"Também morri um pouco aquele dia", diz réu por matar segurança em boate
Cristhiano Luna é julgado pela segunda vez pela morte de Brunão, ocorrida há 10 anos
"Também morri um pouco aquele dia". Chorando, foi assim que descreveu Cristhiano Luna de Almeida, sobre a morte do segurança da Valley Pub, Jefferson Bruno Gomes Escobar, ocorrida em março de 2011. Réu no caso, Cristhiano é julgado por homicídio e injúria racial nesta quarta-feira (1º). Familiares da vítima e do réu acompanham o julgamento.
Cristhiano contou sobre os momentos que antecederam a morte do segurança naquele 19 de março. Disse que chegou na boate por volta das 20 horas e que já havia ingerido bebidas alcoólicas com um amigo. Na ocasião, segundo ele, fez uma "brincadeira infeliz", quando chamou um dos garçons de "preto, negueba do Flamengo".
Cristhiano alega que não sabia o nome dele e já que era flamenguista, achou parecido com o jogador Negueba. "Fui acusado de injúria racial. Minha avó é negra, meu pai que Pardo, eu não sou branco". Depois disso, Cristhiano afirma ter sido agredido e foi retirado da boate. "Não desferi um soco, eu fui agredido, o que eu fiz do lado de fora foi espernear".
Em seguida, já do lado de fora, diz ter sido cercado e agredido por mais de um segurança. "Reitero que não sou lutador. Se ver todas as filmagens, eu só apanhei", pondera.
Quando o juiz Aluízio Pereira dos Santos perguntou sobre as lesões no Brunão (as costelas quebradas), Cristhiano lembrou de um vídeo que várias pessoas fazem massagem cardíaca, que podem ter agravado o ferimento. Inclusive, essa é a tese utilizada pela defesa, de que o chute dado pelo rapaz não tenha sido a causa direta da morte do segurança.
"Calvário" - Formado em Direito, Cristhiano disse que sua vida mudou muito depois daquele dia. "Aprendi a fazer bolo, vendi espetinho na rua. Muito diferente do que falam, eu tento. Distribuo currículo e não me aceitam por causa desse histórico. Um pouco de mim morreu aquele dia também", disse.
Ele negou todas as falas de desprezo à morte de Brunão e pediu perdão à família. Neste momento, se virou para a plateia e falou com a mãe do Brunão. Chorando, contou que depois que virou cozinheiro, fez amizade com pessoas conhecidas dela. "Peço perdão à Dona Edcelma, me falam muito bem da senhora. Foi uma vida infeliz que eu levava. Por favor, Dona Edcelma, me perdoa. Perdoa também minha mãe, minha avó". A mãe de Brunão ouviu e também chorou.
"Queria conhecer o Jefferson também", continuou Cristhiano. "Muita gente morreu nesse processo. Meu pai, meu advogado Ricardo, que era um pai para minha mãe. Minha mãe está doente. Minha a avó está acamada", disse. De acordo com Cristhiano, a mãe está fazendo quimioterapia por causa de uma doença de pele, com causa emocional. "Desculpa, mãe", suplicou.
Aos familiares da vítima, também pediu desculpa. "Peço desculpa ao primo dele e prima, Mayara, que buscam por justiça. Também quero justiça, minha vida de volta. Há dez anos e meio, minha vida é um calvário. Era um jovem inconsequente, bebi demais, levava uma vida desregrada. Se eu soubesse não teria saído de casa, seria o homem que sou hoje, que tenta fazer diferente. Não assumi o risco de matar, saí de casa para me divertir. Não saí armado, não tenho essa maldade no coração".
Ao advogado José Belga, afirmou que nunca passou pela cabeça dele que Brunão morreria e que ao longo dos anos, sofreu ameaças de "fakes" na internet. A defesa de Cristhiano o orientou a não responder perguntas da acusação.