Suspeita de representar ex-major Carvalho, corretora está presa há 9 meses em MS
Yslanda é esposa de Cícero Cruz, dono de empresa de bitcoins denunciada por pirâmide
Com status de “preposta” - na tradução livre a "representante" do ex-major Sérgio Roberto de Carvalho, na operação Enterprise, Yslanda Maria Alves Barros completou nove meses atrás das grades do presídio feminino Irmã Irma Zorzi, em Campo Grande. Neste mesmo tempo, o ex-policial, principal alvo da ação da PF (Polícia Federal) e suspeito de movimentar R$ 2 bilhões em cocaína, segue foragido.
Ela é esposa de Cícero Saad Cruz, dono, em 2018, da MinerWorld, empresa de bitcoins alvo de operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) por pirâmide financeira.
A corretora de imóveis e negócios foi presa em casa, na Capital, no dia 23 de novembro do ano passado, quando a operação Enterprise saiu às ruas de várias cidades brasileiras e de outros países contra esquema internacional do tráfico de drogas.
Conforme a investigação, havia indício de utilização de moedas digitais por Yslanda para lavagem de dinheiro e recebimento no exterior de pagamentos de carregamentos de cocaína exportados pela organização liderada por Sergio Roberto de Carvalho.
A Enterprise colocou Yslanda Barros no núcleo financeiro, responsável pela contabilidade do tráfico e atuando como secretária-executiva do grupo investigado. “Preposta de Sergio Roberto de Carvalho tanto em atividades relacionadas aos interesses financeiros de Sergio Roberto de Carvalho no Brasil. Atua como secretária-executiva de Sergio Roberto de Carvalho”, informa trecho da investigação da PF.
Ainda de acordo com relatório, a atuação dela na parte financeira da organização foi demonstrada em planilhas encontradas em contas de e-mail de Yslanda.
Conforme a defesa da corretora, a operação resultou em duas denúncias: uma por integrar organização criminosa e a segunda por associação para o tráfico de drogas. Já os indícios sobre lavagem de dinheiro com criptomoedas, ficaram pelo caminho e não foram levados ao Poder Judiciário.
De acordo com o advogado Ewerton Bellinati da Silva, as planilhas mencionadas no relatório da Polícia Federal são relativos a contrato para que Yslanda realizasse estudo de viabilidade de negócio em Natal (Rio Grande do Norte) para reforma de barcos. “Tenho documentos e provo. Ela faz o estudo e verifica que o valor que iria pagar pela reforma era inviável e sugere procurar barcos em Itajaí. Em 150 mil horas de interceptações telefônicas, em nenhum momento falam dela”, diz.
A PF aponta que uma das divisões da quadrilha era o grupo “Barcos Natal”, especializado no preparo de grandes embarcações de pesca para exportação de carregamentos de cocaína em navegação oceânica.
Ainda segundo a defesa, a corretora fez venda de apartamento para suposto integrante da quadrilha. “Ser secretária-executiva, é participar ativamente, tomar decisões. Vejo as provas muito frágeis. Quando foi presa, ela estava em casa, trabalhando normalmente. Ela mesma abriu o sigilo bancário, abriu todo o Imposto de Renda desde 2017. Não tem movimentação financeira suspeita. Ela está pagando um preço alto”, afirma o advogado.
Yslanda é ex-esposa do piloto Silvio Berri Júnior, também preso na operação Enterprise. As ações contra a corretora tramitam na 14º Vara da Justiça Federal de Curitiba. A defesa aguarda julgamento de pedido de habeas corpus pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) para que ela responda ao processo em liberdade.
Enterprise – A operação, liderada pela Polícia Federal do Paraná, revelou uma organização criminosa com tentáculos em Mato Grosso do Sul, Paraná, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo. O objetivo era levar cocaína para a Europa, onde o quilo da droga é vendido por R$ 200 mil.
No Estado, foi identificado grupo com quatro pessoas que atuavam na logística de “internalização, transporte e fornecimento de carregamentos de cocaína, a partir de Ponta Porã, fronteira com o Paraguai, com uso de caminhões graneleiros”.
O esquema era coordenado pelo ex-major da Espanha, onde morava em mansão avaliada em R$ 12 milhões.
Apesar de comum que chefões do tráfico de drogas polarizem entre a atividade criminosa e a vitrine de empresários bem sucedidos no mercado formal, o ex-major foi além: tem uma versão morta – batizada de Paul Wouter.
A defesa de Wouter, que seria na verdade Carvalho, apresentou certidão de óbito por covid-19, sendo o corpo cremado, portanto, sem condições de análise de DNA dos restos mortais para confirmar a identidade.