PMs dizem que 'Coreia' foi isolado em Companhia por "motivos de segurança"
Corregedoria da PM tem prazo total de até 60 dias para conclusão de inquérito aberto para apurar conduta dos policiais militares, que não foram afastados das funções e já falaram sobre o ocorrido
A Corregedoria da PM já terminou a oitiva dos três policiais militares citados nominalmente pelo Ministério Público Estadual e que são investigados pela acusação de favorecerem o policial rodoviário federal Ricardo Hyun Su Moon, 47 anos, chamado de ‘Coreia’ pelos amigos, durante o atendimento do caso de assassinato do empresário Adriano Correia do Nascimento, 33, no último dia 31 de dezembro. Na alegação dada, dizem que isolaram o acusado "por motivos de segurança."
Segundo informações obtidas pelo Campo Grande News com integrantes do órgão que preferem não se identificar, os policiais, que não foram afastados de suas funções, alegaram que não houve favorecimento em suas falas. As investigações, contudo, continuam.
Em depoimento na última semana, um dos policiais disse que Moon ficou o tempo todo sob custódia e que só foi retirado do local do crime e levado à sede da 5ª Companhia, que atende a região central de Campo Grande, pelo risco de ficar exposto no local do fato, na avenida Ernesto Geisel.
“Colhemos os depoimentos iniciais e como haviam vítimas sobreviventes, muitas testemunhas ao redor e ele (‘Coreia’) se identificou como policial, achamos melhor deixá-lo em lugar seguro até que tudo fosse resolvido. Em nenhum momento ele teve privilégios. Apenas foi isolado para que a autoridade judicial (delegado) decidisse o que fazer”, disse um dos policiais ouvidos, conforme trecho do Inquérito Policial Militar aberto lido à reportagem.
Na última terça-feira, durante o anúncio de que ‘Coreia’ foi indiciado por homicídios doloso (quando há a intenção de matar) e as duas tentativas contra os amigos da vítima fatal, delegados que agiram no caso já haviam minimizado a exigência do MPE-MS em apurar as denúncias de peculato (desvio de conduta por abuso de confiança pública) e prevaricação (retardar ou não praticar funções por interesse próprio) dos agentes que atuaram no dia.
“Se tratava de um caso muito complexo. A Polícia Militar ficou o tempo inteiro comigo para verificar qual seria essa decisão preliminar. Não posso falar que a PM deu voz de prisão, porque precisava da interpretação pericial e do delegado de polícia”, disse o delegado Enilton Zalla, que foi ao local do fato após a Polícia Civil ser acionada.
Responsável pela investigação do caso, a delegada Daniela Kades justificou que ‘Coreia’ não foi algemado durante as quase seis horas que ficou à disposição das polícias “porque não oferecia perigo.” “Somente acusados que ofereçam resistência podem ser algemados. Algemá-lo poderia até caracterizar abuso de autoridade”, disse.
Oficialmente, a Sejusp (Secretaria Estadual da Justiça e Segurança Pública) não se manifesta sobre a investigação da Corregedoria. O tenente-coronel Luís Fernando Carvalho, corregedor adjunto da Corporação, destacou apenas que o órgão tem 40 dias, prorrogáveis por mais 20, para concluir o IPM.
O MPE questiona a Pasta sobre o fato de no dia do ocorrido, Moon não ter sido algemado, ter descido várias vezes da viatura onde estava 'isolado' para discutir com as vítimas quando contrariado e depois ter trocado de roupa na sede da PM e ido à Depac (Delegacia de Pronto Atenbdimento Comunitário) da região central por conta própria, ao lado de um advogado e de um superior na PRF.
O Caso – Moon permanecerá na carceragem na sede do Garras (Delegacia Especializada e Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), onde está preso desde o último dia 5, quando a Justiça voltou a trás de sua própria decisão inicial de conceder liberdade provisória ao acusado no dia ocorrido e acatou o pedido de prisão preventiva feito pelo MPE.
O ato virou motivo de discórdia entre a Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso do Sul e a Justiça, com troca de desabafos por meio de notas oficiais das associações correspondentes.
Conforme foi recapitulado pela perícia em reconstituição realizada no último dia 11, Ricardo Hyun Su Moon conduzia sua Mitsubishi Pajero prata naquela manhã em sentido à rodoviária, onde embarcaria para Corumbá (a 419 km de Campo Grande), seu posto de trabalho na PRF. Após uma suposta briga de trânsito, ele atirou sete vezes contra a Hilux branca do empresário.
Nascimento, dono de dois restaurantes japoneses na cidade, morreu na hora, perdeu o controle do veículo e bateu em um poste. Um jovem de 17 anos que o acompanha foi baleado nas pernas. Outro acompanhante no veículo, um supervisor comercial, de 48, quebrou o braço esquerdo e sofreu escoriações com a batida. Ambos foram socorridos conscientes.
Em seu depoimento, Moon disse que agiu em legítima defesa. Afirmou que as vítimas não o obedeceram mesmo após ele se identificar como policial, que tentaram lhe atropelar ao fugir dele e que viu um objeto escuro que poderia ser uma arma na mão de uma das vítimas. Repetiu a alegação durante a reconstituição e foi confrontado pelas duas testemunhas sobreviventes.
O advogado de ‘Coreia’, Renê Siuf, disse ao Campo Grande News que ainda não teria tido acesso à acusação formal da Polícia Civil, que está em São Paulo (SP) e se integraria sobre o caso apenas na próxima quinta-feira (19).
A polícia revelou nesta manhã que o PRF fez três ligações ao Ciops (Centro Integrado de Operações de Segurança), pedindo reforço, a presença do Batalhão de Trânsito e um bafômetro. Não se sabe, no entanto, o que de fato o motivou a fazer os sete disparos.
O MPE terá agora 15 dias para formalizar a denúncia de Moon à Justiça. Segundo a polícia, alguns laudos, como o da própria reconstituição, serão anexados posteriormente ao inquérito.