Um pedaço de liberdade, trabalho e confiança na Unei
Um puxadinho, além dos muros e grades. Um “gostinho” de liberdade conquistada pelos que tem bom comportamento, em conjunto com o trabalho dos agentes. Esse é o espaço com o chiqueiro e a horta, montado ao lado da Unei (Unidade Educacional de Internação) Dom Bosco, em Campo Grande, a maior do Estado.
“É bom ficar um pouco em liberdade. Ajuda a dar uma distraída também, o dia passa mais rápido”, diz o adolescente de 18 anos, que cumpre medida socioeducativa por roubo seguido de morte.
Os trabalhos no local funcionam como atividade externa, ajudando a diminuir o ócio durante o período de internação e proporcionando aos adolescentes mais aprendizados.
No espaço, eles aprendem a cuidar do chiqueiro, alimentam os porcos, fazem a limpeza e cuidam do cultivo de árvores, verduras e frutas.
“Aprendi a assentar tijolo aqui”, diz o adolescente de 19 anos, que cumpre medida por tentativa de homicídio.
Ele foi um dos internos que ajudou a erguer a estrutura do chiqueiro, junto com agentes da unidade.
“Cada tijolo aqui, toda a área, foi montada em trabalho conjunto com os adolescentes”, diz o agente Lúcio Brandão Leal, que utilizou a formação de técnico em agropecuária para “idealizar” o espaço.
Ele também garante que nada precisa ser imposto: os adolescentes tem disposição para trabalhar e aprender. “Eles têm muita iniciativa. Só faltam boas oportunidades”, diz.
Os trabalhos de construção começaram em agosto, mas Lúcio diz que ainda há muito para ser feito. “Só começamos o trabalho”, diz.
Atualmente são criados 15 leitões e já existe horta de melancia, alguns pés de eucalipto e outras árvores ao redor.
Para o adolescente de 18 anos, as atividades no local são as “mais legais”. Outro interno, de 14 anos, e que está na unidade há apenas dois meses, diz que espera pelo dia em que vai ser chamado para “trabalhar na horta, lá fora”.
Conquista - O agente explica que o trabalho no local não é um presente, mas sim, uma conquista. Somente aqueles com bom comportamento conquistam a “regalia”, e por merecimento próprio.
“Eles sabem disso. Não existe um melhor que o outro. O direito é conquistado. Quem tem bom comportamento e colabora conquista a permissão de vir ajudar nos trabalhos”, diz.
Mas a confiança também é um dos principais fatores para a manutenção benefício. Do lado de fora dos muros da unidade, sem grades, os adolescentes fazem o compromisso com a segurança.
“Eu nem fico pensando na possibilidade de fugir”, garante o rapaz de 18 anos.
Projeto - De acordo com a direção, todo material investido no espaço foi conseguido por meio de doações, inclusive, de muitos agentes. Alguns funcionários compraram leitões e pagam por cada um o aluguel mensal de R$ 40 para o animal ficar no chiqueiro. Depois, eles têm o direito de levar o "leitão gordo" para casa.
Já foram investidos cerca de R$ 7 mil na estrutura para acomodar os animais e nas árvores plantadas, mas o projeto ainda está no começo. O plano é fazer melhorias, terminar a instalação do sistema de água automática, decomposição dos dejetos e cercar parte da área para os animais terem mais espaço.
"Eles precisam de contato com a terra", explica Lúcio.
Aumentar a criação, com frangos e ovelhas, além de plantar mais árvores frutíferas, também estão nos planos.
“A gente está aos poucos construindo o espaço. Um trabalho feito em conjunto com os agentes e adolescentes”, diz.
Para dar continuidade aos trabalhos, a Unidade aceita doações de voluntários ou empresas, cedendo os materiais necessários para as obras. Quem quiser ajudar pode entrar em contato com a direção da Unidade pelo telefone 3303-7027.