"Sempre faltará você", lamenta prima de jogador esquartejado
Nas redes sociais, jovem publicou texto e pediu justiça; ex-namorada foi presa e outro suspeito está foragido
"Nossa família sempre faltará um pedaço. Sempre faltará você". O trecho é de um texto publicado nas redes sociais pela médica Andressa Skulny, de 31 anos, prima do jogador de futebol Hugo Vinícius Skulny Pedrosa, de 19, esquartejado após sair de uma festa na cidade paraguaia de Pindoty Porã, que faz fronteira com Sete Quedas - a 471 km de Campo Grande. Os restos mortais foram localizados no Rio Iguatemi, no domingo (2).
A prima preferiu não conceder entrevista por enquanto, mas permitiu que o Campo Grande News reproduzisse a publicação feita nas redes sociais. No texto, ela descreve a aflição dos dias em que Hugo ficou desaparecido. "Nunca iria imaginar essa situação. Quando ela chegou, meu coração já me disse o que tinha acontecido, mas eu não esperava que era com tanta crueldade. Como essas pessoas fizeram isso com você? Como elas nos deixaram esses 7 dias sem nenhuma notícia sua?", questiona.
A prima relata por várias vezes no texto a falta que o menino "bom de bola, marrento e sorridente" fará, principalmente para a avó. "Espero que esteja em um lugar bom, que não tenha sofrido, porque nós vamos levando aqui, vamos cuidar da vó e de todos da nossa família", discorre. "O que me conforta é que você vai ficar bem, que a justiça divina irá acontecer e vamos nos unir para que a justiça dos homens também aconteça".
Ainda, a prima enfatiza a crueldade dos suspeitos de cometer o crime - a ex-namorada de Hugo, Rubia Joice de Oliver Luivisetto, de 21 anos, e Danilo Alves Vieira da Silva, 19. "Vão tentar te diminuir, apagar o seu brilho, dizer coisas que você não era, coisas que não fez, afinal você não está aqui. Já tiraram você de nós com tanta crueldade. Quem fez isso contigo tem coragem de tudo", lamenta a prima, que finaliza o texto com a hashtag #justiçaporhugo.
Entenda - Na madrugada do dia 25 de junho, Hugo saiu de uma festa em posto de combustível na cidade de Pintoty Porã, que faz fronteira com Sete Quedas. Na sequência, foi deixado por amigos na casa da ex-namorada e, desde então, não foi mais visto. No domingo, 2 de julho, partes do corpo dele foram encontradas no Rio Iguatemi. Uma tatuagem ajudou na identificação da vítima.
Durante as diligências, a polícia apreendeu quatro veículos, entre carros e um barco, vários celulares e instrumentos que podem ter sido utilizados no crime. Mas nem todas as partes do corpo foram localizadas. Em um primeiro momento, encontraram quadril, tronco e coxa. No dia seguinte, partes da cabeça foram encontradas. "Cortaram em partes pequenas para dificultar a localização", informou a delegada Lucélia Constantino.
Aprofundadas as investigações, a polícia descobriu que Hugo foi morto a tiros e teve o corpo cortado com uma serra elétrica. Os suspeitos: a ex-namorada Rubia e Danilo, ficante dela. Ambos já haviam sido ouvidos no início da investigação.
Versão - Rubia acabou presa pelo crime. Ela narrou que na noite do dia 24 de junho, um sábado, foi para uma festa em posto de combustível na cidade de Pindoty Porã, a mesma onde Hugo foi visto pela última vez, e saiu de lá quase de manhã.
Embora a tia do jogador tenha relatado que, no dia do desaparecimento, Hugo havia contado para a família que estava recebendo várias mensagens da ex-namorada e que ela pedia para que o ex a encontrasse, mas ele dizia que “não queria mais”, no interrogatório, a jovem negou ter conversado com o jovem naquele dia. Disse ainda que nem falou com o ex na festa.
A ex-namorada contou que passou a noite na mesma mesa de Danilo e o rapaz, quando estava de saída, pediu que ela fosse até a casa dele buscá-lo para que os dois passassem a noite juntos. Já estava quase amanhecendo quando ela decidiu deixar o local e foi até Danilo. Na casa do “ficante”, também estava um amigo dela, o "Maninho", apontado como a pessoa que ajudou ocultar o corpo.
