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Comportamento

Quando o peso de assassinato virou doce, pai de Brunão deu adeus à Justiça

Paula Maciulevicius | 31/12/2015 06:23
Cristhiano Luna se reinventou na cozinha. (Foto: Fernando Antunes)
Cristhiano Luna se reinventou na cozinha. (Foto: Fernando Antunes)

Com dois meses de diferença, o caso Brunão voltou a ser notícia no Campo Grande News. Em abril deste ano, com o peso do assassinato nas costas, Cristhiano Luna se reinventou na cozinha, entre bolos e doces, quatro anos depois da morte do segurança. Em junho, o pai da vítima, famoso por lutar pelo filho, João Márcio Escobar, deu adeus à Justiça. 

Na primeira reportagem, Cristhiano que por vezes estampou as capas dos jornais, exibiu seu trabalho e o caminho que seguiu a partir do que aconteceu. Em março de 2011, ao ser retirado da Valley, acertou com um soco um dos seguranças, Jefferson Bruno Escobar, o Brunão, que morreu ainda no local.

Foram 40 dias preso e a troca do Direito, curso que Cristhiano fazia até então, para a Gastronomia. Neste ano, o Lado B chegou até o chef de cozinha pela divulgação das tortas, em especial uma de churros. Mas foi deslizando pelas fotos que percebemos que pela culinária ele se "perdoou". 

Em entrevista, Cristhiano confirmou que houve tal transição "na mudança de profissão e de todos os problemas que eu tive" e que "sim, se reencontrou e se reinventou na cozinha". Mas sem esquecer o crime.  "Se eu soubesse, não ia sair de casa aquele dia".

Na data da publicação da matéria, "Há 4 anos com peso de assassinato nas costas, Cristhiano Luna vira confeiteiro", o primeiro comentário publicado vinha de quem mais sofreu com o desfecho daquele dia, seu João Márcio.

João Márcio Escobar deixou mensagem para assassino do filho. (Foto: Arquivo/ Marcos Ermínio)
João Márcio Escobar deixou mensagem para assassino do filho. (Foto: Arquivo/ Marcos Ermínio)

"Infelizmente nestes quatro anos ainda não consegui encontrar a paz, a perda foi muito grande.
Todos os dias o meu despertador é a voz do Brunão cantando uma musica que ele fez que diz “Eu tenho um sonho, que tudo é possível, eu tenho um sonho e não tenho medo não é ilusão sonhar...” Todos os dias oro a Deus e peço pra Ele me dar força para te perdoar, ainda não consegui, mas estou no caminho.
Espero que tudo que aconteceu possa mudar sua vida realmente, e sirva de lição para outros jovens, e que este tipo de violência e estupidez não aconteça novamente.
Vivo na esperança de um dia estar com meu filho novamente, e para isto sei que não posso guardar ódio e nem mágoas, e dia a dia tento me libertar destes sentimentos, então já coloquei nas mãos de Deus para que a justiça seja feita.

João Márcio Escobar em 09/04/2015 07:52:18"

Dois meses depois, ele morreu. João Márcio Escobar partiu sem ver a Justiça pela qual tanto lutou, aos 44 anos, na manhã do dia 26 de junho, depois de uma parada cardíaca, devido a complicações causadas por uma bactéria que estava alojada na perna.

Seu João encampou a luta contra a impunidade. Fez camiseta, protesto, faixa, inúmeras mobilizações. Ligava para famílias, que assim como ele, foram vítimas da violência a cada episódio noticiado. Não desistiu nunca. Embora buscasse a paz, a Justiça, como ele mesmo disse, havia sido entregue para Deus.

Foram 24 dias de internação, uma luta pela vida que o filho não teve, assim como também lhe foi tirada a oportunidade de "se reinventar", vivida por Cristhiano. se arrasta, há pelo menos dois anos, no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília. Isso porque a acusação recorreu da decisão. A denúncia contra Cristhiano Luna tinha duas qualificadoras: motivo fútil e recurso que teria dificultado a defesa da vítima, que foram retiradas aqui, no Tribunal de Justiça. 

No entanto, o assistente da acusação, o advogado que representa os familiares de Brunão, recorreu e as qualificadoras estão sub judice no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, desde então. O advogado de Luna, Ricardo Trad, afirmou que vai fazer um novo requerimento, desta vez ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça), pedindo providências para julgar o recurso o mais rápido possível. 

Seu João Márcio se foi, sem saber se a Justiça que ele esperava será cumprida. 

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