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Capital

Vista grossa da segurança de MS para o “bicho” já era escandalosa na Ditadura

Mas episódios recentes sinalizam como poder da jogatina ainda ecoa na polícia

Por Aline dos Santos | 22/06/2024 08:06
Documento do SNI sobre corrupção em MS no ano de 1982. (Foto: Reprodução)
Documento do SNI sobre corrupção em MS no ano de 1982. (Foto: Reprodução)

A “vista grossa” da segurança pública de Mato Grosso do Sul à jogatina não escapou dos “olhos” do SNI (Serviço Nacional de Informação), o órgão de espionagem na Ditadura Militar.

Relatório de 23 de abril de 1982 menciona acordo do titular da pasta de Segurança Pública para a livre instalação das bancas do jogo do bicho em Campo Grande, desde que tomadas as necessárias medidas para evitar uma possível denúncia do fato pela imprensa. Na década de 80, era destacado o nome de Jamil Name (já falecido), que foi alvo da operação Omertà, numa investigação que incluiu repressão à jogatina.

“O procedimento escandaloso das autoridades responsáveis pela Segurança Pública no estado de Mato Grosso do Sul, particularmente na área de Campo Grande/MS está fazendo com que essa atividade caia no total descrédito da opinião pública, gerando desconfiança e insegurança no seio da população e refletindo-se de forma altamente negativa no respeito pela administração pública, estadual e federal. Entre os diversos motivos que gerarem essa situação, destacam-se a conivência da cúpula policial com reconhecidos contrabandistas e a ostensiva participação de policiais na exploração e proteção de casas de tavolagem”, detalha relatório de 28 de julho de 1982.

Na sequência, o texto aponta que o comentário era de que das últimas cinco nomeações para localidades situadas na fronteira com o Paraguai, quatro teriam tido indicação de Fahd Jamil. Depois de 40 anos, o “Rei da Fronteira” também foi alvo da operação Omertà.

Em 15 de março de 1983, quando trocou a cúpula da segurança estadual, foram presos na Capital 16 apontadores do jogo do bicho.

Passado presente - Em 2019, abordagem que teria deixado Flávio Correa Jamil Georges, filho do Rei da Fronteira “chateado”, aparece como pano de fundo da “dança das cadeiras” na antiga DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios) de Campo Grande, hoje DHPP (Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa).

Na ocasião das trocas sucessivas, a Polícia Civil informou que alterações foram por “interesse e necessidade da administração, voltadas ao bom atendimento da população deste Estado”. Mas áudios apreendidos na operação mostraram o "mal-estar" provocado pela ação policial, que apenas cumpria o papel de investigar o crime.

No ano de 2021, reunião com os delegados titulares de todas as delegacias de Campo Grande terminou em briga e acusações. Depois de recusar a citar nomes de investigados na reunião, a delegada Daniella Kades de Oliveira Garcia, integrante da Omertà, afirmou que “não confia na polícia”, se referindo a série de denúncias de corrupção dentro dos órgãos de segurança pública feita pela própria força-tarefa.

Na ocasião, ao Campo Grande News, ela detalhou que antes da discussão, explicou as ações policiais da “Black Cat”, quarta fase da Operação Omertà e ofereceu os dados levantados pelas equipes da força-tarefa para outra operação contra o jogo do bicho, a “Deu Zebra”, que já teve cinco fases na Capital com intuito de coibir o mercado de apostas.

Segundo Kades, o desentendimento começou quando ela se negou a falar nomes dos responsáveis pelo esquema de jogos no Estado. A delegada respondeu por “insubordinação grave em serviço” e tomou suspensão de 30 dias como punição.

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