Empresas eram abertas para burlar Fisco, falir e lavar dinheiro, aponta PF
Chamadas de operacionais, elas acumulam dívidas milionárias com a Receita Federal e irregularidades trabalhistas
Com prejuizo calculado em R$ 350 milhões e foco no setor frigorífico, a segunda fase da operação Labirinto de Creta investiga esquema em que eram abertas empresas para burlar o Fisco, com destino à falência e lavagem de dinheiro.
Chamadas de operacionais, elas tinham ligação com as empresas “mães”. Mas enquanto as matrizes não cometiam irregularidades, as empresas operacionais acumulavam problemas: dívidas milionárias com a Receita Federal e irregularidades trabalhistas.
Quando as dívidas se avolumavam, as empresas operacionais eram descapitalizadas. Ou seja, ficavam em nome de um dono sem patrimônio. Em contraponto, recursos e cartela de clientes eram transferidos para um nova empresa, caracterizando lavagem de dinheiro.
Sem citar nomes, o delegado regional de Combate ao Crime Organizado da PF (Polícia Federal), Cleo Mazzotti, afirma que são quatro empresas “mães”. As operacionais prestavam serviços para elas, como descarte de restos de bovinos. As empresas operacionais seriam de parentes dos donos das empresas regularizadas.
Contudo, a situação dos “laranjas” será investigada num segundo momento, para identificar se as pessoas tinham ciência do uso do nome.
Segundo o delegado adjunto da Receita Federal, Henry Tamashiro de Oliveira, a força-tarefa com a PF e MPF (Ministério Público Federal) permitiu identificar a ligação das pequenas empresas com as matrizes.
Durante entrevista coletiva, foi destacado que a investigação acontece desde 2011 e que não há relação com as denúncias da JBS, que informou fraudes na concessão de benefícios fiscais, e nem com a qualidade dos produtos fornecidos por frigoríficos.
Ao menos dez investigados vão responder por crimes contra ordem tributária, falsidade ideológica, estelionato qualificado, lavagem de dinheiro, organização criminosa e sonegação previdenciária
Em caso de condenação, a pena chega a 38 anos. Participam da operação, 100 policiais federais, 18 auditores fiscais e 14 analistas da Receita Federal.
Frigolop - Nesta sexta-feira (dia 28), foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Terenos e São Paulo. As ordens são do juiz Odilon Oliveira, da 3ª Vara da Justiça Federal. As equipes estiveram na casa e frigorífico de José Carlos Lopes, dono do Frigolop.
A operação também se destacou pelo luxo das apreensões: dois Porsches, televisão avaliada em R$ 89 mil e uma adega que vale R$ 700 mil. Dentro de uma Bíblia, ao lado do capítulo 12 de Eclesiastes, foram encontradas dezenas de cédulas de R$ 50.
“Vamos tomar conhecimento do pedido do Ministério Público Federal, da decisão da 3ª Vara e dos documentos da investigação para avaliar a melhor medida”, afirma o advogado José Belga Trad, que atua na defesa do empresário, conhecido como Zeca Lopes.
Em Campo Grande, as equipes da Polícia Federal ainda foram ao residencial Dahma 1, escritório de advocacia no Parque dos Poderes, edifício comercial na Afonso Pena e no residencial Bandeirantes, no bairro Amambaí.
A primeira fase da operação ocorreu em 2014, quando o foco foi outro grupo empresarial, também no ramo frigorifico. Um dos envolvidos foi condenado a 5 anos e oito meses de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro. Labirinto de Creta era onde vivia o Minotauro, figura mitológica com corpo de homem e cabeça de touro.