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Capital

Santa Casa “demite” 13 radiologistas e monta laboratório de imagem próprio

Hospital vai abrir as portas para examinar pacientes do plano Santa Casa Saúde, outros convênios e particulares

Anahi Zurutuza | 10/10/2019 10:50
Santa Casa de Campo Grande, o maior hospital de Mato Grosso do Sul (Foto: Paulo Francis/Arquivo)
Santa Casa de Campo Grande, o maior hospital de Mato Grosso do Sul (Foto: Paulo Francis/Arquivo)

A partir de segunda-feira, a Santa Casa de Campo Grande terá laboratório próprio de diagnósticos por imagem. O hospital decidiu romper os contratos com as empresas formadas por 13 radiologistas, terceirizar as análises para uma central que funciona em São Paulo (SP), remanejar integrantes do corpo clínico já existente e abrir as portas do laboratório para atender pacientes de forma particular, do plano Santa Casa Saúde e outros convênios.

A “demissão” dos médicos, alguns deles atuantes há cerca de 40 anos no hospital, causou certo desconforto. O Campo Grande News teve acesso à nota distribuída aos colegas onde os radiologistas afirmam não saber o motivo da “repentina quebra contratual” e falam em “interesses ocultos”.

O texto assinado pelo médico Paulo Milton Rodrigues denuncia ainda que as empresas dos radiologistas não recebem pelos serviços prestados há quatro meses.

“Nossas competências e qualificação profissionais jamais foram questionadas, os valores cobrados (no raio-x média de R$ 5 por laudo) são dos mais parcos possíveis. Os laudos também são entregues com o máximo de zelo e absolutamente dentro do prazo”, diz trecho da nota, que completa “ao longo desses 40 anos em serviço, cumprimos, mesmo diante das intempéries contratuais e frequentes atrasos, que atualmente está com saldo de 4 meses em débito, a prestação do serviço, de forma presencial, ética e em respeito tanto ao corpo clínico quanto aos pacientes da Santa Casa”.

Esacheu Nascimento, presidente da Santa Casa, em entrevista (Foto: Marina Pacheco/Arquivo)
Esacheu Nascimento, presidente da Santa Casa, em entrevista (Foto: Marina Pacheco/Arquivo)

Estratégia – Para a troca da prestadora dos serviços, o presidente do hospital, Esacheu Nascimento, afirma que se trata de uma “nova estratégia de negócios”, uma forma de arrecadar recursos para o hospital filantrópico e deixar de depender somente do SUS (Sistema Único de Saúde). Até agora, os raio-x, tomografias e ressonâncias eram feitos somente em pacientes internados. A ideia é passar a receber pessoas de fora que necessitam de exames e paguem por eles.

“Precisamos aumentar a receita privada para manter o hospital, por causa dos atrasos constantes da prefeitura e governo”, afirmou o presidente.

O grupo de médicos “demitidos” questiona porque não foram consultados antes da contratação da nova terceirizada. “Se esse novo contrato é um contrato mais barato, deveriam no mínimo ter tentado negociar conosco. Se não há diferença de valores e nem insatisfação apontada, não se imagina o porquê de trocar uma equipe que presta serviço há anos”, diz o texto.

Esacheu alega que para a “nova estratégia”, manter os mesmos terceirizados seria conflitante. “Eles [os radiologistas] também têm outros serviços na cidade, acabam sendo concorrentes da Santa Casa”.

O presidente explica que a Teleimagem, nova contratada, assume o serviço na segunda-feira (14). Os exames são prescritos pelos médicos do hospital e executados pela equipe própria, mas as imagens são enviadas por meio de sistema informatizado para a central de análises que devolve, também pela internet, o laudo. “Hoje temos quase 30 pessoas trabalhando no diagnóstico por imagem. Com esse serviço, vamos baixar para algo em torno de 15 pessoas. A ideia é sempre economizar”.

Pacientes ficam em média 8 dias internados e meta é reduzir tempo de permanência (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Pacientes ficam em média 8 dias internados e meta é reduzir tempo de permanência (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Tempo de permanência – Esacheu defende que a mudança vai ainda contribuir para reduzir o tempo de permanência do paciente no hospital. “O laudo que aqui demora de 2 a 3 dias para ficar pronto, vai sair no mesmo dia. A média de permanência dos nossos pacientes hoje é de 8 dias. Para baixar esse tempo, todo serviço precisa contribuir”.

O presidente não soube informar quantidade de exames de imagem realizados hoje na Santa Casa e nem o quanto o hospital deve às empresas dos 13 radiologistas. Disse somente que o hospital tem de 600 a 700 pacientes internados e que a maioria que dá entrada no hospital precisa passar por ao menos uma radiografia, principalmente as pessoas levadas para a ortopedia.

Esacheu Nascimento também não divulgou a tabela dos preços que serão cobrados pelos exames, porque por enquanto não vão mudar. “Temos uma tabela social. Então se hoje uma ressonância custa R$ 1 mil no mercado, pela tabela social a gente consegue fazer a R$ 600. Mas a intenção é diminuir os valores. Vai depender da demanda”.

O laboratório continuará funcionando no subsolo do hospital, mas a previsão é que em 60 dias, uma recepção com entrada pela Rua Rui Barbosa seja construída.

O Campo Grande News tentou contato com o médico Paulo Milton Rodrigues para ter mais detalhes sobre a dívida que o hospital tem com as empresas que perderam os contratos, mas foi informada na Proexames, empresa dele, que o mesmo está em viagem e só poderia conversar com a reportagem na próxima semana.

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