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Capital

Defesa de réu alegará que massagem pode ter causado morte de segurança em boate

Amanhã, pela 2ª vez, Cristhiano Luna será julgado pela morte do segurança Jefferson Bruno, ocorrida há 10 anos

Silvia Frias | 30/11/2021 11:49
Cristhiano Luna em foto tirada durante audiência das testemunhas, em 2011. (Foto: Arquivo)
Cristhiano Luna em foto tirada durante audiência das testemunhas, em 2011. (Foto: Arquivo)

A defesa de Cristhiano Luna de Almeida vai tentar desqualificar a tese de que o chute dado pelo rapaz tenha sido a causa direta da morte do segurança da Valley Pub, Jefferson Bruno Gomes Escobar, o Brunão, no dia 19 de março de 2011. O novo julgamento está previsto para amanhã, 10 anos depois da briga que levou Luna ao banco dos réus.

A família de Brunão descarta a tese e diz que ela já foi usada pela defesa de Luna e derrubada no processo cível, que também está em tramitação.

Argumento – Cristhiano Luna será julgado por homicídio e injúria racial, por ofensas proferidas contra garçom da casa noturna.

Segundo José Belga Trad, advogado de Luna, uma das linhas da defesa será essa, o “rompimento do nexo de causalidade”, em que a conduta do agente (o réu) não teria ligação direta com o fato danoso, ou seja, a morte de Brunão.

Momento que em Brunão é golpeado, na saida da casa noturna. (Foto: Reprodução)
Momento que em Brunão é golpeado, na saida da casa noturna. (Foto: Reprodução)

O advogado anexou parecer técnico do médico Ronaldo Rosa, legista aposentado pelo Estado, em que discorre sobre o laudo de corpo de delito feito em Brunão à época.

Em 2011, o laudo da perícia feito no corpo apontou “sinais indiretos compatíveis com quadro de asfixia e equimose cutânea localizada na região torácica esquerda, na altura da linha axilar anterior (...) fratura de dois arcos costais esquerdos (...) observou colabamento total do pulmão esquerdo (compatível com pneumotórax). A causa mortis declarada foi “insuficiência respiratória aguda, devido ao traumatismo do tórax causado por agente (ação) contundente”.

Para a acusação, a fratura dos arcos costais (ossos) e a insuficiência respiratória foram causadas por Cristhiano Luna, quando foi retirado à força da Valley Pub pelos seguranças, depois de brigar com garçom dentro do estabelecimento. Caído, desferiu chute que atingiu Brunão do lado esquerdo do tórax, causando o “colabamento total do pulmão esquerdo”, ou seja, o colapso do seu funcionamento.

O laudo e vídeo anexado ao processo com o parecer de Ronaldo Rosa apresentam tese de que pode não ter sido o chute de Cristhiano Luna o causador do dano no pulmão que culminou na insuficiência respiratória e morte do segurança.

A tese é que massagem cardíaca pode ter causado o dano fatal. Segundo o médico, a manobra de ressuscitação pode ter desalinhado os arcos costais já fraturados, o que poderia ter perfurado o pulmão do segurança.

“Essa compressão do tórax pode tirar estabilidade dessa fratura e levar movimentação dessas extremidades (...) lesionar a pleura e desencadear a pneumotórax hipertensiva”, explicou.

No primeiro julgamento, a defesa havia pedido pela absolvição ou, em caso de condenação, por lesão corporal. Em contato com a reportagem, o advogado não quis falar sobre as demais linhas da defesa que serão adotadas amanhã no júri.

Jefferson Bruno Gomes Escobar morreu aos 29 anos, no dia 19 de março de 2011. (Foto: Arquivo)
Jefferson Bruno Gomes Escobar morreu aos 29 anos, no dia 19 de março de 2011. (Foto: Arquivo)

Absurda – A prima de Brunão, Mayara Gonçalves Maia, disse que não há dúvida da responsabilidade de Luna na morte de Brunão. “Não tem sentido”, disse.

O marido de Mayara, Bruno Marcos Maia, explicou ao Campo Grande News que a tese também esteve presente na ação cível que a família protocolou contra Luna. Segundo ele, o legista que fez a necropsia foi chamado para prestar depoimento e derrubou a tese.

“Pela estrutura corporal do Brunão, a pessoa teria que fazer força sobre-humana na lateral do corpo para perfurar os pulmões”, disse Maia. “Essa tese é absurda”. No processo cível, Cristhiano Luna foi condenado a pagar R$ 100 mil, mas ainda cabe recurso.

Segundo Maia, as imagens mostram Brunão com falta de ar logo após o chute e, minutos depois, amparado pelos colegas, o que indica que o pulmão já tinha sido perfurado. “As pessoas tentaram ajudar, mas ninguém fez massagem profissional, não tem como essa tese vingar”.

O caso - Jefferson Escobar, o Brunão, era segurança da Valley, casa noturna na Avenida Afonso Pena, em Campo Grande e morreu, aos 29 anos, no dia 19 de março de 2011, quando retirava Cristhiano do local por importunar garçom. A discussão evoluiu para agressão física e a vítima foi golpeada, morrendo no local.

A condenação anterior datava de 29 de novembro de 2017, ou seja, 6 anos depois do crime. Naquele dia, Luna havia sido condenado 17 anos e 6 meses de prisão, em regime fechado, por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e sem chance de defesa para vítima).

A defesa recorreu, conseguiu reduzir a pena para 14 anos, 11 meses e 5 dias e, em novo recurso, alegou irregularidades no processo e conseguiu anular o julgamento.

Para o julgamento amanhã, o juiz Aluizio Pereira pediu reforço da segurança e irá limitar a entrada de pessoas no plenário.

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