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Capital

Só não vê quem não quer: comprador “formiguinha” de cobre sustenta vício e furto

Comércio de bairro serve de ponte entre os dependentes químicos e as empresas maiores

Por Aline dos Santos e Caroline Maldonado | 17/10/2023 14:07


Na mesma rua, duas placas mostram o valor do cobre no bairro. (Foto: Marcos Maluf)
Na mesma rua, duas placas mostram o valor do cobre no bairro. (Foto: Marcos Maluf)

“Latinha 5,00, Cobre 26,00, Ferro 0,40”. A pintura com os preços em reais desses metais surge com seta indicando a direção ao imóvel. Mas ao ver a  jornalista no portão ninguém aparece no Jardim Tijuca. As placas espalhadas pelo bairro “desenham” a realidade do furto de fios de cobre em Campo Grande.

Segundo os próprios usuários de drogas, os “compradores formiguinhas” servem de ponte entre os dependentes químicos e empresas maiores. Ou seja, numa ponta, ajudam a financiar a compra de drogas, remunerando os usuários que levam o cobre roubado. Na outra, revendem o material para terceiros. "Ninguém precisa apresentar papel não. É só chegar lá e vender", conta homem de 46 anos que há cinco anos diz fazer "o  esquema".

De longe, o cobre, presente na fiação, é o metal de maior valor. Um quilo é remunerado com R$ 26. As placas que chamam atenção no Jardim Tijuca ganham explicação mais adiante, quando a reportagem passa pela Vila Nhanhá. Lá, até encontrou um homem perambulando com canos de alumínio.

Dependente químico, o homem de 46 anos conta que havia distribuição de comida no Jardim Tijuca para a população de rua. “Mas com o tempo o prato foi diminuindo, diminuindo. A comida ficou rala”, diz.

Mas se a comida rareou, os usuários podem revender material furtado, conforme deixam claro as placas espalhadas pelo Jardim Tijuca.

Homem perambula pela Nhanhá com tubos de alumínio. (Foto: Marcos Maluf)
Homem perambula pela Nhanhá com tubos de alumínio. (Foto: Marcos Maluf)

Outro lado - Jovem, de 24 anos, abriu um ponto de recicláveis no bairro Tijuca depois de tentar o "ramo da alimentação". "Fazendo salgado não dava tanto dinheiro", explica. Segundo ela, no "Tijuca todinho, os vizinhos trabalhavam com isso, comprado sucata e latinha".

O ponto funciona na casa da sogra dela, onde a jovem vive com o marido. O valor é "de tabela", diz e o lucro maior é com o cobre. Ela paga R$ 5,00 a latinha e vende aos grandes por R$ 6,20. Já o cobre de R$ 26 o quilo é revendido por R$ 34.

Mas a mulher garante que faz tudo certinho, apesar de admitir que não cobra nenhuma informação sobre a procedência dos fios. "Aparece aqui muita gente vendendo e a gente compra. Mas quando vejo que é dependente químico, eu mando ir embora. O problema é que a pessoa ai vai na outra rua e o outro compra". A documentação sobre a procedência só é exigida no depósito maior. Nessa  hora, o CPF fornecido é dos "formiguinhas".

Nova tentativa - Após três anos de paralisia por falta de regulamentação, a prefeitura voltou a enfrentar o tema do furto de fios de cobre, com a publicação de decreto no último dia 9. A regra define multa de R$ 10 mil por infração cometida. A normatização pune tanto empresa quanto pessoas físicas.

“Consideram-se comerciantes de sucatas metálicas e assemelhados toda e qualquer pessoa física ou jurídica que adquira, venda, exponha à venda, mantenha em estoque, use como matéria-prima, colete, beneficie, recicle, transporte e compacte material metálico procedente de anterior uso comercial, residencial, industrial ou de concessionárias, permissionárias e autorizatárias de serviços públicos, ainda que a título gratuito”, informa o decreto.

No caso de empresa, chamada também de pessoa jurídica, a punição inclui cassação de alvará de funcionamento. Desde abril do ano passado, foram furtados mais de 15 mil metros de fios de cobre, causando mais de R$ 200 mil de prejuízo à prefeitura.

Experiência de Cuiabá – No próximo dia 27, a Câmara Municipal de Campo Grande fará audiência pública sobre furto de cobres e a novidade será conhecer a experiência de Cuiabá, capital de Mato Grosso.

“O presidente das telecomunicações de Cuiabá virá à audiência. Eles falaram que conseguiram zerar o roubo de fio de cobre lá. Então, o que a gente está fazendo? A gente está convidando eles para trazer para nós a expertise deles, como é que eles conseguiram fazer esse controle e apresentar isso para a prefeitura também”, afirma o vereador André Luís Soares da Fonseca (Rede), o professor André.

Postes ao chão - Na Rua Artagnan dos Santos Machado, próximo a uma reserva de proteção ambiental, no Bairro Zé Pereira, três postes foram derrubados para furto das lâmpadas e fiação.

"Eles estão quebrando postes para retirarem o fio e a luminária. Isso aconteceu atrás do Zé Pereira e eles vão vir pegar mais", diz morador, que encaminhou vídeo ao Campo Grande News. 

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