Uso de máscaras não tem consenso nas ruas da Capital e cada um "faz o que quer"
Decreto que flexibiliza exigência do acessório em Campo Grande deverá ser publicado na próxima segunda-feira
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A desobrigação do uso de máscaras tem dividido opiniões nas ruas de Campo Grande, já que algumas pessoas estão felizes com o fim da regra, especialmente por conta do calorão, enquanto outras temem aumentar o risco de infecção pelo coronavírus.
O governo de Mato Grosso do Sul já não exige mais o acessório em ambientes abertos ou fechados, mas a Capital ainda tem esta norma em qualquer tipo de espaço de acesso público, com exceção a crianças menores de quatro anos, práticas esportivas e pessoas com algumas deficiências.
Entretanto, conforme apurado pelo Campo Grande News, a previsão é de que, na próxima segunda-feira (14), seja publicado decreto municipal que altera esta obrigação, ao menos, permitindo estar sem máscara, oficialmente, em ambientes externos.
Em geral, as definições tomadas pelos municípios costumam vigorar sobre a decisão em nível estadual, já que o contexto específico de cada cidade pode ser diferente.
Contudo, na prática, a população já vinha relaxando o uso muito antes das discussões envolvendo a obrigatoriedade do item. Nesta quinta-feira (10), muitas pessoas no Centro estavam sem máscara, incluindo panfleteiros que interagiam com outras pessoas, ou idosos, que têm menor resistência à covid.
Outro comportamento observado pela reportagem é que muitas pessoas andam sem máscara, ou com ela posicionada apenas sobre a boca ou queixo - o que não reduz a chance de transmissão -, mas colocam o acessório quando vão entrar em algum espaço fechado.
A dona de casa Maria Eva, de 53 anos, já tomou três doses da vacina contra a covid e diz que nunca pegou covid. Ela é uma das pessoas que afirma que manterá o uso da máscara, independentemente do que a lei exige.
“Prefiro ficar de máscara, acho mais seguro. Concordo com o município de manter o uso da máscara em alguns lugares, acho que ela tem que ficar mais uns dias. Acho que se liberar o uso, vai voltar tudo de novo.”
O povo não se cuida e abusa. Eu já me acostumei com a máscara, para mim, é como se fosse celular - tem que carregar, já faz parte da gente. Temos que ver o que é melhor para nossa saúde."
Por outro lado, a professora e motorista de aplicativo Daniela Urquize, de 41 anos, que tomou dose de Janssen e ainda não buscou reforço, avalia que a decisão de retirar a exigência vai ser benéfica, já que se incomoda muito com o acessório.
Ela teve covid no começo da pandemia, em 2020, e sentiu sintomas menos graves da doença, tais como perda do olfato e paladar.
“Eu procuro usar, mas confesso que incomoda bastante. Sou motorista de aplicativo e tem dias em que passo mal com o calor. Procuro usar onde exige. [...] No carro, eu uso, a maioria dos passageiros usam, mas os que não usam, eu não obrigo, até porque me sinto incomodada com este calor."
A cabeleireira e divulgadora Juliely Spiller, de 31 anos, tomou as três doses da vacina e, até onde sabe, nunca pegou a doença. Ela também é do time que apoia a desobrigação, já que muitas pessoas estão vacinadas.
De acordo com dados da SES (Secretaria Estadual de Saúde), cerca de três a cada quatro sul-mato-grossenses estão com o primeiro ciclo vacinal completo. No entanto, quase dois terços ainda não buscou o imunizante de reforço, que mantém a proteção por mais tempo e mais eficaz contra novas variantes.
Esse calor sufoca muito a gente com a máscara, acho que já deu. Os ônibus estão lotados, shows e festas aglomeradas”, opina Juliely.
O cabeleireiro Edilon da Silva, de 45 anos, também está com o reforço em dia, mas no ano passado, quando a imunização caminhava a passos lentos, ele contraiu a doença e ficou internado por 10 dias.
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“Já tive covid e sei como é ficar internado. Acho que, pelo menos até o meio do ano, deveriam manter, até que mais pessoas estejam vacinadas, porque eu acho que muita gente vai voltar a pegar se liberar totalmente o uso.”
“Estamos tendo uma pandemia ainda, há muita transmissão do vírus, e acho que não é o momento de tirar esse item. As pessoas têm que entender que é uma coisa que vamos ter de usar por muito tempo e mesmo que ela seja liberada, eu vou continuar usando."
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Máscaras - O primeiro decreto municipal obrigando o item foi feito em 18 de junho de 2020, há quase dois anos. De lá para cá, muita coisa mudou, mas a exigência sempre se manteve, ao menos no papel.
Nesta semana, voltaram as discussões sobre a obrigatoriedade máscara em vários lugares do País. A cidade do Rio de Janeiro foi a primeira capital brasileira a tirar a regra em qualquer tipo de ambiente, muito em função da redução no número de casos da doença.
Recentemente, a variante Ômicron, que surgiu fora do Brasil, provocou mudança no cenário da doença, já que fez o Estado registrar recorde de infecções - há algumas semanas, confirmava-se quase 3 mil infecções a cada 24 horas.
Mesmo assim, o aumento da cobertura vacinal fez reduzir a letalidade do vírus - em janeiro, foi a menor de toda a pandemia e, em fevereiro, mesmo com leve aumento, permaneceu inferior aos piores momentos da pandemia.
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Na prática, mais pessoas se infectam, mas menos morrem, por conta dos imunizantes. No ano passado, o titular da SES, Geraldo Resende, já defendia que as máscaras continuassem em exigidas, ou mesmo, que houvesse um uso espontâneo da população, assim como é feito em países asiáticos.
“Eu entendo que a máscara nós vamos precisar de incorporar, como nos países asiáticos, onde usam a máscara para qualquer evento gripal, qualquer infecção das vias respiratórias, para evitar a infecção dos que vivem com eles", disse, à época, ao Campo Grande News.
Para o médico infectologista Rodrigo Nascimento, a decisão de desobrigar ou não o uso desse acessório cabe somente aos órgãos de vigilância epidemiológica, que se baseiam em dados estatísticos para a oficialização, já que quando níveis de infecção beiram a zero, se tornaria opcional.
Atualmente, no entanto, o Estado tem confirmado cerca de 887 casos a cada 24 horas e aproximadamente 10 mortes por dia, confirmadas por coronavírus.
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