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Capital

Quatro dias depois de operação no "Carandiru", moradores ligam 'gato' de energia

Outros moradores, no entanto, relatam que ainda estão à base de luz de velas

Gabriela Couto, Ana Beatriz Rodrigues e Gustavo Bonotto | 10/06/2023 10:59
Moradora do condomínio vizinho registrou energia em um dos blocos, na noite desta sexta-feira (10) em local conhecido como Carandiru. (Foto: Direto das Ruas)
Moradora do condomínio vizinho registrou energia em um dos blocos, na noite desta sexta-feira (10) em local conhecido como Carandiru. (Foto: Direto das Ruas)

Uma leitora do Campo Grande News, que não quis se identificar, reclamou que o serviço de energia no antigo Residencial Atenas, conhecido como "Carandiru", no Conjunto Mata do Jacinto, foi reestabelecido nesta sexta-feira (9).

A suspeita é que alguns moradores fizeram ligação ilegal, os chamados 'gato' de energia para ter luz novamente. Vizinha do condomínio que foi alvo da operação “Abre-te Sésamo”, deflagrada na manhã de terça-feira (6), diz ser contra a atitude.

"Querendo ou não, prejudica a gente por conta dos furtos. Acho uma sacanagem”, acrescentou a mulher. A concessionária informou ao Campo Grande News que não fez qualquer procedimento de religação de energia no local (nota abaixo).

Pedreiro Gordolino abriu a porta do apartamento para a reportagem e explicou técnicas para 'não ficar no escuro'. (Foto: Alex Machado)
Pedreiro Gordolino abriu a porta do apartamento para a reportagem e explicou técnicas para 'não ficar no escuro'. (Foto: Alex Machado)

A reportagem foi até o local na manhã deste sábado (10) e encontrou duas lâmpadas acesas. Uma que servia como refletor que iluminava um dos blocos, de cima do prédio, focando para o quintal e uma lâmpada no corredor que dava acesso a estrutura de uma casa construída de forma improvisada entre na entrada dos blocos.

Um dos moradores, identificado apenas como Gordolino, afirmou que continua sem energia há quatro dias. “Estou sobrevivendo à base de vela. Para que elas durem mais tempo eu coloco sebo de carne e algodão para que elas não se apaguem tão rápido. Quando acaba, tenho uma lanterna. Quanto aos vizinhos não sei e não vou falar da vida dos outros”, explicou.

Sebo de carne e algodão são os ingredientes para fazer com que velas durem mais tempo acesas. (Foto: Alex Machado)
Sebo de carne e algodão são os ingredientes para fazer com que velas durem mais tempo acesas. (Foto: Alex Machado)

Quem também tem improvisado é outra moradora de 37 anos, que não quis dar o nome, e disse não saber de ontem vem a fonte de fornecimento da energia para as lâmpadas. “Eu continuo sem luz e perdi tudo o que tinha na geladeira. Estou me alimentando na casa da minha mãe, que mora próxima daqui e carrega o celular na vizinha”.

Em nota, a Energisa esclareceu que “diante das inconformidades estruturais e de segurança, apresentadas no prédio (condomínio) pelo Corpo de Bombeiros e existência de furto de energia generalizado no local, informado pelo Instituto de Criminalística Hercílio Macellaro, segue em contato com a Defensoria Pública e Polícia Civil para adotar quaisquer providências”.

Lâmpada acesa no corredor entre os blocos, onde uma casa foi construída de forma improvisada. (Foto: Alex Machado)
Lâmpada acesa no corredor entre os blocos, onde uma casa foi construída de forma improvisada. (Foto: Alex Machado)

Abre-te Sésamo - Com 46 apartamentos alvos de buscas, a operação foi deflagrada na manhã de sexta-feira (6), contra a criminalidade dentro do condomínio invadido há 19 anos. “Centro de criminalidade”. Foi assim que a Polícia Civil se referiu à área. Foram 13 pessoas presas, entre elas duas mulheres e um adolescente.

O delegado Régis de Almeida, da 3ª Delegacia de Polícia e um dos responsáveis pela ação, contou que durante a busca e apreensão no prédio foi identificado um espaço com muitas marcas de sangue e fezes.

Chamado de “cantoneira”, a área encontrada era certamente usada para torturar, castigar e matar desafetos ou pessoas que desrespeitavam as regras dos líderes da localidade.

Carandiru - Há quase duas décadas, o imóvel se tornou situação incômoda. No processo, consta que a construção dos três blocos que fazem parte do Residencial Atenas (A, B e C) ficou pelo caminho a partir de 2002, quando a Construtora Degrau Ltda passou a enfrentar dificuldades financeiras.

No projeto, cada bloco teria 16 apartamentos, com três quartos, sala, cozinha e dois banheiros. Em 2003, a empresa decretou falência e, um ano depois, no dia 1º de outubro de 2004, famílias ligadas ao Movimento Nacional em Prol da Luta pela Moradia invadiram os apartamentos.

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