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Cidades

Duplicação realiza sonho, mas não ameniza a dor das tragédias da 163

Filipe Prado | 08/08/2014 10:03
Anari perdeu a amiga com 32 anos de amizade em um acidente na BR-163 (Foto: Marcelo Victor)
Anari perdeu a amiga com 32 anos de amizade em um acidente na BR-163 (Foto: Marcelo Victor)

As obras já começaram para concretizar o sonho da duplicação da BR-163, mas não vão apagar a dor de quem perdeu um filho e um amigo na estrada estratégica, mas conhecida como "Rodovia da Morte" em Mato Grosso do Sul. As marcas das tragédias continuam estampadas no rosto de quem sofreu a perda de um ente querido.

A morte pode não ser muito recente, mas a dor ainda está estampada em Terezinha Batista, ex-vice prefeita de Caarapó. Em 2009 o filho, o bioquímico Marcelo da Silva Batista, 28 anos, morreu após se chocar contra um ônibus durante uma curva.

Como é o único caminho, Terezinha percorre a BR-163, sentido Dourados, sempre. Ao passar pelos local da morte, ainda não consegue conter as lágrimas. “É morte atrás de morte. Isso gera muito sofrimento e não é somente o meu”, relembra.

Terezinha caracterizou a rodovia como uma “cidade grande”, pela quantidade de veículos que trafegam pelo BR. “Todos corremos riscos. Há falta de espaço para poder ultrapassar, se tivesse uma terceira faixa”, comentou.

Em agosto do ano passado, a história se repetiu, dentre tantas outras. As freiras Lucinda Moretti, 71 anos e Adelaide Furlanetto, 77, morreram em um acidente envolvendo dois carros, próximo a cidade de Juti.

A rodovia enterrou uma amizade de 32 anos. A professora Anari Felipe Nantes, 55, morava com Lucinda há alguns anos, mas se conheceram em 1981. Elas já se consideravam irmãs, tamanha a intimidade que tinham. Hoje, Anari ainda não superou a dor da partida e, sozinha, lamenta.

“Não tenho coragem de passar por aquele trecho da rodovia”, admitiu Anari. “Foi trágico, ainda muito sofrido. Ainda não consegui me recuperar do trauma”, assumiu a professora, tentando aparentar força e conter as lágrimas.

Os familiares e amigos das vítimas da "Rodovia da Morte" comemoram duplicação (Foto: Marcelo Victor)
Os familiares e amigos das vítimas da "Rodovia da Morte" comemoram duplicação (Foto: Marcelo Victor)

Ela aprovou as obras e espera que o número de acidentes diminua. “Vai fluir mais, assim evitando os acidente”, assegurou.

Como em todos os outros casos a BR-163 apagou muitos sonhos. O último foi o do jogador de futebol Everton Ribas Torres, 26 anos, que teve a perna esquerda amputada, após sofrer um acidente de moto no dia 7 de julho deste anos. Ele colidiu frontalmente com um veículo Corsa Sedan.

Atualmente Everton já está em casa, mas ainda não se recuperou do trauma. O pai do jogador, Elio Torres, o Tereré, 56, disse que ele está bem, recuperando-se muito bem, mas sempre se emociona ao falar sobre a carreira como jogador.

“Ele lamenta muito. Diz que o futebol acabou para ele. O Everton amava aquela vida, que infelizmente foi interrompida”, desabafou Tereré.

Elio tem esperanças de que a duplicação da “Rodovia da Morte”, assim chamada pelos carapoenses, diminuirá os acidentes. “Tem muitas vítimas, acidentes todos os dias, carros perdendo o controle, acho que isso deve melhor. Vai ajudar”.

Para todos os familiares das vítimas, a duplicação é um alívio, um recomeço. Como disse Terezinha, “é morte em cima de morte”. “A BR-163 precisa ser duplicada”, finalizou.

Duplicação -O número de mortes nas rodovias do Estado neste ano teve crescimento de 11% em relação ao ano passado, segundo a PRF (Polícia Rodoviária Federal). A BR-163 responde por 40% dos óbitos.

 A MSViaCCR prevê investimento de R$ 3,4 bilhões em cinco anos, concluindo a duplicação dos 806 quilômetros da rodovia até o final de 2018. Outros seis trechos serão duplicados até outubro do próximo ano.

Segundo o diretor de engenharia da MSVia, Décio de Rezende Souza, o canteiro terá nove metros e serão duas faixas de cada lado com 3,6 metros de largura. O acostamento terá mais 2,5 metros. Só no perímetro urbano, cada sentido da via será divido por uma barreira central.

Até o final de 2015, a CCR planeja duplicar 129 quilômetros. No ano seguinte, serão outros 193 quilômetros. A meta é concluir os 806 quilômetros da rodovia até o final de 2018. Também implantadas 17 bases de apoio, 505 câmeras de vigilância e 13 radares fixos.

As obras começaram este mês no trecho que liga Caarapó a Dourados (Foto: Marcelo Victor)
As obras começaram este mês no trecho que liga Caarapó a Dourados (Foto: Marcelo Victor)
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