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Cidades

Hospital apela a termo para alertar pacientes sobre golpe do falso médico

Luana Rodrigues | 30/08/2015 09:46
Rapaz fez dois depósitos e ligou várias vezes para o médico (Foto: Luana Rodrigues)
Rapaz fez dois depósitos e ligou várias vezes para o médico (Foto: Luana Rodrigues)

Comum e já conhecido no Brasil, o golpe do falso médico tem feito vítimas em Campo Grande. Só neste mês, três famílias caíram no golpe do estelionatário, que se passa pelo médico de pacientes que acabaram de passar por cirurgias. Ele liga para os quartos das vítimas solicitando depósitos em dinheiro para compra de remédios. Com tantos casos, um hospital da Capital vem adotando uma medida para alertar pacientes e familiares sobre o crime. É um termo que torna a pessoa ciente do golpe e também exime o hospital de qualquer responsabilidade, caso algum paciente internado seja vítima.

O primeiro caso na Capital ocorreu no dia 3 de agosto. Uma mulher de 49 anos estava com o filho internado no Hospital El Kadri, quando uma pessoa ligou se passando pelo médico dele e dizendo precisava que ela depositasse uma quantidade de dinheiro para pagar alguns medicamentos que não tinham no hospital. A mulher depositou primeiro a quantia de R$ 670,00 e depois mais R$ 480,00 e só percebeu que se tratava de um golpe, quando falou com o médico do filho pessoalmente.

O segundo caso também foi no início deste mês. Um dona de casa de 46 anos havia acabado de sair do centro de cirúrgico, quando recebeu a ligação, ainda no quarto da ala A do hospital Adventista do Pênfigo, em Campo Grande. No telefonema, o médico, muito solícito, queria saber como ela estava após a cirurgia e depois pediu para falar com "alguém responsável".

Foi o filho da paciente, de 26 anos, que atendeu o telefonema, e cerca de 10 outros que culminaram na perda de R$ 1.223,50 em um golpe. "Eu não baixo a guarda nunca, me sinto esclarecido quando a esse tipo de golpe, mas a forma como eles nos envolvem é prova de que se trata de uma quadrilha especializada, profissional mesmo", contou o rapaz.

Em contato com o hospital, ainda na esperança de saber que se tratava de um engano, o jovem foi informado que o pai havia assinado um documento em que o exime o hospital de qualquer responsabilidade sobre casos como este. "Como o hospital sabe que uma quadrilha está agindo por meio deles e não faz nada. Me senti abandonado pela instituição que eu acreditava ser estritamente competente. Para mim eles deveriam pelo menos ter prestado algum apoio", lamentou.

Já no terceiro caso ocorreu na tarde desta terça-feira(25), uma mulher de 52 anos estava com o filho internado, ele também havia acabado de passar por uma cirurgia, quando ela recebeu o telefonema, supostamente do médico dele, solicitando o depósito em dinheiro. A mulher depositou R$ 1.857, e só percebeu que se tratava de um golpe quando conversou pessoalmente com o médico verdadeiro. O caso ocorreu no hospital da Unimed, no bairro Carandá Bosque, em Campo Grande.

Hospitais lamentam - O Campo Grande News entrou em contato com os três hospital, apenas o El Kadri não quis comentar o caso. No Hospital Adventista do Pênfigo, a gerente administrativa Roseli Azevedo, lamentou o ocorrido e esclareceu que nenhum pagamento deve ser realizado de outra forma, a não ser diretamente no hospital.

A gerente explicou ainda, que como os casos se tornaram frequentes, o hospital criou um "Termo de ciência", ao assinar o documento, o paciente é orientado sobre o golpe e o hospital é eximido de qualquer responsabilidade, caso, mesmo assim, o paciente se torne uma vítima. "Nós pedíamos para os pacientes ficarem espertos, orientávamos, mas mesmo assim continuávamos tendo problema, depois de tantas ocorrências, consultamos o setor jurídico e criamos o termo", contou a gerente.

Questionada sobre qualquer procedimento de investigação interno, a gerente disse que o hospital não realiza nada. "Estamos sempre dispostos a colaborar com a polícia e orientamos aos pacientes a denunciarem todos os casos", afirmou.

Já o Hospital da Unimed informou por meio da assessoria de imprensa que constantemente alerta todos os pacientes e seus acompanhantes sobre possível abordagem de pessoas má intencionadas, reforçando que o hospital não efetua cobranças por telefone. Além disso, a instituição disse que também orienta pacientes e seus acompanhantes a esclarecerem solicitações em nome de médicos, antes de efetuarem qualquer depósito.

Ainda conforme a Unimed Campo Grande, todas as medidas possíveis estão sendo tomadas para evitar que casos de estelionato tenham êxito.

Investigação - A Polícia Civil informou que está investigando os casos, um dos supeitos - conforme o delegado titular da 1ª Delegacia da PC, Miguel Said - é Valfrido Gonzales Filho, 36. Ele está preso desde agosto de 2012, e já é conhecido em todo Brasil por transformar a cela do presídio em um “escritório” e, apenas com um telefone celular em mãos, fazer vítimas também em São Paulo e no Paraná. "Foi instaurado inquérito e pelo 'modus operandi', ele é o principal suspeito", explicou o delegado.

No início deste mês, Valfrido foi condenado a 1 ano e 6 meses de prisão, pelo juiz Olivar Augusto Roberti Coneglian, da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, por aplicar os mais diversos golpes em Campo Grande, São Paulo e Paraná, passando-se por médico, advogado, delegado, desembargador, supervisor de hospitais, padre, pastor e até vereador. Esta foi a terceira vez que o criminoso é condenado pela justiça.

Na decisão, o juiz ressaltou que "não pairam dúvidas de que a criminalidade tornou-se seu [de Valfrido] meio de subsistência. Nesse sentido, o denunciado Valfrido Gonzales Filho confirmou, por ocasião de seu interrogatório, que se vale de 'golpes' para quitar seus débitos, contas e despesas".

Cara de pau- Com uma lábia impressionante, em entrevista ao Campo Grande News em 2012, Valfrido se propôs a simular a maneira como aplicava os golpes. Se gabando das vítimas que fez, disse que pegava dinheiro somente de pessoas com estabilidade financeira.“Eu respeito muito, são pessoas muito bondosas, amáveis, que ajudam quem realmente necessitam e eu preciso delas”. Ele disse ainda que conseguiu R$ 30 mil do prefeito da cidade Limeira (SP) ao se passar por desembargador.

O estelionatário disse que gosta de se passar por padre e pastor. Maneira mais fácil de conseguir enganar as pessoas. Rindo, disse que já “ganhei muito dinheiro se passando por Dom Vitório”. "Meus crimes são todos premeditados, se não eu não ganho”, acrescentou dizendo que aplicou o dinheiro que já conseguiu com os golpes e que gastou parte com viagens e roupas.

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