Sem dinheiro, lar que atende crianças soropositivas vai fechar as portas
"Aqui na minha casa, a notícia foi devastadora. Minha filha mais velha chorou. Eles davam amor para elas", diz mãe
A expectativa era de uma reunião de boas-vindas, mas o encontro com a direção do Lar dos Sonhos Positivos, novo nome da Afrangel (Associação Franciscanas Angelinas), terminou em choro de tristeza: a entidade anunciou que vai fechar as portas.
Criada em 1996 e com atendimento a crianças e adolescentes vivendo e convivendo com HIV/Aids, o lar está com as contas no vermelho e, conforme relatado por mães, não consegue arcar com a despesa de R$ 150 mil por mês.
“No começo do mês, fomos orientados a fazer a rematrícula entre os dias 2 e 12 de janeiro. Fomos lá, fizemos a matrícula e foi tudo tranquilo. Depois, recebemos uma mensagem chamando para reunião na quinta-feira. A irmã informou que a instituição está no vermelho e não tem mais condições de ficar com as portas abertas”, afirma uma mãe, de 29 anos, sobre a reunião no último dia 17. Soropositiva, ela tem três filhas na instituição.
De manhã, o ônibus da entidade busca as crianças em todas as regiões de Campo Grande e as leva para Ceinf (Centro de Educação Infantil) e escola. O trajeto começa de madrugada, com a primeira parada às 4h para pegar passageiro.
À tarde, os veículos levam as crianças para o Lar dos Sonhos Positivos, no Jardim Seminário. “Elas almoçam, fazem atividades. Tem a nutricionista que faz o acompanhamento do peso e tamanho das crianças, com dieta balanceada; os psicólogos. É muito amor, carinho e cuidado”, conta a mãe.
Diante da notícia de que a Afrangel não retomará as atividades em 4 de fevereiro, um grupo de mães se reuniu e busca doações, com benfeitores fixos, para evitar o fechamento.
São atendidas 45 crianças e existe fila de espera. “Elas são muito bem atendidas. Aqui na minha casa, a notícia foi devastadora. Minha filha mais velha chorou. Eles davam amor para elas”, diz.
A reportagem também conversou com uma mãe de 39 anos. “Eu adotei uma filha que foi exposta ao vírus, não foi detectado, graças a Deus, mas que é atendida lá logo que nasceu”, diz.
Ela relata dificuldades para conseguir atendimento na área de infectologia pediátrica. “Tem médicos e remédios que só eles conseguem. Tem apoio que a gente consegue só através do lar”, afirma.
Segundo ela, o fechamento foi anunciado e os pais orientados a procurarem escolas perto de casa. “Mas o período já fechou. Tem mãe desesperada por vagas”, diz.
Trabalho - O Lar dos Sonhos Positivos presta atendimento social, médico e escolar gratuitamente. São cerca de 20 profissionais que atuam desde o agendamento de consultas e busca de medicamentos por meio do SUS (Sistema Único de Saúde) até ao apadrinhamento para exames, que podem custar mais de R$ 2 mil.
Também oferece mensalmente cesta básica a famílias de baixa renda. O Campo Grande News entrou em contato com a entidade, a direção informou que só vai se manifestar para a imprensa na próxima semana, após reunião agendada para quarta-feira.