Tapa-buracos no formato atual é dinheiro jogado fora, diz engenheiro
Segundo especialista, serviço eficaz passa por mapeamento e técnica diferenciada, além do uso de pavimento de concreto
Com gasto de R$ 3,2 milhões por mês, o serviço de tapa-buraco pode ser dinheiro jogado fora se a Prefeitura de Campo Grande não elaborar um mapeamento das vias mais atingidas e executar obras como antídoto à epidemia de crateras que se espalham pela cidade.
A análise é do engenheiro civil Cláudio Anache, que tem mais de 30 anos de experiência e foi responsável por pavimentação de concreto em empreendimentos particulares.
Para ele, o primeiro passo para livrar a malha viária da pior condição já vista nas últimas décadas é mapear os pontos de Campo Grande onde os buracos acontecem com mais frequência. Esse censo dos buracos seria possível a partir dos relatórios de medição das empresas que executam o tapa-buraco.
“Quando você sai da sua casa e vai para o seu trabalho, deve perceber que os buracos são quase sempre nos mesmos lugares. Isso quer dizer que naqueles lugares o problema não é só tapar o buraco”, afirma.
A partir do mapeamento, é preciso descobrir as causas. Na maioria dos cenários, a maior inimiga é a água, seja por infiltrações, falta de drenagem e boca de lobo.
Desta forma, se o problema for a velocidade da enxurrada, deve ser feita intervenção para que a água seja captada e conduzida de forma subterrânea até a boca de lobo. Em outros pontos, a solução pode ser mais simples, como a abertura de novos bueiros.
Nos casos mais graves, um caminho é trocar o asfalto por pavimento de concreto. Na Avenida João Arinos, na saída para Três Lagoas, por exemplo, as crateras se proliferam mesmo com os buracos sendo fechados constantemente.
Lama Asfáltica – Outro fator primordial é não resumir o trabalho a tapar o buraco. O engenheiro explica que os passos do serviço deveriam ser limpeza, utilização do primer (líquido impermeabilizante), cobertura do buraco com asfalto e, por fim, revestir toda a via com lama asfáltica.
Segundo ele, só o recapeamento garante durabilidade ao serviço e elimina a colcha de retalho que faz os carros trepidarem e a água se infiltrar nos desníveis.
“Você tem que pensar que se você tapa o buraco numa rua, vem a chuva e 15 dias depois abre de novo. Aí você gasta duas, três vezes no período. Se você passar a lama asfáltica, o custo pode ser igual ou menor do que você gastou no tapa-buraco. Precisa ver se vale a pena ficar fazendo tapa-buraco, gastando rio de dinheiro, não resolvendo problema, com a população insatisfeita ou fazer um estudo mais complexo”, afirma Anache.
Um exemplo da eficiência da lama asfáltica é o cruzamento das ruas 13 de Junho com a Dom Aquino, onde parte da via foi revestida por uma empresa após inauguração de obra no local.
Novo padrão – Nesta semana, a primeira do mandato como prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD) anunciou prazo de 90 dias para fechar os buracos, horas depois ampliado para 120 dias; aumento de equipes e a redução do valor mensal do serviço de R$ 4,5 milhões para R$ 3,2 milhões.
O prefeito também determinou um novo padrão: o buraco não deve ser apenas preenchido na sua dimensão, mas com mais cinco centímetros de capa asfáltica na cobertura e com o diâmetro triplicado.
Para Anache, por se tratar de período de chuvas, os buracos devem persistir além do prazo de quatro meses. “Nesse período, cada buraco que ele tampa, abrem dez. Não é a espessura que ele está falando que vai resolver, é algo mais complexo. Mas não é uma crítica, uma ajuda por conhecer Campo Grande e ter experiência nessa área”, diz o engenheiro,
A Capital tem 2.800 quilômetros de vias pavimentadas e o asfalto tem vida útil de dez anos. A reportagem solicitou à assessoria de imprensa da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos informações sobre projeto de recapeamento para a cidade.