedade. Eu vou falar sobre o ambiente, o solo, uma médica vai falar sobre a parte clínica e a minha orientadora, farmacêutica, vai falar sobre o diagnóstico”, revela.
A Semed (Secretaria Municipal de Saúde) afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que “para conter a entrada de pombos nas unidades escolares, está colocando nos prédios, nos locais de acesso das aves, telas de metais para inibir a entrada dos pássaros”.