Ouvido como testemunha, Maninho alegou que combinou de mentir em depoimento a pedido de Rubia Joice, mas se arrependeu com medo das consequências.
A jovem afirma, porém, que pegou Danilo, o amigo Maninho e todos seguiram para a casa dela. O rapaz foi para um dos quartos, enquanto ela e o “ficante” foram para outro. Em determinado momento, narrou a jovem, Hugo teria invadido a casa e entrado no quarto a chamando de vagabunda. Ela se levantou e tentou empurrá-lo para fora da residência, quando de repente, pelas suas costas, Danilo atirou contra Hugo.
Ela diz que o “ficante” mandou que todo mundo ficasse quieto ou todos morreriam e que, então, ele e o amigo colocaram o corpo no carro dela para se livrarem dele. Disse que não sabia o que havia sido feito do cadáver, muito menos do esquartejamento.
A moça afirmou ainda que não atraiu o ex-namorado para sua casa e que o fato de ele ter aparecido lá, se encontrando com Danilo armado, foi coincidência. A jovem acrescentou que o “ficante” não gostava de Hugo, pois sabia que o ex era ciumento e supostamente já havia agredido Rubia.
A ex-namorada contou ainda que foi para a chácara da avó e demorou relatar à família o que havia acontecido, também por medo. Ela só se apresentou à polícia na segunda-feira (3), depois que partes do corpo de Hugo começaram a ser encontradas, e está presa pelo crime de ocultação de cadáver.
Maninho - Já na versão de Maninho, ele estava dormindo quando ouviu discussão entre Danilo e Hugo e, logo em seguida, barulho de tiro. Ao sair para ver o que estava acontecendo, encontrou o jogador caído no chão, ainda respirando, e então perguntou a Rubia e ao “ficante” dela o que eles haviam feito.
Neste momento, a garota teria dito que ele não devia falar com ninguém e só fazer o que Danilo mandasse. O corpo de Hugo estava caído na porta da casa.
Ainda de acordo com Maninho, Hugo ainda respirava quando Danilo decidiu colocá-lo no carro de Rubia e levar para o rio. Ele afirma que foi ameaçado pelo autor que estava armado e o ajudou a pegar a vítima pelas pernas e colocar no veículo da jovem.
Os dois seguiram até a propriedade rural, que seria do pai de Danilo e lá, o autor deu mais dois tiros na testa de Hugo. Em seguida, jogaram o corpo inteiro no rio. Maninho afirma que viu o cadáver da vítima desaparecer nas águas e que ele não estava esquartejado.
Ciumenta - Uma tia de Hugo contou que Rubia era ciumenta, que o sobrinho havia terminado, mas ela não aceitava o fim do relacionamento. Mandava mensagens o tempo todo e ia atrás de Hugo de madrugada quando ele a bloqueava no WhatsApp. Mencionou que na manhã do dia 24 de julho, dia da festa, o jogador mostrou o celular à tia dizendo que a ex-namorada estava mandando várias mensagens pedindo que os dois se encontrassem, mas o rapaz disse que “não queria mais”.
A polícia trabalha com a hipótese da ex-namorada ter planejado o crime, mas ela nega ser a mandante, ter atraído Hugo até a casa dela e também ter ajudado a “dar fim” ao corpo do rapaz.
Reconstituição - A polícia e peritos realizaram ontem (5) a reconstituição do crime. A suspeita da investigação é que o cadáver tenha sido esquartejado no local. A casa de Rubia foi isolada para a reprodução simulada.
Defesa - Em nota enviada à imprensa, os advogados Felipe Azuma e Alberi Dehn, que representam Rubia, disseram lamentar "o tratamento que está sendo dispensado por parte das autoridades públicas a uma mulher que não cometeu qualquer crime e teve apenas a infelicidade de estar presente no momento em que a vítima e o Danilo Alves Vieira da Silva iniciaram uma discussão após Hugo ter invadido o imóvel onde ela residia".
"Rubia teve sua casa invadida, foi xingada, tentou evitar a briga, não puxou o gatilho, não ocultou o corpo e é a única pessoa que está presa", também diz o texto. A defesa ressaltou que provará a inocência da cliente. "Rubia não teve qualquer participação na dinâmica do crime". Danilo continua foragido.