Cristhiano Luna é condenado a 17 anos de prisão por morte de Brunão
Após mais de 9 horas de julgamento, o confeiteiro recebeu a sentença e voltou ao presídio
O confeiteiro Cristhiano Luna de Almeida foi condenado, nesta sexta-feira (24), pela 2ª Vara do Tribunal Júri a 17 anos e seis meses de reclusão em regime fechado por homicídio duplamente qualificado, resultante de motivo fútil, recurso que dificultou a defesa da vítima e injúria racial, contra o segurança Jéferson Bruno Escobar, o Brunão. O julgamento durou cerca de 9h45.
Na decisão do juiz substituto Daniel Raymundo da Matta, que presidiu o julgamento, pesaram contra o réu seu histórico de brigas e confusões anteriores à morte de Bruno, incluindo uma condenação no ano passado a dois anos e seis meses de reclusão por este ter agredido gravemente um homem, no Parque de Exposições de Campo Grande, em 2009.
Assim que ouviu a sentença, Cristhiano foi levado de volta ao presídio onde cumpre prisão preventiva desde julho deste ano, quando descumpriu medidas cautelares que garantiam sua liberdade desde a morte de Bruno.
Em lágrimas, amigos e familiares do confeiteiro se abraçaram ao fim do julgamento e sua mãe, Cecília Luna, chegou a ser atendida por uma psicóloga do tribunal antes de deixá-lo. “Cadeia não é inferno, porque tem muita gente boa de coração lá dentro. Meu filho não merecia isso. Foi muito cruel o que fizeram com ele, vocês não tem a noção do meu sofrimento”, declarou Cecília ao deixar a corte. “Qual menino que nunca brigou na vida, que atire a primeira pedra. Que nunca foi em uma boate, bebeu e se excedeu? Quem somos nós para julgar? Peço misericórdia senhor, porque meu filho é meu companheiro, isso tudo que pintaram que é um menino ruim não é, se fosse ruim eu deixava na cadeia”.
Fábio Trad, responsável pela defesa do réu, explicou que a condenação foi injusta e não depõe a favor da justiça de Mato Grosso do Sul. “Justiça não é feita para fazer vingança”, pontuou o defensor de Cristhiano, condicionando a influência da imprensa o poder de manipular muitas vezes o resultado dos julgamentos.
Por sua vez, o assistente de acusação, Rodrigo Alcântara, ressaltou que o processo é de 2011 e houve um trabalho intenso com a ocorrência de vários recursos até o resultado hoje obtido. “Ele, [o réu], foi julgado pelo que de fato praticou. As provas são contundentes”.
Douglas Oldegardo, promotor do caso, afirmou que não acredita em recurso da pena. “Não vejo possibilidade de recurso, porque isso deveria ocorrer por nulidade levantada no momento do julgamento, ou então que seja contrário às provas dispostas nos autos”.
Em um plenário lotado, o silêncio de familiares de Bruno foi quebrado somente do lado de fora quando a mãe dele, Edicelma Gomes Vieira, falou que a justiça foi feita e que o pai do segurança, que faleceu durante o processo, também poderá descansar em paz junto com o filho. “Não é vingança, senão não estaríamos aqui. Vingança não se pede nas ruas”, relatou, relembrando do período em que fez protestos pedindo a condenação do acusado.
Jéferson Bruno, o Brunão, morreu em 19 de março de 2011. Ele foi agredido por Cristhiano Luna no momento em que tentava retirá-lo de dentro de uma casa noturna após uma briga generalizada. O réu, na época, era bacharel em Direito e praticante de artes marciais.
O julgamento de Cristhiano começou às 8h15, desta sexta-feira (24), e terminou às 18 horas.
Julgamento – Enquanto a defesa afirmava que o réu não tinha intenção de matar o segurança e tentava a absolvição do confeiteiro por legítima defesa ou uma condenação por lesão corporal seguida de morte, com pena de reclusão de 4 a 12 anos, a assistência de acusação e o MPE (Ministério Público Estadual) frisou que o caso era de homicídio duplamente qualificado.
Para justificar o crime, o assistente de acusação Rodrigo Alcântara destacou que mais de 40 pessoas foram ouvidas durante a investigação e todas confirmaram comportamento de descaso do réu com Jéferson Bruno. Este ainda lembrou que laudos periciais comprovaram uma lesão no rosto da vítima, além de colocar em xeque laudo encomendado pela defesa assinado pelo médico e ex-vereador da Capital, Eduardo Cury.
Alcântara afirmou, durante o julgamento, que o lauto seria tendencioso ao se considerar que o médio que o assinou é pediatra, ocupava cargo político na coordenação do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e descrevia a morte de Bruno como uma fatalidade.
“Duvido que um dia [Eduardo Cury] tenha entrado em uma ambulância. Há muito tempo não é médico e ainda é patrocinado pela mesma banca de defesa [do réu]”, disse o assistente de acusação.
O promotor público Douglas Oldegardo dos Santos reforçou a figura de Bruno como vítima, lembrando que Cristhiano havia sido advertido pelo menos outras duas vezes na mesma noite em que o crime ocorreu. Uma delas por “plantar bananeira” em uma cadeira da boate na qual estava e outra por tirar sua camiseta em frente ao palco.
Diante dos fatos, o promotor reiterou pedido de condenação do réu por homicídio qualificado por motivo torpe, uso de recurso que dificultou a defesa da vítima, assim como injúria racial praticada contra garçom do estabelecimento comercial do qual Bruno era segurança.
Em uma última tentativa da defesa, o advogado José Belga Trad alegou que Bruno tinha condições de se defender por ter conhecimentos básicos de jiu-jitsu e reiterou laudo emitido por Cury, que também é seu cliente. “Ele assumiu a responsabilidade com o que estava relatando”, rebateu as críticas da acusação.
No mesmo sentido, Fábio Trad reiterou: “Já viram assassino com 200 pessoas chegando com faixas às seis da manhã no Fórum, acompanhados com raiva? Ele não quis matar, e apelo ao coração, não vamos perder esse moço, porque o Estado perdeu as batalhas nos presídios. Não podemos julgar com raiva”. Contudo, seu apelo foi negado e a condenação proferida.
Seis anos de espera – O processo sobre a morte de Brunão se arrastou por seis anos sem decisão até que no dia 18 de setembro o STJ (Superior Tribunal de Justiça) mandou Luna para júri popular.
Isso aconteceu meses depois que o réu foi flagrado em um bar do Shopping Campo Grande, descumprindo uma das medidas cautelares – a de não sair à noite, nem beber – que garantia sua liberdade desde o ano do crime.
Foi justamente o flagrante, feito por familiares da própria vítima, que levou o Ministério Público a pedir novamente a prisão do então confeiteiro, que no dia 30 de junho foi levado ao presídio.