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Capital

“Você começa a busca da onde está saindo fumaça”, diz policial em caso Marielly

Paula Maciulevicius | 14/02/2012 20:45

Sem dar declarações, Hugleice chegou mais cedo, acompanhado dos pais. Ao ser questionado ele disse “estou aqui só para acompanhar”

Hugleice quando ganhou liberdade, em setembro de 2011. (Foto: Arquivo/ João Garrigó)
Hugleice quando ganhou liberdade, em setembro de 2011. (Foto: Arquivo/ João Garrigó)

“Você começa a busca da onde está saindo fumaça”. A declaração é da investigadora da Polícia Civil Maria Campos Mendes, ouvida na tarde desta terça-feira durante audiência do caso Marielly. A policial participou da investigação junto à família desde a data do desaparecimento da jovem e relatou em detalhes como Hugleice virou protagonista na trama da morte da cunhada. Em um primeiro momento, versões contraditórias e depois nervosismo nítido do rapaz ao acompanhar de perto os passos da investigação.

A investigadora e mais duas testemunhas foram intimadas para a audiência no Forum de Campo Grande. Luzimara Medeiros do Amaral e Jeysiane Medeiros do Amaral, do convívio de Jodimar Ximenes Gomes, não compareceram e serão ouvidas em uma nova audiência na cidade de Nioaque.

Sem dar declarações, Hugleice chegou meia hora mais cedo, acompanhado dos pais. Ao ser questionado sobre o andamento das audiências, ele respondeu “estou aqui só para acompanhar”.

A única testemunha ouvida foi Maria Campos, que relatou que foi no sábado, dia 21 de maio, data do desaparecimento, que teve o primeiro contato com a família. A policial foi até a delegacia para resolver outras pendências quando se deparou com a mãe da vítima, Eliana Barbosa, a irmã, Mayara Barbosa Rodrigues, Hugleice e um advogado amigo da família. A investigadora disse que passou o próprio celular para que eles entrassem em contato ainda naquela noite, após registrar o boletim de ocorrência.

“Eu falei me liga que estou à disposição. Mas não ligaram, ele [Hugleice] pegou o meu número. Como ninguém ligou, para mim a moça foi pra casa”, observou.

Na terça-feira seguinte ao desaparecimento, Maria Campos soube do caso através do Conselho da área do Imbirussu e foi até a casa dos familiares. “Quando cheguei, me deparei com eles. O Hugleice disse eu tentei ligar várias vezes e você não atendeu. Mas ele não ligou hora nenhuma. A investigação começou aí. Ele finge que fala a verdade e a Polícia finge que acredita”, contou.

Em seguida a investigadora passou a narrar as versões contraditórias que o cunhado declarava. Uma delas sobre onde ele estava na tarde do desaparecimento. “Ele dizia que permanecia no apartamento, sendo que já tinha a informação de que ele não estava. Deixei ele nervoso com a minha presença e da minha equipe”, disse.

Questionada pelo Ministério Público sobre como soube da gravidez de Marielly, a policial disse que estava junto da família na casa da jovem tomando chimarrão, quando elas foram olhar o quarto de Marielly, para ver se achavam um bilhete ou algo que revelasse o paradeiro dela.

Segundo a policial, elas acharam em uma caixinha dentro do guarda-roupa o resultado da gravidez, acusando positivo, do dia 28 de fevereiro, um pouco de “buchinha” uma planta considerada abortiva e algumas caixas de analgésicos.

Nisso a reação da mãe de Marielly chamou a atenção. “Ela pediu para que não falasse nada sobre a gravidez, porque o pessoal não ia acreditar. Mas eu disse não. Não pode, tem que falar para a Polícia”, argumentou.

Desconfiança em Hugleice - O Ministério Público questionou a testemunha sobre como a desconfiança de um relacionamento caiu sobre o cunhado de Marielly. A resposta foi: por relatos de familiares que contaram à policial, brigas entre Hugleice e a irmã e que havia um “obstáculo” entre eles.

“Ele vigiava todos os passos da cunhada. E ficou bem nítido que ele era o pai pelo que acompanhei dos telefonemas. Foram 18 ligações entre eles e num espaço curto de tempo”, comentou.

Ainda segundo Maria Campos, ao ouvir os colegas de trabalho de Marielly os depoimentos reforçavam cada vez mais o envolvimento de Hugleice no desaparecimento. “No escritório ela sempre estava nervosa ao telefone. Brigava, mandava cuidar da família dele”, conta.

Outra situação onde ficou nítido o nervosismo de Hugleice foi em um sábado a noite, quando colegas de Marielly, alguns de Alto Taquari, no Mato Grosso, estavam reunidos no apartamento da mãe da jovem para fazer panfletagem durante a noite na Capital.

“Ele queria saber o que eu sabia. Nessa noite ele começou a dificultar o contato com a Eliane. Eu tinha que ir para Sidrolândia e disse que não poderia acompanhar. Ele estava nitidamente nervoso. Ele respirava e falava pô Maria, você sabe de alguma coisa”, fala.

Nos dias que se passaram, segundo depoimento de Maria Campos, a mãe de Marielly já não atendia mais às ligações. “Eu perguntava era ele quem respondia. Eu ligava ele atendia e dizia que ela estava chorando, no banho ou dormindo. Com 26 anos de Polícia você começa a prestar atenção nas pessoas”, diz.

Corpo encontrado - Depois que o corpo de Marielly foi encontrado em um canavial na região de Sidrolândia no dia 11 de junho, o comportamento de Hugleice passou a ser de evitar a policial. Segundo relato dela na audiência, ele chegou a dizer no IML “Maria campos está no meu pé, preciso sair daqui”, no dia em que o corpo chegou a Campo Grande.

No mesmo dia, a policial havia pedido à família um chinelo de Eliana para comparar com o que foi encontrado no canavial. Os pares tanto de Marielly como o da mãe tinham um detalhe em comum.

Ainda no IML, quando Maria Campos chegou, Hugleice foi embora. Por telefone, conforme a policial, ele deu a justificativa de que precisava ir porque o sogro estava passando mal. “Ele mal olhou para o corpo e disse que não é não”.

Outro ponto destacado pela testemunha foi a reação da mãe durante a investigação. “Ela dizia, doa a quem doer, quero que você descubra o que aconteceu com a minha filha. Custe o que custar”, comenta Maria Campos.

Para a policial, este relato e o fato de no início da descoberta, a mãe querer esconder a gravidez chamou a atenção. “A Marielly não tinha motivo de esconder uma gravidez desse jeito. Ela recebia pensão, estava na faculdade, trabalhava”, afirma a investigadora.

Entre os questionamentos da Defesa de Hugleice, o advogado José Roberto Rodrigues da Rosa perguntou se a investigadora estava efetivamente autorizada a participar da investigação, já que não é lotada na Delegacia Especializada de Homicídios, que conduzia o inquérito. A policial afirmou que sim, o tempo todo.

“É comum participar e eu estava desde a hora que meu superior autorizou. Eu sou policial em âmbito nacional”, respondeu.

O segundo questionamento foi quanto ao modo de trabalho de Maria Campos, já que em muitos trechos do depoimento ela dizia que tomava chimarrão com a família de Marielly. “É de praxe infiltrar, viver o momento da família. Porque ela nem sempre diz tudo o que precisa saber”.

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