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Capital

Vício em cocaína livrou suspeito de matar ex da condenação por assassinar sogra

Wantuir Sonchini da Silva é principal suspeito de matar a ex, a facadas, na sexta-feira; em 2018, foi julgado por matar a mãe dela

Silvia Frias | 06/12/2020 16:38
Na foto, Wantuir com a pulseira encontrada ao lado do corpo da ex-sogra (Foto/Reprodução)
Na foto, Wantuir com a pulseira encontrada ao lado do corpo da ex-sogra (Foto/Reprodução)


“O acusado é portador de enfermidade ou deficiência mental? RESPOSTA: Sim. (...) Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de cocaína – síndrome de dependência – grau grave. Nota-se que era totalmente incapaz de entender o caráter ilícito de sua ação (...) não havia responsabilidade penal devido à alienação mental.

O laudo psiquiátrico acima foi o fator determinante para que o pedreiro Wantuir Sonchini da Silva, 43 anos, fosse considerado inimputável (isento de pena em razão de doença  mental) e absolvido da acusação de matar a ex-sogra, Alzai Bernardo Lopes, 58 anos. No lugar da prisão, a internação por período de 1 ano para tratamento e acompanhamento psicológico.

Quase dois anos depois do crime, ele é o principal suspeito de ter matado a ex-mulher, Fabiana Lopes dos Santos, filha de Alzai. Aos 38 anos, Fabiana foi assassinada com 19 golpes de faca na sexta-feira à noite (4), no Parque do Lageado.

O casamento de 18 anos foi marcado por agressões cometidas por ele. Usuário de cocaína desde 2005, diz que passou a consumir a droga todos os dias a partir de agosto de 2018, mesmo período em que passou a desconfiar que era traído, o que nunca foi comprovado.

Wantuir, no dia do julgamento pela morte de Alzai Lopes (Foto/Arquivo: Henrique Kawaminami)
Wantuir, no dia do julgamento pela morte de Alzai Lopes (Foto/Arquivo: Henrique Kawaminami)

Foi na sequência de outra briga entre os dois que o primeiro crime aconteceu, no dia 25 de dezembro de 2018.

Desde o dia 7 daquele mês, Wantuir e Fabiana estavam separados, depois de briga em que ele a agrediu com soco no rosto. Assustada e grávida de 5 meses, saiu de casa, levando a filha de 12 anos.

Ele fugiu, voltou para casa dois dias depois, entrou em contato com a mulher, que dizia querer a separação. Fabiana já havia procurado a Polícia Civil e pedido medida protetiva contra ele, sendo que a prisão preventiva foi decretada.

O pedreiro mandava ameaças, via WhatsApp para Fabiana e outros familiares. Ela passou semanas se escondendo  na casa de parentes e, às vezes, na casa da mãe, na Moreninha II.

Segundo a denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), na manhã de 25 de dezembro, por volta das 8h10, Wantuir Sonchini foi atrás da ex, na casa de Alzai Lopes. Pulou o muro próximo da garagem, caindo na varanda e entrou na casa pela porta dos fundos.

O pedreiro foi flagrado pela ex-sogra. Na versão dele, ficou nervoso pois Alzai dizia que nunca mais veria a filha e que a garota não estava lá. Disse que os dois se empurraram e aplicou mata-leão, quando estavam no quarto. Achou que ela estava somente desacordada, procurou a filha e não a encontrou, fugindo em seguida.

Naquele mesmo dia, o corpo de Alzai foi encontrado pelo filho, Alex Lopes. Ligou para o irmão, acreditando que a mãe tivesse morrido por mal súbito. Os dois a colocaram em cima da cama e somente aí perceberam os ferimentos no pescoço e as manchas nas mãos.

A Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros foram acionados e a morte por esganadura foi atestada inicialmente, sendo comprovada posteriormente por laudo pericial. Perto do corpo, também foi encontrada uma pulseira, que Fabiana disse ser do ex.

Em depoimento prestado quando se entregou, o pedreiro disse que pegou a moto e foi até Ribas do Rio Pardo. Voltou para Campo Grande, se entregou à polícia e a prisão, antes pela agressão, foi decretada agora pelo homicídio.

Fabiana foi assassinada com 19 facadas, após discussão (Foto/Reprodução)
Fabiana foi assassinada com 19 facadas, após discussão (Foto/Reprodução)

Julgamento – No dia 14 de janeiro de 2019, o pedreiro foi denunciado por homicídio, qualificado por motivo torpe, a vingança, depois que a ex-sogra havia se recusado a dar o paradeiro da filha e da ex-mulher.

Porém, a alegação de motivo torpe foi retirada do processo, depois que a defesa alegou que não havia motivação por vingança, já que ele não teve intenção de matar a mulher, mas tirá-la do seu caminho para procurar a menina.

A defesa também se valeu de laudo psiquiátrico, de 26 de abril de 2019, que atestava a inimputabilidade de Wantuir, por conta do alto grau de dependência de cocaína. Naquela época, Fabiana acompanha de casa o desenrolar do processo: a segunda filha do casal havia nascido no dia 16 de abril.

No dia 15 de outubro daquele ano, o Conselho de Sentença, formado por 11 jurados, acatou a tese de que ele não tinha capacidade de discernir o ato criminoso, e ele recebeu a “absolvição imprópria”. O juiz determinou a internação.

Wantuir foi solto em setembro deste ano e voltou a se aproximar de Fabiana. Em novembro, ela procurou a Deam e relatou que, ao se negar a reatar o relacionamento com o assassino da mãe, começou a ser perseguida. Não quis processá-lo criminalmente, mas solicitou medidas protetivas.

No dia 4 de dezembro, após discussão com homem no Parque do Lageado, foi assassinada com 19 facadas. Deixa duas filhas, de 13 e 1 ano e 8 meses de idade. Wantuir Sonchini está foragido, sendo considerado o principal suspeito do crime.

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