“Cadê a justiça?”, diz mãe sobre denúncia contra acusado de matar Brunão
Christiano Luna de Almeida, de 29 anos, teria sido flagrado bebendo cerveja em um restaurante do Shopping Campo Grande, neste final de semana
Seis anos após o assassinato do filho Jeferson Bruno Escobar, o Brunão, de 23 anos, a cozinheira Edcelma Gomes, 45 anos, sofre em ver impune o acusado pelo crime.
O confeiteiro Christiano Luna de Almeida, de 29 anos, teria sido flagrado bebendo cerveja em um restaurante do Shopping Campo Grande, neste final de semana - mesmo estando proibido pela Justiça de ingerir bebida alcoólica - atitude que causou revolta na família da vítima.
“É uma palhaçada, é chamar a gente de palhaço, porque já é difícil pra gente ver ele impune, imagine fazendo isso. Chorei muito hoje, porque volta tudo na cabeça. Estou decepcionada, fico pensando: cadê a Justiça?” questiona a mãe.
Nesta segunda-feira (26), faz dois anos que Edcelma perdeu o marido, João Márcio Escobar, 48 anos, que acabou se tornando uma figura conhecida na Capital, ao lutar para que a morte do filho não ficasse impune.
João fez camiseta, protesto, faixa, inúmeras mobilizações. Ligava para famílias, que assim como ele, foram vítimas da violência a cada episódio noticiado. Não desistiu nunca. Embora buscasse a paz, a Justiça, como ele mesmo disse, havia sido entregue para Deus.
Na data da publicação da matéria, "Há 4 anos com peso de assassinato nas costas, Cristhiano Luna vira confeiteiro", o primeiro comentário publicado vinha de quem mais sofreu com o desfecho daquele dia, João Márcio.
"Infelizmente nestes quatro anos ainda não consegui encontrar a paz, a perda foi muito grande. Todos os dias o meu despertador é a voz do Brunão cantando uma musica que ele fez que diz: Eu tenho um sonho, que tudo é possível, eu tenho um sonho e não tenho medo não é ilusão sonhar... Todos os dias oro a Deus e peço pra Ele me dar força para te perdoar, ainda não consegui, mas estou no caminho. Espero que tudo que aconteceu possa mudar sua vida realmente, e sirva de lição para outros jovens, e que este tipo de violência e estupidez não aconteça novamente. Vivo na esperança de um dia estar com meu filho novamente, e para isto sei que não posso guardar ódio e nem mágoas, e dia a dia tento me libertar destes sentimentos, então já coloquei nas mãos de Deus para que a justiça seja feita." João Márcio Escobar em 09/04/2015
“Tenho medo de acontecer comigo o mesmo que houve com ele (João Márcio), morrer e não ver a justiça punir quem matou meu filho. Espero que o juiz esteja vendo o que ele (Christiano) fez, que a justiça seja feita de uma vez por todas”, diz.
Christiano está solto desde maio de 2011, dois meses após o crime, depois de conseguir um habeas corpus. No despacho do desembargador Manoel Mendes Carli, está escrito que ele deveria cumprir uma série de normas para manter o direto, tais como estar em casa até às 22h, não freqüentar locais como casas noturnas e, claro, não consumir bebidas alcoólicas.
Mas, conforme a cozinheira, esta não é a primeira vez que conhecidos veem o acusado infringir a medida restritiva estipulada pela Justiça, e a esperança da família é de que algo seja feito com relação ao processo do crime, que até hoje não foi julgado.
“Muita gente já viu ele bebendo, mas é a primeira vez que tiram foto e a pessoa não tem ideia do quanto nos deu esperança. É uma luzinha lá no fim do túnel, de que a justiça será feita”, acredita.
A imagem será enviada ao Ministério Público e o assistente de acusação e advogado da família, Rodrigo Martins Alcântara, promete tomar medidas cabíveis, para que o acusado perca o direito obtido nos tribunais. A família promete protestar, caso a Justiça também ignore este pedido. "Vamos para as ruas de novo, não podemos aceitar mais isso", disse.
O advogado de defesa de Almeida nega que ele estivesse consumindo cerveja. “A gente contesta essa acusação (de estar bebendo)”, assegurou o advogado de Almeida, José Belga Assis Trad, ao Campo Grande News.
O caso – Brunão morreu em 19 de março de 2011. Na ocasião, ele virou alvo de Almeida ao tentar retirá-lo de dentro da casa noturna após uma briga generalizada. Acabou linchado pelo acusado, bacharel em direito e praticante de artes marciais, do lado de fora do local.
O julgamento do hoje confeiteiro aconteceria em dezembro do ano seguinte, mas o assistente de acusação foi ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) adiar o júri pedindo que a condenação inclua as duas qualificadoras do indiciamento por homicídio retirados pela defesa: motivo fútil e falta de chance de defesa da vítima.
Desde então é esperada uma resposta do recurso que corre em Brasília para que haja o tribunal do júri. Caso o recurso da acusação seja negado, Almeida seria julgado por assassinato simples, pegando até 20 anos de prisão e benefícios por ser réu primário. Com as qualificadoras se enquadraria em crime hediondo.
“Não se pode dizer que ele tinha a intenção de matar”, ponderou o advogado Trad.
“Estamos otimistas para termos uma resposta positiva ainda neste ano e retornarmos para que aconteça o júri”, apontou o assistente de acusação Alcântara.
À espera de uma decisão, Almeira desistiu do sonho do direito, para virar confeiteiro, especialista em bolos, começar a freqüentar a igreja e participar de atividades beneficentes, como a produção de bolo de casamento do dia de Santo Antônio.