Psiquiatra fica duas horas em presídio para examinar agressor de Bolsonaro
Adelio Bispo de Oliveira está no Presídio Federal em Campo Grande desde o dia 8 de setembro e passou por exame nesta tarde
Adélio Bispo de Oliveira, preso desde o dia 6 de setembro por esfaquear o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), passou por avaliação psiquiátrica na tarde desta sexta-feira (21), no Presídio Federal de Campo Grande. O exame foi feito por um profissional contratado pela própria defesa, na intenção de produzir um laudo técnico de sanidade mental do interno.
Dependendo o resultado, esse laudo, segundo o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, vai subsidiar um novo pedido à justiça para o exame de sanidade mental, negado pelo juiz Bruno Savino, da 3ª Vara da Justiça Federal em Juiz de Fora, no dia 10 de setembro.
Foram cerca de duas horas de entrevista com o médico psiquiatria forense Hewdy Lobo, onde Adélio deu detalhes sobre sua vida. Ao Campo Grande News, o profissional explicou que a conversa com o interno aconteceu em um das salas do presídio, com “sigilo profissional e maior liberdade possível” entre médico e paciente.
“Foi uma das atividades, digamos, mais adequadas que eu já fiz do ponto de vista tanto do estabelecimento penal, como por parte também do avaliando, o que contribuiu para que todas, ou quase todas, as informações que fossem necessárias para a produção deste parecer técnico psiquiátrico forense fosse produzido”, afirmou o psiquiatra.
O médico explicou ainda que para “uma boa avaliação”, a entrevista aborda o histórico de vida do indivíduo, desde o nascimento, o modo como desempenhou a escola, no que trabalhou e se teve ou não necessidade de busca de tratamento médico ou psiquiátrico. Além disso, avalia aspectos cognitivos (como memória, atenção e concentração), o humor, os afetos e os comportamentos. “Como a capacidade de se controlar diante de estímulos adversos e que contrariam a opinião, por exemplo”.
“O objetivo principal de uma atividade de psiquiatria forense é avaliar em primeiro lugar se esta pessoa apresenta ou não doença mental, e em caso de apresentar doença mental, o quanto essa influência, repercute, limita, ou exagera no comportamento do indivíduo em relação às leis”, detalhou.
Segundo o psiquiatra, o laudo deve ficar pronto em uma semana, prazo combinado com a defesa de Adélio. Conforme o advogado do interno, laudos médicos produzidos pelos profissionais que atenderam o cliente dentro do presídio federal também serão analisados por Hewdy Lobo.
“Nós tomamos conhecimento que o Adélio foi consultado por psiquiatras aqui do sistema prisional federal, também assistente social, e disso há laudos. Esses documentos que existem acerca desses atendimentos também servirão de material a robustecer esse laudo técnico, essa análise, que o nosso perito irá fazer”, explicou.
Ainda conforme Zanone, se o resultado da análise for negativo, a defesa não fará nada, apenas irá esperar a manifestação da procuradoria da república. No entanto, se o laudo provar que Adélio tem qualquer tipo de distúrbio mental, um novo requerimento de incidente de sanidade mental, com todo o material colhido, será enviado à justiça federal.
Se o pedido for acatado, o juiz determinará um perito oficial federal para realizar um novo exame em Adélio. As partes envolvidas no processo, ou seja, defesa, assistência de acusação (formada por advogados de Bolsonaro) e a procuradoria da república, também poderão indicar psiquiatras para avaliar se no momento do atentado o suspeito sofria de alguma doença mental.
“O Adélio é muito politizado, uma pessoa que discorre bem, que sabe concatenar as ideias. Adélio tem uma cognição, um conhecimento espacial e temporal muito bom, então em uma percepção superficial, você não consegue constatar um distúrbio, aí entra o especialista. Muitas vezes a pessoa vive uma vida toda dentro de uma aparente normalidade, para de repente ter um ato de brutalidade, um dia de fúria, como foi do dia 6", defendeu Zanoni, lembrando que o cliente desafiou não só os seguidores do candidato a presidência, como a própria segurança da Polícia Federal para cometer o crime.
“Qualquer pessoa que tenha um bom senso, em análise daquele cenário fático, chegará a conclusão que aquele atentado saiu da curva de normalidade, é um ponto fora da curva. Adélio partiu naquele dia para uma missão kamikaze. Ele nos confidenciou: ‘eu achava que morreria naquele dia, que eu não voltaria para casa’”.
Zanone defendeu ainda que além desses indícios, Adélio também revelou já ter feito o uso de medicamento controlados, acompanhamento psiquiátrico e consultas com neurologistas. “Ele já apresentava problemas de ansiedade e insônia, então isso é material fático”, concluiu.
Adélio está no Presídio Federal em Campo Grande desde o dia 8 de setembro, quando foi trazido à Capital após passar por audiência de custódia e ter a prisão em flagrante convertida em preventiva. No período de adaptação, às visitas são proibidas, a não ser dos advogados. Na unidade, os internos são monitorados 24 horas por ao menos 200 câmeras de segurança.