Réus negam crimes em júri por sequestro de pai e filho, além de assassinato
Os dois são acusados de participação, de dentro do presídio, no chamado Tribunal do Crime
Durante julgamento realizado nesta sexta-feira (30) na 2ª Vara do Tribunal do Júri, Hamilton Roberto Dias Júnior, 37 anos, e Danilo Richele da Silva Fernandes, 21 anos, negam participação no sequestro e assassinato de José Carlos Louveira Figueiredo, 41 anos, e do filho dele, que na época tinha 16 anos. O crime aconteceu em novembro de 2017. Os dois são acusados de participar, de dentro do presídio, no chamado Tribunal do Crime.
José Carlos foi decapitado e teve o corpo jogado na cachoeira do Céuzinho no dia 18 de novembro daquele ano. A morte é atribuída à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) . Sob acusação de pertencer à facção rival CV (Comando Vermelho), José Carlos foi condenado à morte e o filho dele foi 'absolvido', por isso sobreviveu, segundo a investigação da polícia na época.
Com passagens por tráfico e homicídio, o primeiro a ser ouvido foi Danilo, que está preso há 3 anos e 4 meses na PED (Penitenciária Estadual de Dourados). Ao juiz Aluízio Pereira dos Santos, o réu disse que não conhece os outros acusados, nem de vista.
Afirmou também que não conhecia a vítima. “Não é verdadeira a acusação, não tive participação. Me pegaram na linha como mandante. Não tem áudio meu, até agora não me apresentaram nada. Não fui o mandante desse fato”, disse. Afirmou também que não usa telefone celular na cadeia.
Em maio do ano passado, Danilo foi condenado a 15 anos de prisão por ter mandado matar o jovem Fernando do Nascimento dos Santos, 22 anos, encontrado esquartejado no dia 16 de agosto de 2017, no Bairro Los Angeles.
Preso há cerca de 7 anos, Hamilton, conhecida como Muringa, tem passagem por assalto e tráfico de drogas. Ele também negou participação, disse que não conhecia Danilo, muito menos a vítima. “Pedi até um reconhecimento de voz, porque na verdade eu estou sendo vítima nesse caso. Eu não tenho envolvimento nenhum. Eu só tenho Deus e a defensoria pública por mim, Nego ter feito uso de celular dentro do presídio e a voz não é minha. Quero ter o direito de seguir minha vida, ver minha família e criar minhas filhas”, afirmou. O resultado do julgamento será divulgado no fim do dia.
Operação - Em setembro deste ano, Hamilton (um dos dez alvos da Operação Yin-yang) foi condenado pela 4ª Vara Criminal de Campo Grande. Ele cumpria a função de “geral do estado”, mas numa melhoria de cargo passou a ser “Ponteiro do Resumo do Cadastro dos Estados e País” e na sentença recebeu pena de 12 anos.
Decorrente de investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), a operação revelou a atual estrutura da facção e a identidade de integrante da cúpula da facção. Ao todo, 48 integrantes do PCC foram alvos das ações do ano passado e viraram réus em cinco processos na justiça.
Preso na Penitenciária Jair Ferreira de Carvalho, a Máxima de Campo Grande, Hamilton também já marcou presença na operação Echelon, do Ministério Público de São Paulo. Ele aparece em gravação explicando para uma interlocutora a importância de Mato Grosso do Sul para o PCC. Na ligação, ele destaca que há guerra de facções porque o Estado faz fronteira com dois países.
“Oh..depois você entra ai na internet, só para você ver as minhas obras de arte que eu faço na rua, e coloca tribunal do crime no MS, brigas de facções”, diz. A pessoa pergunta se o nome dele aparece também e ouve a resposta. “Lá eu não sei se tá, mas na boca da polícia tá”, disse o preso, em uma das ligações interceptadas.